Um mal cardíaco, geralmente hereditário, que causa arritmia ventricular grave, desmaios e morte súbita, principalmente em recém-nascidos e crianças, já pode ser diagnosticado com mais precisão.
Cientistas do Instituto Nacional de Cardiologia, no Rio, e da UFRJ criaram novo método para investigar a síndrome do QT longo, uma alteração na parte elétrica do coração, que atinge um em cada cinco mil indivíduos. Eles descobriram uma forma de rastrear, por meio de sequenciamento de DNA, alterações em três genes responsáveis por mais de 90% dos casos.
Há três anos, os pesquisadores do Laboratório de Biologia e Diagnóstico Molecular do INC e do Laboratório de Metabolismo Macromolecular Firmino Torres de Castro, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, acompanham 40 pessoas de cinco famílias com portadores da doença e histórico familiar de morte súbita.
– Na síndrome do QT longo o coração tem estrutura normal e há famílias com mais de um caso de morte súbita na mesma geração – diz o cardiologista Fernando Cruz E. S. Filho, do Serviço de Arritmia e Eletrofisiologia Clínica do INC e coordenador da pesquisa.
As crianças com a síndrome têm episódios de desmaios e o coração pode alcançar 300 batimentos por minuto (bpm), levando à morte. Normalmente a frequência cardíaca de uma pessoa saudável varia de 60 bpm até 180 bpm durante um exercício. Relatos de morte súbita na família antes dos 30 anos, surtos de perda de consciência associadas a estresse ou exercícios ou ao despertar podem ser sinais da síndrome.
Com o estudo genético, os médicos poderão direcionar melhor o tratamento aos pacientes.
Hoje há duas opções: drogas betabloqueadoras e o implante de desfibriliador (marcapasso) cardíaco.
– Ainda não conseguimos modificar os genes para evitar a síndrome, mas sabendo onde estão as falhas podemos diminuir o efeito da mutação, com associação de drogas, por exemplo. A identificação das alterações e o acompanhamento das famílias de pessoas com QT longo são passos importantes em direção à universalização do diagnóstico e do tratamento correto – afirma Cruz, acrescentando que, por ser uma arritmia rara, alguns médicos a desconhecem e muitas vezes a confundem com epilepsia ou histeria