Nordeste brasileiro se destaca no ensino em Saúde Pública

Pesquisa que investiga o chamado “índice h” destaca o Nordeste no que diz respeito à pesquisa e ensino em Saúde Pública. Segundo os estudos do professor e médico Júlio Pereira e sua aluna de doutorado Bruna Bronhara, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, autores e pesquisadores da Região Nordeste do Brasil apresentam valores de índice h semelhantes aos da Região Sudeste, conhecido por sua tradição no ensino em Saúde Coletiva.

O índice h é famoso no meio científico, comumente utilizado para se fazer juízo sobre a repercussão da produção científica de um pesquisador. O número é o resultado de um cálculo que relaciona a quantidade de artigos que um profissional publicou ao número de vezes que cada trabalho foi citado por outros autores. Como esclarece Pereira, esse valor, que é uma das informações que compõe o currículo vitae de um pesquisador, é uma maneira de perceber quais são os trabalhos e autores que ganham mais atenção de seus possíveis interessados. “Porém, é um número que, como todos os outros, não é absoluto. Para decifrar o que está por trás dele, é necessário relacioná-lo a um contexto e a circunstâncias”. Nesse sentido, tratando-se do Brasil, cuja maioria dos autores não supera o índice h = 5, a Região Nordeste aparece com índices tão bons quanto os da Região Sudeste, como aponta o professor.

O estudo analisou o índice h de 934 professores de programas de pós-graduação em Saúde Pública do País, utilizando o banco de dados da Web of Science. Esses dados foram aplicados a um cálculo, cujo resultado indica a colocação de um pesquisador em ranking com 100 pesquisadores, dentro de uma das regiões brasileiras. Pereira explica: “caso um profissional com índice h = 9 esteja concorrendo com outros 99 pesquisadores, na Região Sudeste ele seria o 8º colocado no ranking”. Porém, o estudo salienta que em cada região do País, ter o índice h = 9 pode ter significados diferentes. “Por exemplo, para estar em primeiro lugar na região Sul, que é a que apresentou o melhor desempenho, é necessário ter um índice h = 24, o que é um valor muito alto, comparado com o 1º lugar das outras regiões”.

De todos os docentes estudados, 29,8% possuem h = 0, ou seja, não tem qualquer registro de citação sobre seus artigos. Segundo o professor, ao analisar esse dado, pode-se supor que possuir um índice h = 5 é um “bom número” para o Brasil, um país cuja média de índice h é 3,1. Na região Sul, o valor esperado para o índice h é 4,7, a maior média entre as regiões. Os índices da Região Centro-Oeste são os menores, com uma média de h = 2.

Nordeste alcança Sudeste
Mas o que desperta a atenção de Pereira é a similaridade entre Nordeste e Sudeste, regiões que ao longo da história se apresentaram distintas e contrastantes no que diz respeito à oportunidade de emprego, miséria, e outros indicadores socioeconômicos. Porém, tratando-se de Saúde Pública, a média de índice h dos professores do Sudeste e Nordeste são muito próximas, equivalentes a 3,6 e 3,3, respectivamente. De acordo com o médico, esse dado mostra que a região Sudeste foi alcançada pelo Nordeste nessa área do conhecimento científico. “O valor de h necessário para um pesquisador estar em 1º lugar no ranking do nordeste é muito parecido ao do sudeste, sendo 17 e 19, nesta ordem”.

Considerando essas informações, já é notório um destaque para o Nordeste, principalmente porque com um total de 200 docentes e 9 programas de pós-graduação em Saúde Coletiva chega bem próximo de superar o Sudeste, com seus 622 docentes e 18 cursos. Segundo o professor, o surpreendente está relacionado à Lei 11.540/2007. De acordo com a Lei, pelo menos 40% dos recursos destinados ao Ministério da Ciência e Tecnologia devem ser aplicados em programas de fomento à pesquisa no Norte e Nordeste do País. “Como no Nordeste já havia instituições que ensinavam mestres e doutores nessa área do conhecimento, com uma capacidade de ‘acolher’ os investimentos, sua resposta ao fomento à pesquisa tem sido significativa”, afirma Pereira. “Essa comparação surpreende as pessoas acostumadas a ouvir que o Nordeste é a terra onde só há miséria e fome”.

A análise do índice h propõe oferecer subsídios à sociedade em geral para um juízo aprimorado deste indicador, entendendo que possuir um h = 3, por exemplo, não pode significar ser bom ou ruim, caso não seja contextualizado. Pereira conclui a pesquisa afirmando que “um único número não pode fornecer mais que uma aproximação grosseira do perfil multifacetado de uma pessoa, apontando ainda que “muitos outros fatores deveriam ser considerados em combinação para avaliar um pesquisador.”

Mais informações: juliocrp@usp.br

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