Na segunda-feira, 7 de abril, comemorou-se o Dia Mundial da Saúde. Em 2014, a Organização Mundial da Saúde (OMS) destacou como tema central as doenças transmitidas por vetores. Com o slogan ‘Pequenas picadas, grandes ameaças‘, a OMS alerta para as doenças causadas pelos organismos que transportam vírus, parasitos e bactérias. “Devemos estar atentos ao movimento de emergência de novos padrões. Tratamos de agentes biológicos que estão em processo de evolução e adaptação às condições que nós criamos. E chamamos isso de antropização”, comentou o pesquisador da ENSP Paulo Sabroza.
Segundo o informe da Organização Pan-americana de Saúde (Opas) para a data, as doenças de transmissão vetorial são responsáveis por uma alta carga de morbidade e mortalidade especialmente nos países mais pobres, causando ausência escolar, aumento da pobreza, diminuição da produtividade econômica e sobrecarga dos sistemas de saúde. Na Região das Américas, ainda de acordo com o texto, as doenças transmitidas por vetores de maior importância epidemiológica são a malária, dengue, doença de chagas, leishmaniose, filariose linfática, esquistossomose e tracoma.
Epidemiologista e especialista em vetores, Paulo Sabroza lembra que a malária continua como a principal doença no mundo pela sua frequência e pelos casos de mortalidade. Em 2012, a doença causou 627 mil mortes, com um total de 207 milhões de infectados. No Brasil, porém, a situação é diferente. “Não consideramos a malária como principal causa de adoecimento e morte no Brasil, embora ela tenha importância em algumas partes da Amazônia. A situação de 20 anos pra cá mudou bastante no país e o principal problema de saúde no campo das doenças transmitidas por vetor é a dengue. Não em termos de morte, mas em relação ao número de casos e ao desenvolvimento de processos epidêmicos”, disse.
Em 2013, o Ministério da Saúde registrou 1,4 milhão de casos prováveis de dengue. De acordo com o pesquisador, a epidemicidade e a abrangência dos casos contribuíram para isso. “A dengue pode acontecer em todas as áreas do pais e atingir, nunca com igual frequência, incidência ou probabilidade, os diferentes grupos sociais. Por outro lado, as outras doenças transmitidas por vetores costumam ser regionais, não são tão universalizadas. Não diria que a dengue é mais importante em relação a causa de morte e incapacidade, mas é a que tem maior visibilidade. Por sua epidemicidade, pela sua difusão em todo o território e por atingir de forma diferenciada os diversos grupos sociais”.
Sabroza afirma que é difícil estabelecer um ranking mundial das doenças pelas diferentes formas de os vetores se adaptarem aos ecossistemas. No Brasil, entretanto, após a dengue, ele aponta a leishmaniose visceral e a malária como os mais importantes.
“A leishmaniose está na casa dos milhares de casos e a dengue na das centenas de milhares. São duas escalas diferentes, mas a leishmaniose tem aumentado a sua difusão. Há 30 anos só havia casos da doença nos bolsões de miséria no nordeste, e hoje ela acontece de Roraima ao Rio Grande do Sul. Há, portanto, um movimento de emergência de novos padrões. Não se trata de novos parasitas, mas da sua adaptação. Tratamos de agentes biológicos que estão em processo de evolução e adequação às condições que nós criamos. E chamamos isso de antropização. Se a leishmaniose só existia nos bolsões de miséria do nordeste e a febre amarela só existia na Amazônia, hoje não e mais assim. O mais preocupa são as doenças que passam do padrão de zoonoses silvestres para um próximo das adaptações humanas. Existem muitos parasitas que podem vir a se adequar às novas condições de transmissão”, disse o pesquisador.