FSP estuda combate ao mosquito transmissor da elefantíase

O termo transgênico é geralmente associado ao meio agrícola, mas essa realidade deve mudar. A Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP está desenvolvendo um método de controle genético do Culex quinquefasciatus, mosquito que, entre outras doenças, é transmissor da Wuchereria bancrofti causadora da elefantíase.  O método usado consiste em soltar mosquitos transgênicos na natureza, que carreguem um gene letal dominante, para controle da população do inseto por supressão. A doença é caracterizada pelo inchaço que causa nas partes do corpo afetadas e não tem cura, apenas tratamento para atenuar seus sintomas.

Uma das fases da pesquisa foi concluída. O biólogo André Barreto Bruno Wilke desenvolveu o início da produção de mosquitos transgênicos dessa espécie e o cruzamento desses injetados com mosquitos selvagens em sua dissertação de mestrado Controle genético de mosquitos Culex quinquefasciatus, defendida no mês passado. As próximas etapas serão desenvolvidas pelo grupo de pesquisa liderado pelo orientador da dissertação,  Mauro Toledo Marrelli, professor da FSP.

A técnica usada por Wilke, chamada de Release of Insects carrying a Dominant Lethal Gene (RIDL), foi desenvolvida concomitantemente por dois grupos de pesquisa. Um desses grupos, com base em Oxford (Reino Unido), a companhia Oxitec (Oxford Technology) é liderado pelo pesquisador inglês Luke Alphey, que colabora na pesquisa com Culex, e adaptou esta técnica para mosquitos transmissores de agentes biológicos capazes de causar doenças, como o Aedes aegypti, transmissor do vírus da dengue.

A técnica RIDL não pôde se aplicada ao Culex da mesma forma que o processo desenvolvido por Alphey. “O Aedes põem cada ovo separadamente, já o Culex põe os ovos em jangada [grudados uns nos outros]”, explica o biológo. Wilke teve que desenvolver novos meios para aplicar a RIDL ao Culex.

A primeira etapa do processo feito por Wilke é injetar o gene nos ovos dos insetos já separados um a um em laboratório. A essa etapa se segue o cruzamento dos machos transgênicos com fêmeas selvagens e a verificação das larvas em um marcador que mostra a quais delas foi transmitido o gene.

As etapas a serem desenvolvidas são a análise do comportamento desses mosquitos transgênicos em relação aos selvagens e a liberação deles na natureza. O processo ainda precisa de aperfeiçoamento, pois há baixa eclosão de mosquitos, ou seja, poucos nascem. “O Culex é muito manipulado, por isso muitos não sobrevivem ao processo”, diz Wilke.

O pesquisador considera o método promissor, pois tem vantagens em relação às formas tradicionais de controle de mosquitos. Ele afirma que “a RIDL é específica, só atinge o mosquito alvo, não deixa resíduo, não ataca o meio ambiente”.

Limpeza de rios
Wilke ressalta que a RIDL não pode ser usada individualmente, deve fazer parte de um manejo integrado de vetores: “Não adianta nada começar a liberar mosquitos transgênicos, se não limpar os rios, porque o Culex tem a capacidade de se reproduzir em água poluída e não tem nada que sobreviva naquela água, então, ele não tem inimigo natural.” O manejo integrado de vetores contempla a limpeza de rios, conscientização da população, monitoramento de possíveis criadouros e fiscalização.

Sobre o impacto que a possível extinção do mosquito causaria, Wilke afirma que “o pernilongo não é brasileiro. Não faz parte da cadeia alimentar, se fizesse, ele estaria controlado. Ele é conseqüência do impacto ambiental”.

A pesquisa em desenvolvimento é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O laboratório usado é do Instituto de Ciências Biomédicas, cedido por Margareth Capurro, professora do Instituto. As construções genéticas que estão sendo utilizadas no projeto são cedidas por Luke Alphey, colaborador do projeto.

Mais informações: andrebw.br@gmail.com

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