Elys Vieira, de 43 anos, mora no Trecho 3 do Sol Nascente há quase duas décadas. O lugar, que aguarda licença do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) para início das obras de infraestrutura, ainda não tem rede de drenagem, esgoto ou asfalto. Pela vulnerabilidade local, é prioridade para a equipe de Estratégia Saúde da Família que cobre 75% do setor.
A coordenadora de Atenção Primária em Saúde, da Secretaria de Saúde, Alexandra Gouveia, explica que a estratégia consegue ser mais eficaz em ambientes onde as vulnerabilidades social, econômica e de saúde são maiores. “Claro que as áreas com condições melhores também são importantes, mas o impacto nelas é menor.”
A medida ainda obedece ao princípio de equidade, uma das doutrinas do Sistema Único de Saúde (SUS) — trata-se de atender os pacientes de acordo com suas necessidades e oferecer mais a quem mais precisa.
Saneamento básico é um dos itens avaliados para medir a vulnerabilidade local
O diagnóstico da situação territorial é um dos primeiros passos para a implementação da Estratégia Saúde da Família. Nele, são incluídos dados relacionados, por exemplo, a taxa de analfabetismo, índice de violência e condição do saneamento básico.
Com essas informações, são definidos os cuidados e a forma de lidar com determinada comunidade. “Não traçamos ações com base no que achamos, mas na realidade que enxergamos ali”, ressalta a Alexandra.
Por conta das condições da área onde atua, a rotina de Cláusia Barreto Rocha, enfermeira da equipe de saúde da família que atende Elys, envolve ter um dia específico na semana para visitas domiciliares.
De acordo com ela, a escolha por os encontros ocorrerem no contexto onde o paciente está inserido não é à toa. A medida garante um cuidado integral, com foco nas causas e não só na doença. “Para a prevenção e a promoção da saúde, preciso ver como está a condição da casa, da rua”, detalha.
No caso dela, as visitas envolvem orientações específicas, como não andar descalço, cortar as unhas, não levar a mão à boca. Além disso, avalia-se o estado das ruas, se estão com água parada, esgoto à céu aberto ou se há outro problema que possa influenciar no aparecimento de alguma doença.
O filho mais novo de Elys, Isaac, de 7 anos, é tratado pela equipe de saúde pelo menos a cada dois meses, com sintomas de diarreia, verme ou sinusite. Todos os males têm alguma ligação com a situação do local onde vive.
Muito além da saúde
As equipes têm condições de propor ações que interajam com outras esferas do governo, como a administração regional. “Já cheguei a solicitar que tapassem uma fossa que não estava sendo utilizada e estava juntando água”, exemplifica Cláusia. Em outra oportunidade o órgão tapou buracos que apareceram em uma rua e poderiam se tornar foco do Aedes aegypti.
Alexandra explica que o cuidado vai além das questões ligadas diretamente à saúde. “A equipe não é responsável por instituir essas ações, mas ela participa da articulação para o que é necessário”, esclarece.
Obras no Trecho 3 do Sol Nascente
No Trecho 3, está prevista a construção de três bacias de drenagem, de 21,3 quilômetros de redes, com três lagoas de retenção e 450,5 mil metros quadrados de pavimentação. A obra nesse trecho está orçada em R$ 66 milhões.