As mulheres desempenham papel cada vez mais importante no mundo das ciências, reduto historicamente masculino. A inclusão feminina confere mais brilho à pesquisa e agrega talento, sensibilidade e inteligência à mais excitante das aventuras humanas, o conhecimento.
Para a grande maioria das mulheres, no entanto, a opção pela ciência como carreira é uma escolha difícil – já que o feminino engendra uma multiplicidade de papéis – e precisa ser incentivada.
Foi com essa intenção que a Rede Interamericana de Academias de Ciências (Ianas, na sigla em inglês) publicou o livro Mulheres Cientistas nas Américas, com depoimentos de 16 pesquisadoras da região a jornalistas especializados na área de ciência. Nas entrevistas elas falam sobre sonhos, carreiras, família e obstáculos que tiveram que superar em sua trajetória científica. O Brasil está representado pela geneticista Mayana Zatz.
“Queremos motivar professores a estimular seus alunos, especialmente as meninas, para as carreiras científicas, mostrando que com perseverança e dedicação elas podem alcançar seus objetivos. Dedicamos esse trabalho também às famílias, para que eles possam contar a seus filhos histórias reais de pessoas comprometidas em servir à humanidade”, explicam os editores, integrantes do Grupo Ianas Women for Science. A expectativa, eles afirmam, é aumentar a consciência entre leitores da importância do debate de questões de gênero e do papel da mulher nas ciências.
A maioria das entrevistadas é formada por cientistas renomadas, com longa carreira dedicada à pesquisa. Todas revelaram ter descoberto seu interesse pela ciência na infância. A botânica e bióloga boliviana Mônica Moraes R., diretora do Instituto de Ecologia da Universidad Mayor de San Andrés, em La Paz, conta que o fascínio por paisagens tropicais nasceu numa viagem que fez com o pai a Riberalta, no nordeste de seu país.
Algumas acreditam que as mulheres têm qualidades especiais que as distinguem dos homens: sensibilidade, paciência, persistência, intuição, entre outras.
Grace Sirju Charran, especialista em bioquímica de plantas na University of the West Indies, em Trinidad e Tobago, acredita que a participação das mulheres pode transformar a ciência de um empreendimento individualista para um empreendimento mais cooperativo e humano. Na avaliação de Mayana, as mulheres são mais intuitivas que os homens, qualidade que, associadas às do sexo masculino, permite analisar de forma construtiva diferentes ângulos de problemas específicos.
Todas as entrevistadas, sem exceção, mencionaram ter tido a carreira inspirada por cientistas reconhecidos, a maioria homens. Nesse quesito, em segundo lugar estão os membros da família. Marla Sokolwoski, pesquisadora na área de genética e neurologia da Universidade de Toronto, no Canadá, conta que seus pais, mesmo sem educação formal, estimularam os filhos a frequentar a universidade.
Na universidade, a maioria garante não ter sido discriminada. Maria Tereza Ruiz, laureada astrônoma chilena, era a única mulher a estudar astronomia na Universidade de Princeton. Como mulher e estrangeira, sentia-se “não incluída”, o que a obrigava a um esforço redobrado para integrar-se ao grupo.
Entre as 16 mulheres entrevistadas, todas, com uma exceção, são casadas – a maioria com cientistas – e têm filhos. A virologista cubana María Guadalupe Guzmán, do Instituto de Medicina Tropical e especialista em dengue, é casada com um pesquisador que atua na mesma área e teve a ajuda da mãe para cuidar do filho.
Às jovens estudantes, elas aconselham: persigam seus sonhos e ambições e trabalhem duro para se tornar as cientistas da próxima geração, sem, no entanto, abandonar experiências como a maternidade. As barreiras podem ser superadas com paciência e perseverança.
O livro Mulheres Cientistas nas Américas está disponível em: www.ianas.org/books/WOMEN_SCIENTISTS_IN_THE_AMERICAS.PDF (alta resolução) e em www.ianas.org/books/WOMEN_SCIENTISTS_IN_THE_AMERICAS_low_res.pdf (baixa resolução).