‘Meu reencontro com o desconhecido que salvou minha vida’

No ano passado, eu reencontrei o homem que me impediu de tirar a própria vida.

Fazia seis anos que eu tentei pular de uma ponte em Londres.

Eu estava muito nervoso nos minutos anteriores ao nosso reencontro. Eu tinha uma memória muito vaga da primeira vez que conheci Neil. E se eu não conseguisse reconhecê-lo? Só descobri que seu nome era Neil quando iniciei a campanha no Twitter #FindMike (#EncontreMike). Mas assim que voltei a vê-lo, vieram à minha mente memórias daquele dia.

Nós conversamos em detalhes sobre o que aconteceu na ponte e ao longo dos anos que se passaram desde então. Ele foi tão simpático e agradável como eu me lembrava; eu tinha a sensação de falar com um velho amigo.

Desde então, nos tornamos inseparáveis. Nos vemos muitas vezes e, de fato, no verão passado, viajamos juntos para a cidade de Dallas, no Estado americano Texas, onde participamos de um programa de televisão para o qual fomos convidados. Foi uma grande experiência, especialmente para conhecer Neil em profundidade, fora dos holofotes da mídia.

 Prioridade

O mais incrível foi como a sensibilidade e a arrecadação de recursos para transtornos mentais e suicídios se tornaram uma prioridade para Neil. Agora, nós dois somos embaixadores da Rethink, uma entidade por meio da qual ajudamos a outras pessoas abaladas mentalmente.

Os últimos meses têm sido complicados, porque eu sofri uma recaída em outubro passado. Durante esse tempo, fiquei internado duas vezes depois de voltar a ter tendências suicidas.

Johnny e Neil tornaram-se amigos depois do episódio que quase vitimou o blogueiro

Dessa vez, no entanto, decidi publicar minha luta no YouTube. Fui muito sincero em meus vídeos, porque espero ajudar, assim, outras pessoas que estão passando por situações semelhantes. A resposta do público tem sido fantástica e me ajudou muito.

Tive tempo para refletir sobre a minha saúde mental. Passei por situações difíceis, especialmente quando anunciei que era gay e, ao mesmo tempo, falei abertamente sobre o meu problema.

Foi uma batalha dupla. Recebi muitas mensagens de outras pessoas com problemas de saúde mental e que também eram gays. Acho que o problema da associação entre sexualidade e doença mental é uma questão importante e deve ser tratado.

 Mensagem

Também acho que devem ser tomadas outras medidas para que haja maior equilíbrio entre a saúde física e a mental. Hoje em dia, muita coisa é feita em prol da saúde física, mas pouco ou quase nada em relação à saúde mental, em termos de tratamentos, consultas e investimentos. Pacientes esperam anos para receberem tratamentos de saúde mental. Isso não acontece tão usualmente quando o assunto é a saúde física.

Quando eu tinha 17 anos e comecei a falar com um médico sobre a minha saúde mental, por exemplo, tive de esperar meses para começar minha primeira consulta com um especialista (No sistema de saúde público britânico, o paciente é inicialmente recebido por um clínico geral e depois encaminhado a um especialista). No final, eu desisti e disse: “Vou lidar com essa questão por minha conta”.

Isso é o que acontece com muitas pessoas: ficam cansadas de esperar e tentam resolver o problema sozinhas, sem qualquer ajuda. Isso é muito injusto. Todos devem ter igualdade de oportunidades para se curar.

Ainda preciso de tempo para me recuperar totalmente, mas com a ajuda da minha família e dos meus amigos, incluindo Neil, sei que posso fazê-lo e me sentir bem novamente algum dia.

Essa é a verdadeira mensagem que quero transmitir a outros pacientes por meio de um documentário que fizemos juntos, The Stranger on the Bridge (O Estranho na Ponte). Há sempre uma esperança e na vida é sempre possível superar qualquer adversidade.