O preocupante cenário da obesidade infantil

A máxima antiga que dizia que criança gordinha é criança saudável já não é mais uma verdade. Enquanto os índices mostram a redução da desnutrição no Brasil, o número de crianças acima do peso vem aumentando. Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, o último material realizado pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde, uma em cada três crianças de 5 a 9 anos está acima do peso recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Já o déficit de altura (importante indicador de desnutrição) caiu de 29,3% (1974-75) em para 7,2% (2008-09).

O quadro atual de excesso de peso em todo o país preocupa. Mais de 50% da população adulta que vive no Brasil está com excesso de peso, de acordo com a pesquisa Vigitel, Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, realizada pelo Ministério da Saúde em 2014.

Para combater esta preocupante situação, o SUS dispõe de grupos multidisciplinares para incentivar a mudanças de hábitos alimentares e, por consequência, a perda de peso. Confira a matéria do Blog da Saúde.

Voltado especificamente para as crianças, o município de Marília (SP) tem se destacado com o Centro de Atendimento à Obesidade Infantil de Marília (Caoim). A Drª Luciana Pfeifer, que integra a equipe do Caoim, conta sobre a gravidade da situação no município “Fizemos uma pesquisa em 2014 com 7.300 crianças de 6 a 10 anos e destas 31% estão obesas. Atribuímos isso principalmente pelo ambiente alimentar de altíssimo risco que as famílias vivem hoje. O consumo de alimentos ultraprocessados é muito alto e falta de entendimento da qualidade nutricional de cada coisa. Desta forma a criança com sobrepeso já tem mostrado inclusive alteração nos exames de sangue, como em relação ao perfil lipídico (colesterol, triglicerídios)”, explica.

A criança que cresce com sobrepeso e obesidade não tratada tem uma grande possibilidade de ser um adulto doente. A obesidade gera doenças associadas como hipertensão, diabetes e várias cardiopatias. “Atendo em média de 160 a 180 de crianças por semestre. Tenho exemplos de crianças que aos 10 anos eram cardiopatas e faziam uso de remédio para hipertensão e que depois do programa deixou o uso do medicamento. Você encontrar uma criança tão nova nesta situação é muito triste”, exemplifica Luciana.

Para contornar a situação e melhorar o futuro destas crianças, a equipe do Caiom estabelece um plano individual para cada uma. “Ela vem uma vez por semana sempre acompanhada de um maior responsável durante seis meses, pois não se muda os hábitos da criança sem mudar o da família. Quem faz a compra na casa, cozinha, oferece os alimentos para a criança é a própria família. Nós fazemos um plano de alimentação individualizado com objetivo da reeducação alimentar. Chamamos aqui de auto cuidado assistido. O foco não é apenas a perda de peso e a redução do IMC, pois ela é uma consequência da reeducação alimentar e da aquisição de novos hábitos para a qualidade de vida. Nos preocupamos muito com as taxas alteradas ainda na infância”, explica a Drª Luciana. Os resultados empolgam a equipe. Dos pacientes que completam os seis meses de atendimento, 50% têm resultados satisfatórios.

Quem tem criança em casa deve ficar atento não só à qualidade dos alimentos fornecidos, privilegiando alimentos in natura, como frutas, verduras e legumes, como com a quantidade de exercício feito por ela no dia a dia. Por exemplo, trocar uma ida ao shopping por um passeio no parque, incentivar atividades em grupo e brincadeiras como jogar bola e o famoso pique e pega e, acima de tudo, servir de exemplo para os pequenos. Afinal, se os pais não possuem hábitos saudáveis, a criança também não os terá.