A revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos está com dois novos números disponíveis no portal Scielo. Além de um suplemento sobre divulgação científica, também está no ar uma edição com temática variada: aborda desde a origem das plantas transgênicas nos anos 1970 ao bioterrorismo, passando por assuntos como o discurso demófobo na classe política brasileira durante a Primeira República e sua influência no processo de transferência da capital do Rio de Janeiro para o centro do país.
O suplemento Ciência e seus públicos, editado por Luisa Massarani, traz uma série de análises sobre a repercussão de temas científicos nos veículos de comunicação em diversos períodos da História (leia a Carta do Editor). Um dos artigos analisou a Revista Popular, publicação editada entre 1859 e 1862, que desempenhou importante papel na difusão de informações sobre o delineamento de uma possível ciência nacional para um público mais amplo, externo aos círculos intelectuais.
No artigo Controvérsia científica no telejornalismo brasileiro: um estudo sobre a cobertura das células-tronco no Jornal Nacional, as autoras mostram que o noticiário enfatizou os potenciais benefícios oferecidos pela pesquisa nessa área e omitiu as limitações e riscos envolvidos. Outro texto aborda um debate trazido a público pelo Jornal do Commercio no fim do século 19 sobre as medidas tomadas pelo governo para evitar a chegada da peste bubônica ao Brasil.
Na seção Imagens, os autores do artigo A fotografia e seus duplos: um quadro na parede tratam das transformações no campo da fotografia e suas relações com outros tipos de imagem, por meio da análise de três fotos clássicas. Uma delas, de Margaret Bourke-White, publicada na revista Life, em 1937, nos Estados Unidos, retrata uma fila de homens e mulheres negros, refugiados de enchentes, diante de um outdoor que mostra uma família branca sorridente, em viagem de férias em seu carro.
Plantas transgênicas, funções do cérebro e assistência psiquiátrica
O artigo que abre a outra edição de HCS-Manguinhos – Anomalías em los comienzos de la transgénesis vegetal: interesses e interpretaciones em torno a las primeras plantas transgénicas – narra os conflitos que envolveram a criação dos organismos geneticamente modificados. O autor evidencia que os cientistas articularam diferentes representações sobre a transgênese vegetal, atribuindo valores distintos às anomalias verificadas nos primeiros experimentos.
Outro texto nessa edição foca o livro Funções do cérebro, do médico Domingos Guedes Cabral, reconhecido como um dos primeiros trabalhos brasileiros a defender teorias darwinistas. A obra é de 1876, 17 anos após a publicação da primeira edição de A origem das espécies. Os resultados do estudo apontam para o uso do evolucionismo como parte tanto de um projeto ideológico quanto de uma teoria eugênica incipiente, que seria desenvolvida mais tarde, no início do século 20.
Destaca-se também nessa edição um texto sobre as transformações na assistência psiquiátrica em Santa Catarina a partir da década de 1970, ápice da superlotação no Hospital Colônia Sant’Ana, ao qual a autora se refere como “depósito de gente” no título do artigo. As páginas de HCS-Manguinhos também dão espaço para uma análise das práticas biomédicas do Gabinete Biométrico da Escola de Educação Física do Exército, no Rio de Janeiro, nas décadas de 1930 e 1940. O artigo revela que biometria e biotipologia foram mobilizadas complementarmente pela educação física, objetivando a normatização dos corpos. Na Carta do Editor, Jaime Benchimol relembra o lançamento do blog e das redes sociais da revista, destaque de 2013. As duas edições trazem uma série de outros artigos, todos disponíveis online.