Número de vítimas jovens negras aumenta 24%

Na tarde do terceiro dia (5/9) da Semana Sergio Arouca, que comemora os 59 anos da ENSP, foi realizada a roda de conversas Violência e racismo, promovida pela Articulação do Fórum da ENSP com os Movimentos Sociais. Carla Moura Lima, doutoranda da Fiocruz, abriu a conversa com dados sobre a violência contra a população de jovens negros, divulgados pelo livro Mapa da violência 2013 – Homicídios e juventude no Brasil, de Julio Jacobo Waiselfisz. De acordo com a publicação, as vítimas negras entre jovens cresceram de 11.321 (2002) para 13.405 (2011), isto é, um aumento de 24,1%. A atividade contou com a participação do historiador Fransérgio Goulart de Oliveira Silva, que trabalha há mais de dez anos em projetos voltados para jovens moradores de favelas do Rio de Janeiro, além de pesquisadores da ENSP e representantes de movimentos e entidades civis organizadaO Mapa da violência esclarece que o Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde iniciou a divulgação de seus dados em 1979, mas só em 1996 começou a oferecer informações referentes à raça/cor das vítimas, apesar dos elevados níveis de subnotificação. Até 2002, conforme informa a publicação, a cobertura dos dados de raça/cor foi deficitária. Por isso, a análise das informações ocorre a partir desse ano, quando a cobertura alcançou um patamar considerado razoável: acima de 90% dos registros de homicídio com identificação da raça/cor da vítima.

Segundo tais dados, de 2001 a 2011, morreram, vítimas de assassinatos, 203.225 jovens. Nos anos extremos, os números são muito semelhantes: pouco mais de 18 mil assassinatos. A população jovem está entre os 15 e 24 anos de idade. Nos estados e regiões que apresentam fortes quedas, como as de São Paulo e Rio de Janeiro, os números diminuem 76,2% e 44,0%, respectivamente. No Rio Grande do Norte, por exemplo, mais que quadruplica o número de vítimas juvenis. No período analisado, as estatísticas chegam a duplicar no Pará, Bahia e Maranhão.

Durante a roda de conversa, Fransérgio Goulart defendeu o rompimento com ideologias como “somos um país pacífico”, porque, na discussão sobre violência e racismo, não cabe esse pensamento. Para ele, o discurso do pacífico serve para neutralizar a luta de classes. Afirmou, ainda, ser impossível não relacionar a servidão da Polícia Militar do Rio de Janeiro à estrutura de Estado. “O próprio símbolo da PM, criada em 1809, tem ramos de café e a coroa imperial.”

Também presente, o pesquisador do Departamento de Endemias Samuel Pessoa e coordenador do Fórum de Movimentos Sociais da ENSP, Eduardo Stotz, apontou ser essencial aprofundar a relação institucional com os movimentos sociais, que expressam as contradições da sociedade. “Saúde é luta e organização. Temos a obrigação de levantar essas questões como o racismo. O enfrentamento não deve ser só curricular, mas no campo das políticas de saúde.”

Já a vice-diretora de Pós-graduação da Escola, Tatiana Wargas, considera uma contradição a entrada das Unidades de Polícia Pacificadora em territórios de favela, uma vez que o tráfico de drogas também afeta os espaços além das favelas. Ela disse ser importante a inclusão desses temas em programas de pesquisa.

Rodas de conversas

O objetivo das Rodas de Conversas é debater e refletir sobre os temas emergentes que têm mobilizado a sociedade brasileira, principalmente a partir de junho, quando foram iniciados os protestos populares. Além de uma proposta de dinâmica, as rodas são um modo de conduzir processos educativos baseados nas pedagogias libertadoras, da qual a educação popular, sistematizada por Paulo Freire, é uma das mais conhecidas. Esse tipo de atividade é considerada uma derivação dos círculos de cultura freirianos ao promover, a partir de breve intervenção inicial, um debate livre de questões, ideias e relatos entre os participantes.
Antes da roda de conversas, foi lançado o vídeo Democracia é saúde, produzido pela Vídeo Saúde Distribuidora, com a presença do diretor do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), Umberto Trigueiros, e do diretor da ENSP, Hermano Castro.

 

 

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