Segundo dados do Ministério da Saúde, apenas 80 notificações de perda auditiva relacionadas ao trabalho foram feitas em todo o território nacional em 2007. O número, de acordo com especialistas, não representa a realidade, inviabilizando, inclusive, a avaliação de políticas, planos e programas de saúde que possam subsidiar tomadas de decisões para a melhoria da saúde do trabalhador. Com o objetivo de alertar e sensibilizar os profissionais sobre a importância da notificação desse tipo de agravo, o Serviço de Audiologia Ocupacional da ENSP e o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador do Estado do Rio de Janeiro (Cerest/Sesdec-RJ) lançaram a terceira edição do Boletim Fonoaudiologia na Saúde do Trabalhador.
Elaborado pelas fonoaudiólogas Márcia Soalheiro e Lucelaine Rocha (Cesteh/ENSP) e Cláudia D’Oliveira e Fernanda Torres (Cerest/Sesdec-RJ), a terceira edição traz novas informações acerca da importância da notificação dos agravos relacionados à saúde do trabalhador, com reflexões sobre o processo de vigilância e seus objetivos.
A notificação, segundo Márcia, é a comunicação de ocorrência de determinada doença, ou agravo à saúde, feita à autoridade sanitária por profissionais de saúde ou qualquer cidadão para fins de adoção de medidas de intervenção processos e ambientes de trabalho. "A perda auditiva induzida por ruído (Pair) e a disfonia relacionadas ao processo de trabalho são dois agravos importantes, apesar de não dimensionados adequadamente. O ato de notificar pode subsidiar tomadas de decisões para a melhoria da situação de saúde da população", esclareceu.
Para exemplificar como a notificação dos agravos ainda é ineficaz, a fonoaudióloga e sua equipe citaram o Estado do Rio de Janeiro. Ao analisar dados da notificação de Pair relativos ao ano de 2007 (Sinan Net) nos 92 municípios do Rio de Janeiro, apenas um caso foi notificado. No ano seguinte (2008), foram sete. "Analisando os números, representa um aumento de 700%. No entanto, está muito longe da realidade da saúde auditiva do trabalhador", admitiu Soalheiro. Para haver a notificação, segundo ela, os profissionais precisam ser sensibilizados sobre a importância desse procedimento, bem como devem ser capacitados para realizá-lo de forma adequada. "Os profissionais devem ter a dimensão de que a notificação se trata de um instrumento relevante para auxiliar o planejamento da saúde, definir prioridades e avaliar o impacto das intervenções. Notificar é uma forma de promover vigilância em saúde do trabalhador."
Ao falar sobre o boletim, Márcia avaliou que se trata de uma forma de colaborar para dar transparência ao panorama da notificação nacional em perda auditiva relacionada ao trabalho. "Esses dados não são de simples acesso para a maior parte dos profissionais e devem ser de interesse para epidemiologistas, psicólogos, médicos, sociólogos, enfim, aos que se interessam pela saúde pública. A atuação do Serviço de Audiologia do Cesteh e do Cerest/Sesdec, por meio da divulgação da informação, via Boletim, tem sido um aliado para o melhor entendimento e enfrentamento da perda auditiva relacionada ao processo de trabalho em todo o país."
Os boletins quadrimestrais são publicados de forma impressa e digital e ficarão disponíveis na Biblioteca Multimídia da ENSP. Suas edições abordam diferentes temáticas em saúde do trabalhador sob a ótica da Fonoaudiologia, tendo por objetivo informar e orientar profissionais da saúde, buscando ampliar o olhar para o processo de saúde/doença e trabalho.