Na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, pesquisa de Patrícia-Campos Ferraz analisa o efeito da creatina sobre o crescimento tumoral associado ao câncer em modelos experimentais com animais. O trabalho, que teve a participação dos professores da EEFE, Bruno Gualano e Antonio Herbert Lancha Junior, encontrou evidências do potencial da creatina, utilizada como suplemento nutricional, na inibição do crescimento de tumores e de inflamações. O aprofundamento dos estudos sobre os mecanismos de funcionamento de creatinina poderão levar a estudos clínicos dos efeitos do suplemento nos vários tipos de câncer.
Patricia apresentou o trabalho “Exploratory studies on the potential of creatine as an anti-cancer dietary aid”, no II Creatine Conference in Health, Sports and Medicine, realizado de 21 a 24 de abril na cidade de Laufen (Alemanha). O artigo, que também tem autoria dos professores Gualano e Lancha Junior, ganhou o prêmio de Melhor Estudo no evento.
Os pesquisadores analisaram o efeito da creatina sobre o crescimento tumoral e os possíveis mecanismos envolvidos nisso. Na fase inicial do projeto, foram usados modelos experimentais para averiguar a ação antioxidante e anti-inflamatória do suplemento em ratos inoculados com o tumor Walker 256. No final do experimento de 40 dias, os animais que foram suplementados com creatina tiveram um crescimento tumoral 30% menor que o grupo placebo. No entanto, a sobrevida desses animais não mudou.
Efeitos
Na segunda etapa, um novo grupo de animais foi inoculado com o tumor e a partir daí os pesquisadores realizaram novas medições relativas à inflamação do organismo e à análise de gases no sangue para verificar se os ratos estavam em acidose e se a creatina tinha algum efeito benéfico em relação a isso. Os ratos com câncer apresentaram uma ligeira acidose em comparados aos ratos sem câncer, mas aqueles suplementados com creatina tiveram uma produção maior de CO2 no sangue. Isso significa que eles conseguiram equilibrar um pouco melhor essa acidose que os animais que não receberam a creatina. O grupo suplementado também apresentou menor inflamação.
A pesquisadora enfatiza que ainda é cedo para transpor esses dados para humanos, pois ainda faltam muitos estudos em modelos animais para entender melhor o papel da creatina em diferentes tipos de tumor. “Ainda não posso dizer que tem uma aplicação prática, mas abrem as portas para novos estudos que no futuro vão responder a perguntas mais práticas com relação a câncer e creatina”, explica. “É um trabalho muito interessante na medida em que um suplemento seguro e largamente utilizado pode ter um efeito interessante no crescimento tumoral ainda em modelo animal”.
O próximo passo da pesquisa é determinar as dosagens moleculares e bioquímicas, de forma a compreender melhor como esses efeitos da creatina funcionam, ainda em modelos experimentais. A pesquisadora destaca que vários estudos já estão sendo feitos mundialmente a respeito dos efeitos da creatina em indivíduos com determinadas doenças e que no futuro provavelmente será possível fazer outros estudos clínicos dos efeitos do suplemento nos vários tipos de câncer.