Mortes por covid: como o Peru se transformou no pais com mais mortes proporcionais na pandemia

O Peru tem a maior taxa de óbitos por covid-19 do mundo, de acordo com os dados mais recentes. Segundo a universidade americana Johns Hopkins, que compila dados da pandemia, o país tem 583,6 mortes por grupo de 100 mil habitantes.

Até agora, o Peru registrou 189,7 mil mortes desde o início da pandemia.

No Brasil, a taxa de óbitos é de 235 por 100 mil habitantes.

O número oficial de mortos mais do que dobrou no Peru, depois que os critérios para registrar óbitos causados pela doença foram alterados pelo governo.

Então, por que o país foi tão afetado? Quantas pessoas morreram de fato?

Até recentemente, as mortes no Peru só eram relatadas como causadas pela covid se houvesse um resultado de teste positivo para comprovar a doença.

Mas, durante a pandemia, o número excessivo de registros de mortes indicou que o impacto real do coronavírus poderia ser muito maior. O país agora calcula quantas pessoas morreram a mais do que a média dos anos anteriores.

Desde o início do surto de covid, o Peru registrou cerca de 150% mais mortes do que o esperado.

Após uma revisão do governo, os critérios para os registros foram ampliados para incluir pessoas que morreram em um prazo de 60 dias depois de um teste positivo para coronavírus, bem como casos suspeitos sem um teste positivo.

Isso inclui pessoas cuja avaliação clínica ou exames médicos sugerem sintomas de covid, e também aquelas que tiveram contato com alguém infectado.

Os países registram as mortes de covid de maneiras diferentes, tornando as comparações diretas complicadas.

No entanto, os últimos números do Peru indicam que sua taxa de mortalidade per capita é agora uma das mais altas, senão a mais alta, do mundo.

Segundo a Universidade Johns Hopkins, o número oficial de mortos é de 189.757 pessoas. O país tem 33 milhões de habitantes.

Por que o Peru foi tão duramente atingido?

O Peru impôs uma das primeiras e mais rígidas restrições à circulação de pessoas na América Latina, em março de 2020 – antes mesmo do Reino Unido e de alguns outros países europeus.

Isso durou até o final de junho de 2020.

As fronteiras foram fechadas, toques de recolher foram impostos e as pessoas só podiam deixar suas casas para comprar bens essenciais – mas as infecções e as mortes continuaram a aumentar.

Lançamento lento da vacina

A campanha de vacinação do Peru tem sido lenta, com cerca de 6,5% da população totalmente vacinada.

O número está atrás de muitos outros países da América Latina. O Brasil vacinou com duas doses 11,4% da população. No Chile, são 48,8%. No Uruguai, 38,4%.

O Peru garantiu doses suficientes para vacinar toda a sua população, mas muitas dessas vacinas ainda não foram distribuídas. A vacinação lenta até agora não conseguiu conter as infecções.

Os casos de covid continuam altos – com mais de 4.000 relatados diariamente.

Economia informal e moradias superlotadas

Existem também vários fatores sociais e econômicos que ajudam a explicar por que o Peru tem lutado tanto para conter a pandemia.

Cerca de 70% da população ocupada no Peru trabalha no setor informal, uma das taxas mais altas da América Latina.

Esses empregos são por natureza imprevisíveis e significam que muitos trabalhadores precisam escolher entre sair para trabalhar ou não ter dinheiro suficiente para sobreviver.

O governo aprovou medidas de apoio para ajudar as pessoas que perderam seus empregos e empresas que perderam renda devido à pandemia – mas apenas cerca de 38% dos adultos peruanos têm uma conta bancária, tornando os pagamentos digitais rápidos praticamente impossíveis.

“Os peruanos que saíam para trabalhar tinham que usar o transporte público e comprar produtos em mercados muito lotados”, diz o economista peruano Hugo Ñopo à BBC.

Mais de 40% das famílias do país não têm geladeira, de acordo com uma pesquisa do governo de 2020.

Muitas famílias “não têm uma logística que lhes permita estocar alimentos por muitos dias”, diz Ñopo.

“Eles têm que sair com frequência para estocar e, principalmente, ir aos mercados”, acrescenta.

No início da pandemia, os mercados foram identificados como “as principais fontes de contágio” pelo governo.

Além disso, a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios sugere que 11,8% das famílias pobres no Peru vivem em casas superlotadas.

Moradias apertadas tornam o distanciamento social mais difícil e permitem que o vírus se espalhe mais facilmente