Orientação nutricional pode ajudar portadoras da síndrome de Turner

A partir da avaliação de 35 portadoras da síndrome de Turner, a nutricionista Liliane Viana Pires constatou que o estado nutricional das pacientes avaliadas está comprometido quanto a quantidade dos minerais zinco e selênio no organismo. A pesquisadora também constatou que a maior parte delas se encontrava com sobrepeso e com um elevado percentual de gordura corporal, em especial as adultas.

A síndrome de Turner é uma doença genética que acomete apenas mulheres. Elas apresentam baixa estatura, não têm amadurecimento sexual espontâneo (não desenvolvem mamas, pêlos pubianos e não menstruam) e apresentam uma tendência a problemas como diabetes, resistência à insulina, doenças cardiovasculares, da tireóide e à obesidade. As participantes faziam uso de hormônio do crescimento/hGH (crianças e algumas adolescentes) e de estrógeno (as adultas e algumas adolescentes).

“Uma dieta adequada em micronutrientes pode reduzir os riscos ligados às doenças associadas à síndrome de Turner”, aponta a pesquisadora. “Por isso, sugerimos a inclusão de profissionais de nutrição na equipe multidisciplinar que faz o acompanhamento das portadoras da síndrome”, afirma. Liliane pesquisou o tema em seu mestrado, apresentado no último dia 23 de junho na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP. A professora Sílvia Cozzolino, da FCF, foi a orientadora do trabalho.

A nutricionista avaliou o estado nutricional de zinco e selênio em 9 crianças (de 4 a 9 anos), 19 adolescentes (de 10 a 19 anos) e 7 adultas (acima de 19 anos) com síndrome de Turner, que passaram por uma avaliação dos minerais no sangue (plasma e células vermelhas), na urina, nas unhas e na dieta. Todas eram moradoras do estado de São Paulo.

“A análise dos minerais no plasma indica uma ingestão recente desses nutrientes na dieta; nas células vermelhas representa uma ingestão desses minerais em um prazo mais longo, de aproximadamente 120 dias; já a avaliaçao dos minerais na urina é um reflexo da ingestão recente, sinalizando um mecanismo de controle (eliminação ou retenção do mineral) do organismo; e as unhas são indicadores de longo prazo da quantidade de selênio (mais de seis meses)”, explica.

Importância para o organismo
Liliane explica que o zinco e o selênio exercem um papel fundamental na estrutura de algumas enzimas ligadas ao sistema de defesa antioxidante do organismo. Como por exemplo, a enzima superóxido dismutase, que necessecita de zinco para a sua síntese; e a glutationa peroxidase, uma enzima dependente de selênio.

“Além disso, é válido lembrar que as portadoras da síndrome de Turner avaliadas faziam uso de estrogênio e do hGH. Há vários estudos que enfocam o papel do zinco na ligação dos hormônios com os seus receptores, mostrando a importância desse mineral neste processo e na promoção do crescimento e desenvolvimento”, destaca a nutricionista.

As principais fontes de zinco são as carnes vermelhas, os frutos do mar, os tubérculos e, em menor quantidade, frutas e hortaliças. Quanto ao selênio, a principal fonte é a castanha-do-brasil, popularmente conhecida como castanha-do-pará. “Os alimentos produzidos nos estados do Norte e do Nordeste brasileiro apresentam uma concentração maior de selênio, pois os solos desses locais são mais ricos nesse mineral, em relação aos produzidos nas outras regiões do país”, esclarece a pesquisadora.

“Existe a hipótese de que a suplementação alimentar desses minerais pode melhorar a ação do hormônio do crescimento e também diminuir os riscos em relação às doenças associadas à sindrome, como as cardiovasculares e da tireóide. Porém, serão necessários mais estudos que possam confirmar essa hipótese”, pondera a pesquisadora. Como sugestão para outras pesquisas sobre o tema, Liliane sugere estudos com cada um dos minerais enfocando as doenças associadas isoladamente.

Análises
Na análise do plasma, foi observada a deficiência de zinco em 22,2% das crianças, 68,4% das adolescentes e 14,3% das adultas. Nas células vermelhas, a porcentagem de deficiência deste mineral foi de 66,7% das crianças, 57,9% das adolescentes e 28,6% das adultas. Na análise da urina, foi observado que um elevado percentual das crianças (55,6%), adolescentes (57,9%) e adultas (66,7%) estava eliminando baixas quantidades de zinco. “Esses resultados sinalizam que a avaliação do estado nutricional relativo ao zinco das participantes desse estudo se encontrava abaixo da normalidade. Isso demonstra que o organismo está tentando minimizar a perda de zinco para que a concentração desse mineral no sangue e nos outros tecidos ainda seja capaz de exercer as suas funções orgânicas”, esclarece a nutricionista.

Em relação à avaliação do estado nutricional relativo ao selênio, foi observado que esse mineral também se encontrava em baixas concentrações: no plasma, em 77,8 % das crianças, 78,9% das adolescentes e 85,7% das adultas. Nas células vermelhas, em 55,6% das crianças, 52,6% das adolescentes e 57,1% das adultas. Na urina, em 100% das crianças e das adultas e em 94,7% das adolescentes. E nas unhas, em 100% das crianças, 93,8% das adolescentes e 66,7% das adultas.

A pesquisa teve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Mais informações: (11) 3091-3625, (11) 8518-6420 ou e-mail lvpires@usp.br

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