A segunda edição da Expedição Manguinhos, do Curso de Formação de Agentes Populares de Saúde e Vigilância, promovido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), capacitou jovens, adultos e idosos de comunidades do Rio de Janeiro para combaterem focos do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya, e disseminar informações sobre o controle das doenças em seus territórios. Moradores de Manguinhos, Benfica e Complexo do Alemão participaram da iniciativa realizada de 13 a 17 de fevereiro, na Casa do Trabalhador, em Manguinhos.
Utilizando o método ‘cienciarte’, as aulas abordaram as características do vetor e das doenças, entre outras questões (Foto: Rita Machado)“O controle do Aedes depende do engajamento da população. De um lado, muitos criadouros se encontram no ambiente doméstico. De outro, existem questões importantes relativas ao poder público, como o abastecimento de água e a coleta regular de lixo. A informação é fundamental para mudar essa realidade, e os agentes populares de saúde e vigilância são multiplicadores, atuando para divulgar ações que qualquer cidadão pode realizar e para o empoderamento das comunidades em suas demandas junto ao poder público”, ressaltou Luciana Garzoni, pesquisadora do Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos do IOC/Fiocruz, que coordenou as atividades juntamente com Tania Araújo Jorge, chefe do mesmo Laboratório, além de Ricardo Malheiros, estudante de doutorado no Programa de Pós-graduação em Ensino em Biociências e Saúde do IOC/Fiocruz.
A partir da metodologia ‘cienciarte’, que trabalha com a interface entre a ciência e a arte, promovendo a criatividade e a inovação por meio da integração entre os métodos científico e artístico de apreensão e transformação do mundo, o curso abordou aspectos importantes para o combate às doenças. Em oficinas, aulas teóricas e atividades práticas foram discutidas características do vetor e dos agravos, determinantes ambientais e sociais para a manutenção do Aedes no território de Manguinhos, o papel da mídia na comunicação relacionada ao tema e a produção audiovisual comunitária em saúde, entre outros tópicos.
Além de observar o Aedes nas suas diferentes fases de vida, da larva até o inseto adulto, os alunos realizaram um mapeamento de possíveis focos do mosquito em Manguinhos, utilizando como ferramenta um aplicativo desenvolvido pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz). Os participantes também montaram uma tabela de checagem semanal contendo os possíveis criadouros domésticos do Aedes. Como base, foi utilizado o material informativo do projeto 10 Minutos Contra o Aedes, elaborado por pesquisadores e profissionais de comunicação do IOC/Fiocruz. A produção de curtas-metragens a partir do registro audiovisual do curso e uma oficina de linguagem musical dialógica também fizeram parte da programação.
Multiplicação do aprendizado
Moradora de Manguinhos, Sílvia de Souza Cardoso, de 18 anos, disse que as atividades chamaram sua atenção para a importância da atuação da população no combate às doenças. “Durante o curso, encontramos muitos possíveis focos na comunidade, onde coletamos água parada e observamos a presença de larvas do mosquito. Essa atividade despertou em mim uma atenção ainda maior para esse problema de saúde pública. Vou retirar rapidamente do ambiente qualquer objeto que traga perigo” afirmou a jovem. Também morador da comunidade, Jonathan Vieira da Silva, de 19 anos, considerou que a integração entre ciência e arte tornou os conteúdos mais atrativos, o que é importante para a mobilização. “Antes do curso, tinha muitas garrafas no quintal da minha casa, que acumulavam água quando chovia. Com as aulas, aprendi sobre esse perigo e acho que posso contribuir também avisando para outras pessoas da comunidade, para que elas se mobilizem para prevenir as doenças”, comentou ele. A professora Angelita dos Santos Pereira, de 45 anos, também ressaltou a vontade de disseminar o aprendizado. “Por exemplo, eu não sabia que os ovos do mosquito podem sobreviver por até um ano no ambiente seco. Por isso, não basta só despejar a água acumulada, é preciso lavar os potes com esponja e detergente. Como professora, posso levar essa informação para as crianças”, destacou ela, que mora em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, e trabalha em Manguinhos.
O curso contou com apoio do Conselho Gestor Intersetorial de Manguinhos, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), da Coordenadoria de Cooperação Social da Fiocruz, da Universidade Federal Fluminense (UFF), da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, da escola municipal Ciep Juscelino Kubitschek, da Casa do Trabalhador de Manguinhos e do jornal Fala Manguinhos. A equipe do Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos e estudantes do Programa de Vocação Científica da Fiocruz (Provoc) e de Programas de Pós-graduação do IOC/Fiocruz e da UFF participaram da elaboração e da execução das atividades.03