Ganho de peso na gravidez pode causar incontinência urinária

Variação do peso está associada ao problema que continua no pós-parto

Gestantes ribeirão-pretanas chegam a ganhar 35 kg. Diabete, prolapso genital e uso de cigarro também contribuem para a incontinência – Foto: Visualhunt

Muitas mulheres desenvolvem incontinência urinária durante a gestação. O problema envolve perda involuntária de urina e pode persistir depois do parto. Para descobrir as causas dessa incontinência urinária, especialistas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) acompanharam mais de sete mil mulheres.

No estudo, entre os fatores de risco para o desenvolvimento da doença, destacou-se o ganho de peso na gravidez, além de diabete, prolapso genital e uso de cigarro. Os resultados vieram da análise do Banco de Dados do projeto Brisa (Coorte Brasileira de Nascimentos de Ribeirão Preto e São Luís), que vem acompanhando mulheres que tiveram seus filhos entre os anos de 2010 e 2011, em Ribeirão Preto e São Luís (MA). A pesquisa com mães (Brisa) faz parte da terceira fase do projeto de coortes da FMRP, que começou o estudo longitudinal (ao longo da vida) com os nascidos em 1978.

Conta o médico Luiz Gustavo Oliveira Brito (esq na foto), professor do curso de pós-graduação em ginecologia e obstetrícia da FMRP, que, somadas às informações da gestação, as mães foram entrevistadas entre um e dois anos depois do parto. Além de várias perguntas feitas as mães, uma pergunta aberta foi feita a mãe se ela havia percebido alguma alteração no hábito de urinar antes do parto e qual teria sido.

O médico espera que essas informações contribuam na “prevenção primária ou para o não agravamento da incontinência nessas mulheres”. Lembra ainda a importância de uma equipe multiprofissional nas Unidades Básica de Saúde (UBDS), com destaque para um nutricionista e um fisioterapeuta. Nos casos em que o profissional de nutrição não esteja presente, alerta para a necessidade de orientação às pacientes quanto ao benefício do controle de peso.

Gestantes de Ribeirão sofrem mais que as de São Luís

Comparada a São Luís, Ribeirão Preto apresentou mais casos de incontinência. A média do ganho de peso também foi maior, com 12,8 kg, enquanto São Luís foi de apenas 11,2 kg. É considerado adequado o aumento entre 8 e 15 kg em mulheres com índice de massa corporal abaixo de 30, mas em Ribeirão Preto a variação foi superior, com mulheres chegando a 35 kg.

Os dados mostram ainda que na cidade paulista as taxas de diabetes na gravidez e pré-gestacional e de tabagismo são altas. Em Ribeirão Preto, por exemplo, 15% das mulheres são fumantes e em São Luis, apenas 10%. Brito lembra que todos esses fatores oferecem risco para a ocorrência de incontinência urinária.

Luiz Gustavo Oliveira Brito (esq.) e Pedro Sérgio Magnani – Foto: Divulgação

Com relação ao ganho de peso gestacional, o professor Brito lembra que, apesar dos números de referência de normalidade no aumento de peso na gestação, cada organismo possui resposta fisiológica diferente. Assim, é natural que uma mulher mais magra ganhe um peso maior durante a gravidez.

Brito lembra também a importância de rastrear o diabetes gestacional no controle da incontinência urinária. Diz que muitas pacientes não conhecem o quadro e, por isso, ocorre subnotificação de casos. Em busca de mais informações da relação do diabetes com a incontinência urinária, os pesquisadores do projeto Brisa já estão trabalhando num outro estudo que analisa a taxa de glicemia colhida de todas as pacientes.

Como desdobramento do estudo, já está em andamento um projeto em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) que pretende introduzir um fisioterapeuta na UBDS. O objetivo é a prevenção primária nas gestantes, com ações educativas e treinamentos para o parto. E, também, associar com a Nutrição e Enfermagem um programa de controle de peso.

Os resultados dessa pesquisa são parte da tese de doutorado Incontinência urinária no pós-parto em mulheres de Ribeirão Preto e São Luís: um estudo transversal da coorte BRISA apresentada ao Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da FMRP pelo médico Pedro Sérgio Magnani, com orientação do professor Brito. O doutorado de Magnani ficou com o terceiro lugar na premiação de Melhores Trabalhos de Obstetrícia do XXI Congresso Paulista de Ginecologia e Obstetrícia, realizado em agosto de 2016 em São Paulo.

Giovanna Grepi, de Ribeirão Preto

Mais informações: e-mail lbrito@usp.br