Fiocruz compõe Força Nacional do SUS contra a febre amarela

No início do ano, o Ministério da Saúde convocou a Força Nacional do Sistema Único de Saúde (FNSUS) para atuar nos diversos municípios de Minas Gerais que sofriam com o surto de febre amarela. Três equipes, totalizando 30 profissionais, se deslocaram para o estado mineiro e prestaram atendimento à população. A médica infectologista Ana Carla Pecego e o enfermeiro Renato França da Silva, do Instituto Nacional de Infectologia (INI/Fiocruz), integraram esse grupo e relataram suas experiências durante a reunião científica Febre Amarela – precisamos estar preparados!, realizada pela Sociedade de Terapia Intensiva do Estado do Rio de Janeiro (Sotierj), no auditório do Museu da Vida, no dia 24 de abril. A apresentação foi coordenada pela Chefe do Serviço de Enfermagem do INI/Fiocruz, Mariana Machay.

Grupo relatou experiências durante a reunião científica ‘Febre Amarela – precisamos estar preparados!’ (foto: INI/Fiocruz)

Em sua exposição, Renato França da Silva explicou o que é e qual o papel dessa Força Nacional. Criada em novembro de 2011, a FNSUS é um dos componentes da Rede de Urgências e Emergência (RUE) do Ministério da Saúde, sendo um programa de cooperação voltado à execução de medidas de prevenção, assistência e repressão a situações epidemiológicas, de desastres ou de desassistência à população. Desde sua instituição, a FNSUS já atuou em 41 eventos, sendo 10 em 2012, 10 em 2013, oito em 2014, seis em 2015, cinco em 2016 e dois em 2017. “Neste ano, a Força Nacional atuou no acidente aéreo com o time da Chapecoense, na Colômbia, e agora no surto de febre amarela”, informou Renato.

A missão da FNSUS em Minas Gerais ocorreu, de 23 de janeiro a 10 de fevereiro, contando com uma coordenadora local e dividida em três equipes de 30 profissionais, envolvendo oito médicos, 17 enfermeiros e cinco técnicos de enfermagem. Tanto Renato França da Silva quanto Ana Carla Pecego atuaram no município em Novo Cruzeiro, a cerca de 2h30 do município de Teófilo Otoni (MG), situado no Vale do Rio Doce, região que também foi afetada pelo desastre de Mariana, em 2015.

A atuação da FNSUS envolvia o atendimento dos casos suspeitos de febre amarela na emergência, visita médica dos casos internados, classificação de risco diária, organização de protocolo e fluxograma de atendimento, reunião para conscientização da situação atual da epidemia na região, treinamento de médicos e enfermeiros do hospital e dos postos de saúde da região, além de treinamento e esclarecimento de dúvidas dos agentes comunitários de saúde. “É importante ressaltar que o treinamento que a FNSUS ofereceu aos profissionais dos postos de saúde foi o grande diferencial em relação ao atendimento e tratamento da população. Podemos dizer que isso salvou ajudou a salvar inúmeras vidas nessa epidemia”, disse Renato.

Outro ponto destacado pelo enfermeiro foi o papel dos agentes comunitários de saúde, que faziam visitas diárias aos pacientes, ajudavam na separação de casos suspeitos e casos de retorno no posto de saúde e que promoveram uma cobertura vacinal na zona rural dessa região de quase 80%. “A atuação deles foi incansável. Aproveitei a experiência vivida no INI/Fiocruz e ministrei uma aula que tinha comigo num pen-drive para os profissionais de saúde local explicando melhor a diferenciação de dengue, zika e chikungunya. A atividade foi muito útil para todos, uma vez que pudemos aprofundar mais nos sintomas referentes a cada uma das doenças e nas sutilezas existentes com relação à febre amarela, para que eles tivessem uma melhor noção das outras arboviroses”, concluiu.

Durante sua intervenção a infectologista Ana Carla Pecego aproveitou a oportunidade para falar sobre questões epidemiológicas e aspectos clínicos da febre amarela no Brasil. “Atualmente, 200 mil novos casos são registrados, ao ano, da doença pelo mundo, sendo que aproximadamente 15% são graves e, desse total, 50% pode levar à mortalidade. É difícil erradicar o Aedes aegypti hoje em dia devido à urbanização caótica nas nossas cidades, que cresceram sem pensar numa lógica de infraestrutura básica, por exemplo. Outro ponto importante é que a febre amarela está saindo do interior do país e chegando até o litoral. Nós temos vacinas para combater o surto mas, no momento, não temos como eliminar a doença”, destacou Ana Carla.

Em seguida, a infectologista apresentou dados do Ministério da Saúde sobre a febre amarela. Segundo o informe, até 12 de abril foram notificados 2.422 casos da doença no país, sendo 623 confirmados, 671 em investigação e 1.128 descartados. Dos 326 óbitos ocorridos, 209 foram ocasionados pela febre amarela, 64 estão em investigação e 53 foram descartados. No Rio de Janeiro, 12 casos da doença foram confirmados.

Sobre a vacina da febre amarela, Ana Carla explicou que apesar dela não ser recomendada para maiores de 60 anos, durante as ações da Força Nacional em Minas Gerais foi preciso tomar uma decisão difícil. “Contrair a doença na região de Novo Cruzeiro poderia significar a morte naquele momento. Por isso aconselhei a vacinação para todos, inclusive grávidas e idosos, pois o risco de ter algum problema com a vacina era menor do que o de adquirir a doença em si. Essa foi uma decisão local e momentânea e não se aplica para o resto do país, por exemplo”, afirmou.

Encerrando as apresentações, o médico do Instituto de Infectologia São Sebastião (IEISS), Vitor Borges, explicou o processo de manejo e as metas adotadas para os pacientes graves na região de Teófilo Otoni, em Minas Gerais. Entre as ações realizadas pela equipe da Força Nacional estavam a contratação de leitos extras em hospitais das regiões afetadas, disponibilização de equipamentos, transporte dos pacientes, apoio nas ações de vacinação, educação permanente dos profissionais de saúde e disponibilização de medicamentos e exames laboratoriais.