Laboratório do ICB desenvolve vacina para HPV-16

Nos próximos meses, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP irão começar os primeiros testes pré-clínicos com animais com a G-VAX, uma vacina terapêutica para o Vírus do Papiloma Humano (HPV), subtipo 16, responsável pela maioria dos casos de câncer de colo do útero. A vacina não impede a infecção pelo vírus, mas sim ataca as lesões e os tumores causados pelo HPV-16.

A G-VAX foi criada no Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do ICB, coordenado pelo professor Luis Carlos de Souza Ferreira. As pesquisas envolvendo o seu desenvolvimento tiveram a partipação dos pós-graduandos Mariana de Oliveira Diniz, Francisco Cariri, Bruna Porchia e Vinicius Santana.

De acordo com a bióloga Mariana de Oliveira Diniz, os testes realizados com camundongos mostraram que a vacina estimulou o sistema imunológico dos animais, e este foi capaz de identificar as células das lesões e dos tumores, e matá-los. “Em todos os animais que testamos, a vacina foi capaz de matar as lesões e os tumores induzidos pelo HPV-16”, conta a pesquisadora, que teve parte de seu projeto de doutorado sobre o desenvolvimento da vacina.

A bióloga explica que existem mais de 100 tipos de HPV, sendo que cerca de 40 deles se alojam na região genital. Eles são dividos em dois grupos: os chamados de baixo risco, causadores de verrugas e lesões benignas; e os de alto risco, que podem causar câncer, como o HPV-16 e o HPV-18. “Todo câncer de colo de útero é causado por HPV de alto risco, mas nem toda pessoa que tem esse HPV vai desenvolver câncer, pois isso depende de alguns fatores, como a resposta do sistema imunológico, por exemplo”, explica a pesquisadora.

Segundo Mariana, o HPV-16 é responsável por 60% dos casos de câncer de colo do útero; por isso o grupo de pesquisadores decidiu trabalhar com este subtipo, devido a sua relevância epidemiológica. “O segundo subtipo mais frequente em câncer de colo de útero é o HPV 18, respondendo por cerca de 15% dos casos.”

400 mil mortes ao ano
O câncer de colo de útero causa cerca de 400 mil mortes de mulheres anualmente em todo o mundo, sendo que 80% desses casos acontecem em países em desenvolvimento. “Vale lembrar que os exames preventivos, como o Papanicolau, ajudam a detectar a doença em seu estágio inicial, o que vai facilitar o tratamento e possibilitar a cura”, ressalta Mariana.

A pesquisadora lembra que já existem no mercado vacinas preventivas para o HPV 16 e o HPV 18, mas elas devem ser aplicadas com o objetivo que a mulher não seja infectada, ou seja, caso a paciente já tenha sido infectada pelo vírus ou apresente alguma lesão ou tumor, a vacina não fará efeito. “São vacinas preventivas que tem o objetivo de induzir a resposta de anticorpos que vão neutralizar a entrada do vírus nas células”, conta.

Segundo Mariana, “no caso da G-VAX, o grande diferencial em relação às vacinas para HPV existentes no mercado é o fato de que ela deverá ser aplicada em pessoas que já apresentam lesões ou tumores, pois foi desenvolvida para que induzam as células do sistema imunológico a reconhecer as lesões e tumores e atacá-las”.

Os testes pré-clínicos, que devem começar nos próximos meses, irão avaliar se a vacina é tóxica e se causa algum tipo de efeito colateral. Os experimentos serão realizados com duas espécies de mamíferos (camundongos e cobaias). Somente após os resultados satisfatórios destes testes, que devem durar 12 meses, é que serão feitos os testes clínicos em humanos. A previsão é que os primeiros testes em humanos aconteçam no início do ano de 2011. A estimativa é que a vacina esteja disponível para uso em humanos daqui a 2 ou 3 anos.

A iniciativa dos pesquisadores é um dos 12 projetos semifinalistas do Prêmio Santander de Empreendedorismo na categoria Biotecnologia, região Sudeste. No dia 7 de outubro serão anunciados os projetos finalistas. O anúncio do ganhador nacional será em 17 de novembro.

Mais informações: (11) 3091-7356 ou email modiniz@usp.br

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