Fiocruz Mata Atlântica desenvolve tecnologias sociais no Rio de Janeiro

A Fiocruz Mata Atlântica (FMA) está implementando duas novas tecnologias sociais na Colônia Juliano Moreira, localizada na zona Oeste do Rio de Janeiro, em Jacarepaguá. A chamada Alagados Construídos é uma solução não convencional e de baixo custo para o tratamento descentralizado de esgotos em moradias que não têm acesso ao saneamento básico convencional. Já o Dispensador de Cloro é outra tecnologia social que tem como objetivo oferecer água tratada a moradias que não possuem abastecimento feito por redes de tratamento convencional. As ações visam contribuir para o desenvolvimento sustentável e para a promoção da saúde na região.

O saneamento básico é um dos principais determinantes da saúde e é direito de todos. “Alagados Construídos é uma solução de baixo custo e fácil aplicabilidade, que reduz as desigualdades sociais e é adequada à localidade para o desenvolvimento de territórios saudáveis e sustentáveis”, afirma Gilson Antunes, coordenador executivo da Fiocruz Mata Atlântica. “Importante lembrar que o direito ao saneamento é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 (ODS6) da ONU [Água Potável e Saneamento], semelhante à missão da Fiocruz Mata Atlântica, que visa a resolutividade de problemas vinculados à determinação social da saúde no território, com a atuação integrada de equipes multidisciplinares em articulação com instituições públicas, organizações da sociedade civil e outras unidades Fiocruz no entorno da FMA”.

O Programa de Desenvolvimento do Campus Fiocruz Mata Atlântica, ligado à Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz), vem promovendo no setor 1 da Colônia Juliano Moreira o desenvolvimento sustentável e a promoção da saúde. Nesse contexto, as ações estão em concordância com a ODS, que incentiva “apoiar e fortalecer a participação das comunidades locais, para melhorar a gestão da água e do saneamento”.

A tecnologia Alagados Construídos é baseada na natureza, na lógica do brejo, que são áreas encharcadas de grande importância ecológica devido aos vários benefícios que proporcionam e, por isso, são considerados áreas úmidas de preservação permanente. A vegetação do brejo é formada por plantas que realizam a filtragem física e biológica da água. “Esse tipo de vegetação possui a capacidade de adaptação e contribuem para a dinâmica e saúde do ambiente aquático. Dessa forma, Alagados Construídos é composto por essa vegetação que filtra e trata naturalmente a água considerada esgoto da moradia”, explica a engenheira ambiental Aliciane Peixoto, da Assessoria Técnica ao Habitat Saudável da Área de Saúde Urbana da Fiocruz Mata Atlântica.

O modelo que a FMA propõe no território possui duas etapas: a primeira é o tanque de decantação que separa os sedimentos sólidos da água, utilizando a força da gravidade. A segunda passa por uma camada de britas e areia. “As pedras e areias servem de barreira física às partículas de terra misturadas na água e aos pequenos objetos e, por fim, as plantas fazem a filtragem biológica dos micro-organismos”, destaca Aliciane.

Arquiteto e coordenador do projeto, Marcos Fonseca complementa: “o saneamento básico é um direito e levamos o protótipo do Alagados Construídos para a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT 2022) da Fiocruz e, assim, estimulamos o debate sobre o tema em feiras, escolas e comunidades. A intenção é popularizar e divulgar as tecnologias sociais como estratégias de inclusão social para que sejam práticas de políticas públicas”.

Dispensador de Cloro 

Dispensador de Cloro é um conjunto de peças de cano e registros de PVC que tem o objetivo de forçar a passagem da água por um depósito de pastilhas de cloro. Este conjunto fica colocado no ponto de entrada da água encanada da residência ou do local de uso. Ao passar pelo dispensador, a água entra em contato com as pastilhas de cloro e, em seguida, vai para um reservatório (caixa d’água).

“Essa é uma tecnologia social, não convencional, é indicada para água de mina ou de poço. Dessa forma, elimina diversos agentes patogênicos existentes na água, prevenindo doenças. Melhora a segurança da água para o consumo, é de baixo custo de montagem e manutenção, fácil instalação e funcionamento pelo próprio morador”, explica Leila Bastos, farmacêutica da equipe Diálogos Sócio Técnicos em Saúde Urbana (DSSU) da Fiocruz Mata Atlântica.

A implementação do dispensador de cloro gera melhoria da saúde da família, além da conscientização sobre as boas práticas com o uso racional da água doméstica através da educação não-formal. “Quando disponibilizamos a tecnologia social para o morador, temos como premissa que a comunidade se aproprie dessa tecnologia, que o morador seja um multiplicador principalmente sobre o entendimento do risco das doenças hídrica e sobre a gestão do consumo de água”, afirma a farmacêutica.

A melhoria da qualidade da água atende a dois ODS da Agenda 2030 da ONU: ODS 6 (Água Potável e Saneamento) e o ODS 3 (Saúde e Bem-estar). “Água tratada é um dos determinantes sociais da saúde e, com a intervenção do Dispensador de Cloro, temos uma maneira de contribuir com uma tecnologia social de baixo custo, de fácil manuseio pelos usuários, com peças disponíveis no mercado de construção para a promoção da saúde e o desenvolvimento sustentável local”, finaliza Leila.