O estudo analisou habilidades necessárias ao aprendizado de crianças entre 8 e 12 anos, além de seus níveis de leitura e escrita
Pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP mostra que a presença de obesidade infantil pode ter influência em algumas das habilidades cognitivas necessárias ao aprendizado. Já a prática de atividades físicas está entre os fatores que protegem a cognição das crianças.
O estudo da fonoaudióloga Patrícia Aparecida Zuanetti analisou habilidades importantes para o aprendizado de crianças, além de seus níveis de leitura e escrita. Entre as verificadas, estão memória de trabalho fonológica, consciência fonológica, atenção focada e flexibilidade cognitiva e a nomeação automática rápida.
Entre as crianças estudadas, a obesidade teve influência em habilidades específicas. “Por exemplo, ela influenciou negativamente, ou seja, trouxe um prejuízo nas tarefas de flexibilidade cognitiva, que é a capacidade de alternar entre estímulos diferentes”. Ao mesmo tempo, ela auxiliou positivamente a tarefa de memória fonológica. “Possivelmente isso acontece porque, apesar de ser uma tarefa que avalia a memória fonológica de curto prazo, ela necessita de uma atenção focada em somente um estímulo, demonstrando que em atividades de atenção focada ou atenção simples, essas crianças apresentam bom desempenho. No entanto, quando é necessário alternar a atenção – flexibilidade cognitiva – a capacidade de resolver tarefas decai”.
A fonoaudióloga ressalta, porém, que o adequado desenvolvimento da linguagem escrita é dependente de diversos fatores nutricionais, orgânicos, genéticos e da estimulação ambiental. “Recomenda-se que as dificuldades de aprendizagem sejam detectadas o mais cedo possível, para que possa haver uma intervenção adequada”, enfatiza.
A intervenção pode se basear na estimulação específica de habilidades alteradas, como por exemplo, terapia fonoaudiológica. “Também é importante orientar pais e professores sobre como estimular a capacidade linguística da criança, e para a prática de atividade física, entre outras”, afirma a pesquisadora. “A atividade física é considerada um fator protetor da cognição pois permite uma melhora da oxigenação do cérebro e provoca outras alterações fisiológicas que promovem melhora das habilidades cognitivas”, destaca.
Habilidades
A memória de trabalho fonológica, explica a pesquisadora, “é um tipo de memória de curto prazo responsável por armazenar os estímulos verbais enquanto se realiza uma tarefa cognitiva, como por exemplo, guardar um número de telefone até conseguir ligar para alguém”. Na realização do teste de memória fonológica, as crianças precisaram repetir sequências de números e palavras sem significado.
A consciência fonológica é a habilidade de refletir a respeito dos sons da fala, observando que, de acordo com a manipulação destes sons, pode-se formar palavras diferentes. “Por exemplo, ‘dente’ e ‘pente’ rimam, e como terminam sonoramente iguais, o final dessas palavras também deve ser escrito de forma igual”. Na avaliação desta habilidade, as crianças realizaram tarefas de reconhecimento de rimas, de percepção de fonema inicial e final das palavras ouvidas, entre outras.
Foi analisada ainda a flexibilidade cognitiva, que é a capacidade em alternar entre dois estímulos, conseguindo focar a atenção em ambos e utilizar cada habilidade de acordo com o necessário; no teste, as crianças tinham de ligar números e letras em ordem alfabética e numérica de modo alternado.
Também fizeram parte dos testes a atenção focada, que é a capacidade de manter o foco em somente um único estímulo, seja este auditivo, visual ou de outra natureza; e a nomeação automática rápida, relacionada à velocidade de processamento – o tempo que uma pessoa leva para realizar a tarefa de nomear estímulos visuais.
O estudo aplicou testes validados e padronizados para a população brasileira. “Além das habilidades abordadas nesta pesquisa, os testes avaliaram a capacidade de leitura e escrita das crianças”, aponta a fonoaudióloga.
Todas as crianças analisadas tinham entre 8 e 12 anos de idade, 14 delas com diagnóstico de obesidade. “Esta condição era presente desde a primeira infância e elas continuavam obesas, mesmo com seguimento médico e orientação nutricional, oferecidas por um ambulatório específico de obesidade infantil”, relata Patrícia. O outro grupo tinha 28 crianças eutróficas, ou seja, que não apresentavam obesidade, vindas de escolas municipais.
A pesquisa foi orientada pela professora Marisa Tomoe Hebihara Fukuda, da FMRP.
Mais informações: email pati_zua@yahoo.com.br, com Patrícia Aparecida Zuanetti