Estudo realizado na Europa mostrou que o transtorno de acumulação afeta de 2% a 6% da população
Em uma sociedade que cria necessidades desnecessárias e descartáveis, conforme a lógica capitalista do consumismo exacerbado, não constitui surpresa a existência de uma figura como o acumulador, cuja tarefa é essa mesma, a de acumular objetos e utensílios que nem sempre servem a uma finalidade específica. Na verdade, os acumuladores são vítimas de um transtorno mental – o transtorno de acumulação, o qual deixou de ser um subtipo do TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) para passar a ser classificado separadamente.
A pós-graduanda de mestrado profissional em Entomologia da Faculdade de Saúde Pública da USP, Samanta Gouveia Parisi, desenvolve pesquisa sobre o tema desde 2016. Seu trabalho a levou a classificar o acumulador como um indivíduo cuja tendência é a de se isolar socialmente, por medo ou vergonha. De peças de automóveis a potes de margarina, passando por baldes, tambores e outros objetos cuja finalidade é a de servirem como depósitos de água, o acumulador guarda um pouco de tudo, mas muitas vezes não dispõe de energia elétrica nem água encanada.
“Estão numa situação de vulnerabilidade e acabam acumulando água para poder utilizar.” O problema é que, ao colocarem muito valor em determinado objeto, passam a acumulá-lo em áreas que deveriam servir a outra finalidade, como a cozinha ou a sala de jantar, que acabam abarrotadas. Além disso, também tendem a acumular animais e nem sempre percebem quando um deles morre, com tudo o que isso possa representar para a saúde pública. Um outro fator relevante nessa questão é o risco que objetos como baldes ou tambores podem oferecer ao servirem de potenciais criadouros para o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, da chikungunya e do zika vírus.
Um detalhe importante a se observar é o de que não se pode confundir acumulador com colecionador, já que este “consegue organizar objetos de uma forma delimitada, tem a noção do valor e o limite de onde pode acumular”. Pelo que representa de risco para a saúde pública, já existe um decreto (nº 57.560, de 28/12/2016) que instituiu a política municipal de atenção integral a pessoas em situação de acumulação. O tratamento indicado para pessoas nessa condição é multidisciplinar e inclui psicoterapia e o uso de medicamentos antidepressivos.