Projeto “Teatro e Saúde Mental” desenvolve com pacientes oficinas e vivências com jogos teatrais pautadas na improvisação
Uma intervenção de saúde que possibilita pacientes em semi-internação para tratamento de problemas psiquiátricos serem ouvidos e tratados, levando-se em conta as dimensões complexas do ser humano, é a proposta do Grupo Teatro e Saúde Mental. O projeto é mantido pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP e compõe a série de atividades do Hospital-Dia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, uma iniciativa vinculada à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP. Composto de oficinas e vivências com jogos teatrais, por meio dele desenvolve-se atividades pautadas na improvisação, cujos atores e participantes são pacientes portadores de transtornos mentais.
O artigo de Gherardi-Donato e colaboradores, publicado na Revista de Cultura e Extensão USP, aborda tais questões com uma “perspectiva ampliada de saúde mental, em que se prioriza condições de estímulo e desenvolvimento de potencialidades e de relacionamento“, possibilitando aos pacientes “momentos de liberdade de expressão”, na medida em que as atividades teatrais propostas propiciam aos participantes sentirem-se “desprendidos de julgamentos e preconceitos” e aliviados de seus sentimentos de vergonha ou culpa. Essa terapêutica auxilia na “concentração, memória, atenção, confiança e linguagem”, capaz de possibilitar o compartilhamento de emoções, ideias e experiências em grupo que preparam para o enfrentamento do dia a dia fora do hospital.
Para os autores, o teatro é um “instrumento de promoção de mudança social, por isso, considera-se importante utilizá-lo com maior frequência nos ambientes clínico e terapêutico“, com probabilidades de transformação em todos os setores da vida do indivíduo, proporcionando a comunicação e o compartilhamento de vivências que criam e recriam significados, até então ocultos, pertinentes ao cotidiano dos indivíduos. Jogos de improvisação, por exemplo, são procedimentos lúdicos que concedem a experimentação de papéis e situações, favorecendo a catarse e a possibilidade de o indivíduo ser ele mesmo, “exercendo, dessa forma, a liberdade e a saúde mental.”
“O mundo é um palco” é a analogia dos autores para explicar o processo terapêutico com o teatro. Assim, quando “abrem-se as cortinas”, os participantes se apresentam, valendo-se de expressões corporais, para depois realizarem ” a encenação do Eu e do Nós”, ressaltando-se aí a importância da liberdade pessoal e os processos de desbloqueios interiores, sem esquecer dos ” bastidores”, em que se desenvolve a “troca de saberes e a aproximação do estudante com o portador de doença mental, culminando na valorização de ambos na sociedade“.
Teatro e Saúde Mental se mostra como um projeto que obteve resultados bem positivos, sempre visando empoderar os sujeitos como “atores de sua própria história”, auxiliando no crescimento pessoal, na superação de limites e alívio do estresse da vida moderna. Edilaine Gherardi-Donato e os outros autores salientam também o objetivo do projeto em estimular a compreensão de estudantes de enfermagem e profissionais para uma assistência transformadora, “bem como estimular o interesse de mais pesquisadores da saúde a realizarem abordagens sobre os impactos da arte nesses contextos“.
Edilaine Cristina Silva Gherardi-Donato é professora associada do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP.
Maria Neyrian de Fátima Fernandes é professora assistente da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Carla Araujo Bastos Teixeira é doutoranda em Ciências pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP.
Larissa Bessani Hidalgo Gimenez é doutoranda em Ciências pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP.
Vinícius Santos de Moraes é graduando em Fisioterapia pelo Centro Universitário Barão de Mauá (CBM).
GHERARDI-DONATO, Edilaine Cristina Silva et al. O Mundo é um Palco: Experiência de Oficinas de Teatro na Saúde Mental. Revista de Cultura e Extensão USP, São Paulo, v. 16, p. 73-83, nov. 2016. ISSN: 2316-9060. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rce/article/view/130897>. Acesso em: 26 may 2017.
Margareth Artur / Portal de Revistas da USP