Leishmaniose Visceral: novas abordagens para vigilância

A utilização de ferramentas de análise em saúde na definição de áreas prioritárias para vigilância da Leishmaniose Visceral em uma capital brasileira foi apresentada no estudo Distribuição espacial e definição de áreas prioritárias para vigilância da Leishmaniose Visceral no município de São Luís, Maranhão, Brasil, 1999-2007, defendido na ENSP pelo médico veterinário David Soeiro. O trabalho de mestrado, orientado pelo pesquisador Guilherme Werneck (Densp/ENSP) e desenvolvido no âmbito do Programa de Epidemiologia em Saúde Pública da Escola, revelou novas alternativas para o controle da doença.

A Leishmaniose Visceral (LV) é uma zoonose amplamente distribuída no Brasil, considerada um importante problema de saúde pública devido à sua contínua expansão nas capitais e regiões metropolitanas do país. A doença apresenta índices elevados no Maranhão, sendo o município de São Luís considerado de transmissão intensa pelo Ministério da Saúde.

Segundo David, no início da década de 1980, a doença atingiu níveis epidêmicos na cidade de São Luís, em uma extensão do Bairro do Tirirical, período em que recebeu grande fluxo migratório oriundo do deslocamento de lavradores de estados vizinhos e de famílias que viviam na zona rural do Maranhão. "A partir de 1988, a doença passou por uma segunda fase da epidemia, período que levou o Maranhão a ser um dos estados com áreas de maior ocorrência da LV no país", explicou o doutorando do Programa de Epidemiologia em Saúde Pública da ENSP.

De acordo com David, o estudo se justificou em virtude da importância epidemiológica da doença no Estado do Maranhão, e da necessidade do desenvolvimento de novas alternativas para o controle da leishmaniose, visando à redução do número de casos, evitando sua expansão e o aparecimento em novas áreas. Ainda segundo ele, a utilização de ferramentas de análise espacial no estudo das leishmanioses é uma prática recente no município, uma vez que a utilização nos serviços de saúde ainda não foi discutida e incorporada. "É preciso buscar a conscientização e capacitação dos profissionais envolvidos para a inclusão efetiva dessa ferramenta nos programas de vigilância e controle da doença", ressaltou.

O estudo, que aborda aspectos epidemiológicos da Leishmaniose Visceral na região e discute perspectivas para o controle da doença, analisou ainda a distribuição geográfica e a evolução temporal da LV em São Luís, além de investigar a associação entre infecção canina e a ocorrência da doença em humanos e discutir os possíveis aspectos associados às mudanças espaciais nos indicadores da doença. Para o autor do estudo, é fundamental propor medidas de vigilância e contribuir com base em dados sobre a epidemiologia da doença.

Os resultados apontaram que o perfil epidemiológico da Leishmaniose Visceral em humanos, considerando 517 casos, revelou que 64,1% dos casos possuem idade inferior ou igual a 4 anos e 53% dos indivíduos são do sexo masculino. Constatou-se ainda que a estação chuvosa teve maior percentual de notificações, apresentando 57,4% do total. No período de 1999 a 2007, a LV apresentou incidência decrescente até o ano de 2002, após o ano epidêmico em 1999, no qual atingiu o seu valor máximo no período (15,8 casos por 100 mil habitantes).

Segundo David, houve um aumento nas incidências anos de 2003 (5,43) e 2004 (6,68), seguidos por um decréscimo da doença nos anos posteriores. A letalidade da doença apresentou uma tendência crescente entre os anos de 1999 e 2001, estabilizando-se até 2002, atingindo nos anos de 2001-2002 seu ápice no período (7,6%). Para o autor, a utilização de ferramentas de análise espacial na definição de áreas prioritárias para vigilância da leishmaniose visceral é uma estratégia factível e pode obter resultados efetivos no controle da doença no município.

"A Leishmaniose Visceral continua como um problema de saúde pública em expansão em várias cidades do país, ainda com diversas questões não resolvidas. Agrava-se o fato de que a efetividade das medidas de controle tem sido questionada, além dos elevados custos que implicam a realização das estratégias de vigilância e controle. A estratégia utilizada para definição de áreas prioritárias neste estudo pode contribuir e embasar os processos de tomada de decisão em municípios que tenham a LV como problema de saúde pública, visando controlar sua expansão e reduzir a incidência da doença", finalizou.

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