Durante as próximas três décadas, se o Brasil pretende criar uma estratégia eficiente para superar os efeitos assimétricos da globalização, os planos deverão passar pela Índia. Projeto desenvolvido na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) conseguiu identificar uma série de possibilidades de cooperação entre os dois países em termos de inovação tecnológica.
As áreas consideradas estratégicas são fármacos e software, mas os pesquisadores conseguiram identificar muitos interesses convergentes entre os países também em energia nuclear e na indústria espacial.
Resolvemos estudar a Índia por ela estar inserida dentro da gigantesca movimentação macroeconômica asiática. Projeções recentes estimam que o país chegará em 2050 com 15% do produto interno bruto mundial, diz Marcos Costa Lima, coordenador do projeto e professor da UFPE. Enquanto a China cresce de 10% a 12% ao ano, a Índia bate os 5% também todos os anos, conta o pesquisador.
Na indústria do software, os dilemas brasileiros e indianos são diferentes e, por isso mesmo, podem se complementar. A Índia tem empresas de grande escala e competitivas no exterior, enquanto o mercado interno é muito pequeno. No Brasil, ocorre exatamente o inverso, explica Costa Lima.
Os números apresentados na 29º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs) dão sustentação ao raciocínio teórico. Enquanto o mercado indiano de programas para computador movimenta algo próximo dos US$ 25 bilhões internamente, no Brasil o total é de cerca de US$ 8 bilhões. Na Índia, mais de 80% desse total é fruto da exportação. Aqui, 95% são obtidos internamente, conta o pesquisador brasileiro.
O sucesso indiano com exportação de software, segundo o estudo, tem duas explicações básicas: baixos custos de produção e grande oferta de mão-de-obra qualificada. Na região do parque tecnológico de Bangalore, por exemplo, são formados todos os anos 25 mil engenheiros de computação, diz Costa Lima.
Depois de analisar as políticas externas e de ciência e tecnologia dos dois países, o pesquisador da UFPE não tem dúvida em afirmar que existem muitas possibilidades de cooperação entre Brasil e Índia. Temos que descobrir quais as parcerias mais adequadas e traçar uma estratégia, ressalta.
Parte dos resultados obtidos pelo estudo foi apresentado durante a Anpocs, realizada no final de outubro em Caxambu. O texto foi assinado em conjunto com Suranjit Saha, da Universidade de Walles-Swansea, na Índia.