Objetivo do evento é discutir o processo e o conjunto de evidências para apoiar a formulação de políticas relacionadas à introdução de vacinas e sua avaliação (foto: Manuela Machado)
O Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) está participando da Oficina Regional sobre a introdução de vacinas baseada em evidências, monitoramento e avaliação: o caso das vacinas de Covid-19 e PCV, promovida pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS) de 13 a 15 de março. O objetivo do evento é discutir o processo e o conjunto de evidências para apoiar a formulação de políticas relacionadas à introdução de vacinas e sua avaliação, usando estudos de caso concretos. Estão sendo apresentados exemplos de estudos regionais selecionados e seu uso na formulação de políticas de vacinação, incluindo vacinas de Covid-19 e vacinas pneumocócicas.
Entre os participantes da reunião estavam os representantes de todos os países latino-americanos, países caribenhos selecionados e partes interessadas regionais e globais em imunização. Representando a Fiocruz na mesa de abertura, estava a vice-diretora de Qualidade de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Rosane Cuber.
O chefe regional de imunização da Opas/OMS em Washington (EUA), Daniel Salas, afirmou que, depois dos investimentos que os países fizeram durante a pandemia, a perspectiva na área da saúde para a região é muito melhor que no passado. “Porém, estamos preocupados com o risco de retorno de doenças imunopreveníveis e possíveis óbitos. Nos próximos três anos, a expectativa é introduzir vacinas para 11 doenças diferentes, que serão incorporadas nos planos de vacinação da região, incluindo alvos como câncer e dengue. Nossa intenção é analisar os impactos da pandemia, trocar experiências e sair daqui com uma visão mais ampla dos próximos passos na saúde coletiva da América Latina e Caribe”.
Lely Guzmán, representando Socorro Gross, da Opas/OMS no Brasil, reforçou que Bio-Manguinhos/Fiocruz é uma peça-chave para pesquisar e desenvolver vacinas que estão no braço de todos os brasileiros. “No entanto, é preciso combater a hesitação vacinal e, para isso, novas estratégias devem ser implementadas não só no Brasil como em toda a região. É necessário fortalecer as pesquisas científicas e articular ações e políticas de incentivo à vacinação”.
Rosane Cuber comentou que uma das maiores lições aprendidas durante a pandemia é que são necessários investimentos em saúde e ciência, desde a pesquisa básica até a produção em escala industrial. “Nós introduzimos no [Programa Nacional de Imunizações] PNI, em 2011, a vacina pneumocócica 10, protegendo crianças do Brasil inteiro. Com o avanço da vacinação com este imunizante e a vacina de Covid-19, conseguimos diminuir significativamente os casos graves, hospitalizações e óbitos da população-alvo”.
A vice-diretora expressou o que esperava do encontro. “O que faremos aqui é conhecer as diversas realidades, avaliar a pluralidade da região e discutir políticas que tornem o acesso à biotecnologia mais equitativo. Bio-Manguinhos foi selecionado pela OMS como centro para desenvolvimento e produção de vacinas com tecnologia de RNA mensageiro na América Latina. A escolha da unidade ocorreu devido aos promissores avanços no desenvolvimento tecnológico de uma vacina de mRNA contra a Covid-19, atualmente em estágio pré-clínico. Vimos no caso da Covid-19 o quanto as parcerias foram cruciais para acelerar o desenvolvimento e a produção das vacinas. Vivemos o momento ideal de compartilharmos dados, análises e decisões que tomamos nos últimos anos para melhor detectar e responder às próximas emergências de saúde pública. Nossa região precisa estar mais fortalecida e preparada para uma próxima epidemia ou pandemia”.
Para o assessor científico sênior de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Akira Homma, divulgar a ciência baseada em evidências será mais assertivo para combater a hesitação vacinal. “Nos últimos seis anos, as coberturas vacinais caíram significativamente. Mostrar dados científicos trará de volta a confiança e a credibilidade que a população costumava ter com relação à ciência. É importante a oportunidade que temos nesse evento de debater propostas de como reverter este quadro e fortalecer a importância das vacinas e vacinação”, destacou.
O diretor do Departamento de Imunização e Doenças Imunopreviníveis da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA) do Ministério da Saúde (MS), Eder Gatti, frisou que Bio-Manguinhos/Fiocruz é um dos principais produtores de vacinas desta região e está empenhado em melhorar as coberturas vacinais, que vem sofrendo quedas progressivas. “Isso muito nos preocupa. Viemos com o propósito de articular e elaborar políticas públicas para este grande desafio. Isso envolve a garantia dos nossos estoques, um sistema eletrônico robusto e integrado e melhorias na logística e distribuição dos imunizantes em todo o país. É importante também ampliarmos o horário de atendimento das salas de vacinação para atingirmos ainda mais pessoas nas campanhas de vacinação. Tenho certeza de que os países vizinhos também possuem desafios como os nossos e essa reunião nos deixará mais fortes. É necessário avaliar o impacto das vacinas que estão sendo aplicadas e a vigilância epidemiológica dos sorotipos da Covid-19 para que o imunizante consiga chegar a todos com equidade”.
A coordenadora da Assessoria Clínica de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Maria de Lourdes Maia, e a médica infectologista pediatra, Tatiana Noronha, participam dos grupos de trabalho técnicos.