Fiocruz e UFRJ divulgam recomendações para a realização do carnaval 2022

A Fiocruz e a Universidade Federal do Rio de Janeiro elaboraram nota técnica, a pedido da Comissão Especial de Carnaval da Câmara dos Vereadores, que aponta cinco indicadores para a realização de um carnaval seguro na cidade do Rio de Janeiro em 2022. O documento enviado ao Comitê Especial de Enfrentamento à Covid-19 (CEEC), da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do Rio, considera indicadores utilizados por organismos internacionais para atividades de potenciais riscos de aglomerações. O conteúdo alerta para a necessidade de uma taxa de 80% da população completamente vacinada com as duas doses ou dose única, exige protocolos rígidos da prefeitura e constantes ações de monitoramento e vigilância das autoridades sanitárias.

Assinado pelos pesquisadores Hermano Castro, pneumologista e ex-diretor da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, e Roberto Medronho, professor titular de Epidemiologia da Faculdade de Medicina da UFRJ, o relatório apresenta as seguintes propostas.

1. Atendimento na rede municipal de saúde: média móvel semanal menor que 110 casos de Síndrome Gripal e Síndrome Respiratória Aguda Grave (1,63 casos por 100.000 habitantes).

2. Tempo de espera e quantidade de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) na fila para internação no município: fila de espera de três pessoas por dia, com um tempo de espera que não deve ultrapassar de uma hora.

3. Porcentagem de testes diagnósticos positivos no município: testes positivos (RT-PCR ou Ag) durante os últimos sete dias menor do que 5%.

4. Taxa de contágio da cidade do Rio de Janeiro: valor de R < 1 (ideal 0,5) por um período de pelo menos sete dias;

5. Taxa de vacinação no Brasil, no Estado do Rio de Janeiro e no Município do Rio de Janeiro: imunidade coletiva acima de 80% da população total.

“Recomendamos a taxa de vacinação acima de 80%, levando em consideração a variante Delta, cuja transmissão pode afetar até 10 pessoas. Essa é uma fórmula de imunidade que a epidemiologia usa, e trata-se de uma porcentagem mais conservadora. Atualmente, o único indicador que ainda não alcançamos foi o da vacinação, mas são valores totalmente possíveis de atingirmos, desde que não haja a interrupção da vacina”, afirmou o pesquisador.

O documento também reforça a adoção de protocolos rígidos, a serem elaborados pelos gestores e autoridades, baseados em informações científicas recentes, como a exigência do passaporte vacinal em espaços fechados e para a hospedagem, controle de fronteiras aéreas e terrestres, principalmente com a exigência da vacina, garantia de trabalho seguro nos barracões para os colaboradores (com oferta de testagem para os trabalhadores dos barracões, distribuição de máscaras, distanciamento físico e higienização das mãos) e a construção de mecanismos públicos (como um “Painel do Carnaval”) para o monitoramento dos indicadores ao longo de todo o processo (no mínimo a partir de 100 dias do carnaval e durando até 30 dias após o carnaval), com divulgação pública para informar as agremiações e coletivos carnavalescos sobre a segurança sanitária e a viabilidade do carnaval, a fim de calcular o impacto sobre a cidade após o evento.

A nota técnica ainda reforça que, para além desses indicadores, a sociedade deve discutir qual risco deseja assumir com a realização do evento. “Essa discussão transcende em muito os dados quantitativos oferecidos pelos indicadores. Ela é essencialmente ética.”, advertem os autores. Hermano Castro completa. “O carnaval é uma festa popular com aglomeração, tem a característica de misturar as classes sociais e pode, sim, ser um grande evento teste. Estamos discutindo os benefícios e os riscos que a sociedade pode – e deseja correr. A semana do carnaval traz impactos para a cidade nas áreas da saúde pública, da segurança pública, da economia e, em tempos de pandemia, devemos reforçar a vigilância em todos os setores”, recomendou.

Os pesquisadores reforçam que é necessário ter em mente as incertezas relacionadas ao surgimento das variantes, uma vez que a vacinação não ocorre de forma homogênea no mundo. “Também estamos atentos à possibilidade do surgimento de variantes de preocupação, ou seja, que podem modificar o curso da epidemiologia da doença (aumento de transmissão ou aumento da mortalidade e casos graves). Isso também será uma incerteza até lá. É preciso acompanhar as festas de fim de ano e os índices nas primeiras semanas de janeiro de 2022. Os riscos e benefícios da decisão da realização do carnaval devem ser assumidos por todos”.