A Fiocruz, por meio do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), foi escolhida pelo Ministério da Saúde para representar o Brasil no Centro Brics de Pesquisa e Desenvolvimento de Vacinas. Lançado nesta terça-feira (22/3) pelo grupo de países formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, a iniciativa tem por objetivo compartilhar experiências, informações e treinamento, de forma a fortalecer a capacidade produtiva dos países participantes e tornar mais equitativo o acesso aos imunizantes.
Cerimônia online organizada pela China contou com a presença de representantes das instituições escolhidas, entre eles a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima (imagem: divulgação)
A cerimônia online organizada pela China, que ocupa a presidência pro-tempore do grupo, contou com a presença dos ministros da Saúde dos países do bloco, como Marcelo Queiroga, e de representantes das instituições escolhidas, entre eles a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima. A proposta foi aprovada por consenso na cúpula do Brics em setembro do ano passado e procura não só dar uma resposta às dificuldades enfrentadas pelos países no combate à Covid-19, mas também aumentar a vigilância e prevenir futuras pandemias.
Juntos, esses países pretendem estabelecer cooperação entre suas fábricas e definir padrões, de forma a evitar os gargalos de produção vistos na pandemia; vão compartilhar experiências, promover a distribuição equitativa das vacinas como bem público global e garantir seu acesso aos países em desenvolvimento. A ideia é fortalecer a capacidade dos países do bloco no controle e prevenção de doenças contagiosas.
“Vacinas salvam vidas, é o que vimos ao longo dessa pandemia de tanto impacto sanitário, econômico e humanitário em nossos países. O Brics tem demonstrado sua potência que hoje ganha força essencial com a criação desse centro”, disse Nísia.
Aliança internacional
A presidente da Fiocruz destacou a importância da aliança desses países, afirmando que nada surge sem uma história. Ela lembrou que a Fiocruz recebeu Ingrediente Ativo Farmacêutico (IFA) para a vacina Oxford/AstraZeneca produzido na China e que as primeiras doses de imunizante vieram de um laboratório na Índia – dois membros do bloco. Contou ainda que representantes da Fundação participaram de uma reunião na África do Sul este mês sobre vacina com plataforma de RNA mensageiro – a Fiocruz foi escolhida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como hub para América Latina, junto com um instituto argentino.
A presidente da Fiocruz agradeceu o convite do Ministério da Saúde para Bio-Manguinhos ser o centro nacional produtor no Brics e lembrou que a Fundação já entregou cerca de 160 milhões de doses da vacina contra a Covid-19, por meio do acordo de encomenda tecnológica. “E hoje somos autônomos no sentido de termos incorporado plenamente essa tecnologia”, disse.
Presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima destacou a importância da aliança desses países, afirmando que nada surge sem uma história (imagem: divulgação)Nísia destacou ainda os papéis da Fiocruz e o Instituto Butantan, dois laboratórios públicos, na vacinação em massa contra a Covid-19 no Brasil. A presidente da Fundação citou como desafios a maior equidade no acesso à vacina, a recuperação econômica dos países e a preparação contra futuras pandemias. “Creio que, para além da Covid-19, este centro terá papel fundamental no compartilhamento de conhecimento, no desenvolvimento tecnológico e na produção e vacinas.”
Marcelo Queiroga, por sua vez, destacou o papel do SUS e do Plano Nacional de Imunizações no combate à pandemia no Brasil. No evento, o ministro afirmou que o “Brics tem um papel fundamental a desempenhar na promoção do acesso justo e equitativo a vacinas em nível global”. E destacou: “O Brasil possui reconhecida capacidade produtiva instalada para fabricação de vacinas, além de prestigiadas instituições de pesquisa, desenvolvimento e inovação, com destaque para a centenária Fundação Oswaldo Cruz, indicada como ponto focal nacional para o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Vacinas do Brics”.
Os membros do bloco destacaram sua atuação na pandemia. A Índia, por exemplo, lembrou que fornece vacinas para mais de 150 países. O laboratório chinês Sinovac, por sua vez, informou que já forneceu 2,8 bilhões de doses de imunizante contra o Sars-CoV-2 para 56 países. Juntas, as nações do Brics concentram cerca de 40% da população mundial.
Workshop e vigilância integrada
O lançamento foi seguido pelo Workshop sobre Cooperação em Vacinas, que, pelo Brasil, contou com integrantes do Ministério da Saúde, da Fiocruz e do Butantan. Marco Krieger, vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde, ressaltou a importância da vigilância genômica, que a Fundação tem realizado desde o início da pandemia, e defendeu uma vigilância integrada. “Com isso, pudemos demonstrar a dinâmica das variantes de preocupação e integrar essa informação usando uma abordagem de big data. Foi possível, então, avaliar o seu impacto, o índice de hospitalização e de ocupação de leitos de UTI”, disse Krieger. Outra forma de vigilância é observar o impacto das variantes e a resposta imunológica gerada pela vacina.
Marco Krieger, vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, ressaltou a importância da vigilância genômica, que a Fundação tem realizado desde o início da pandemia (imagem: divulgação)“A vacina tem demonstrado uma alta proteção contra casos graves. Mesmo que tenhamos que mudar algo [para adaptá-las a novas variantes], já temos tecnologia incorporada ao nosso portfólio”, disse Krieger, ao se referir à incorporação tecnológica da vacina da AstraZeneca. O vice citou também as vacinas de RNA mensageiro. “Essa tecnologia pode ser usada não só para Covid-19, mas também para problemas tradicionais do nosso sistema de saúde”.
Representando Bio-Manguinhos, o diretor Maurício Zuma apresentou a unidade responsável pela pesquisa e desenvolvimento de vacinas, biofármacos e testes diagnósticos na Fundação. Zuma ressaltou a produção de vacina mRNA, assim como a construção do Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde, em Santa Cruz, que deverá ficar pronto em 2025 e quintuplicar a capacidade de produção.
“A escolha de Bio-Manguinhos/Fiocruz como representante do Brasil no novo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Vacinas do Brics coroa o trabalho do Instituto como ente estratégico do Complexo Econômico-Industrial da Saúde e permite o estabelecimento de novas parcerias para vencermos os desafios atuais e futuros de saúde pública”, disse Zuma. “Esperamos contribuir, com nossa expertise, para que o Centro alcance o objetivo, declarado hoje, de aumentar a oferta global de vacinas para as populações que necessitarem”, acrescentou.