Desde 2008, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) atua como Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde (OMS) para leptospirose. Para planejar estratégias de atuação no escopo do acordo de cooperação, foi realizada uma visita da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) ao país, com reuniões técnicas no IOC e com autoridades das Secretarias de Agricultura e Saúde no Rio Grande do Sul. Como desdobramentos, um projeto interinstitucional liderado pela Opas, Fiocruz e os responsáveis do Estado do Rio Grande do Sul está em fase de planejamento.
À frente da direção do Centro Colaborador da OMS para Leptospirose, a pesquisadora do Laboratório de Zoonoses Bacterianas do IOC, Martha Pereira, explicou que o objetivo do encontro realizado em maio no IOC foi estreitar as relações entre as instituições, além de estabelecer planos e estratégias para os próximos dois anos. Também participaram o diretor do Instituto, Wilson Savino; a assessora em Interface Saúde Animal-Humana da Opas sediada em Washington, Cristina Schneider; o diretor da Panaftosa, Unidade de Saúde Pública e Veterinária da Opas no Rio de Janeiro, Ottorino Cosivi; e o assessor em zoonoses da Panaftosa, Victor Del Rio Vilas.
“A meta da reunião foi promover uma discussão técnico-científica e política para alinhar esforços conjuntos de cooperação internacional visando principalmente a região da América Latina e Caribe”, afirmou Martha. “O IOC abriga um Laboratório de Referência Nacional acreditado pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde que, como Centro Colaborador, nos permite concentrar ações na área e contribuir para a formulação de políticas de curto e longo prazo tanto para pesquisa como para o controle da doença”, complementou o diretor do IOC, Wilson Savino.
De acordo com Martha, uma das formas de projetar a leptospirose como tema de importância para a pesquisa e de orientar as agências de fomento em suas estratégias de financiamento consiste na elaboração de uma Agenda de Pesquisa Global com definições de prioridades e temas de relevância na abordagem específica. “Inserir a temática em uma agenda de prioridades, neste nível, requer a orientação da OMS e permitiria um avanço substancial na pesquisa científica com a geração de produtos essenciais que viabilizem os programas de vigilância e controle da doença”, afirmou Martha. A partir das discussões, está prevista a organização de uma reunião internacional para 2015. “O produto final esperado desse encontro seria a definição das prioridades em pesquisa e a estruturação de um roadmap, ou seja, um plano com metas de curto e longo prazos e soluções técnicas e tecnológicas para alcançar as metas”, explicou.
Cristina Schneider, que atua junto à sede da Opas, em Washington (Estados Unidos), destacou a importância do intercâmbio entre especialistas para a investigação de diferentes aspectos da doença. “A reunião reafirmou a liderança do Brasil como Centro Colaborador para Leptospirose situado na América Latina e, portanto, uma das principais parcerias com a Opas. Além disso, foi uma oportunidade para o reconhecimento ao apoio que tem sido dedicado a outros países, em estreita colaboração com a Opas e a OMS”, disse. A especialista enfatizou, ainda, a importância de se investir em ações como a capacitação de pessoas e o compartilhamento da expertise dos profissionais da Fiocruz.
De acordo com o diretor da Panaftosa, Ottorino Cosivi, a cooperação técnica internacional promovida pelos centros colaboradores precisa ser permanentemente estimulada. Segundo o representante da Opas, a leptospirose, no panorama das doenças negligenciadas, requer esforço colaborativo na busca por recursos. “A leptospirose ainda é uma doença, muitas vezes, negligenciada pelas autoridades de saúde pública. Quando atinge uma região, causa grande impacto para a população. Um dos objetivos do trabalho desenvolvido em rede é resgatar um problema que precisa de investimento, atuando coletivamente para alcançar os objetivos”, concluiu.
Excelência
Consequência do processo de globalização, das desigualdades sociais e da modificação ambiental, a leptospirose é uma das prioridades da OMS. Segundo o vice-presidente de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rodrigo Stabeli, a Fundação, como Centro Colaborador para Leptospirose, assumiu uma série de responsabilidades perante à Organização e passou a atuar em esfera mais ampla em termos de cooperação técnico-científica internacional nesta área. “Atualmente, a Fiocruz tem o compromisso de oferecer apoio técnico e científico para a OMS em situações epidêmicas e em todas as questões relacionadas à doença, além de investir no desenvolvimento de outros centros de pesquisa, na multiplicação do conhecimento sobre a leptospirose e na formação profissional”, destacou. Ainda de acordo com Stabeli, a atuação é um reconhecimento da excelência das atividades de diagnóstico e pesquisa desenvolvidas no IOC. “Esta parceria possibilita um aumento substancial na troca de informações e de material com outros centros de pesquisa no exterior, com impacto na orientação de trabalhos de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação”, concluiu.
Desdobramentos
De acordo com Martha, como desdobramentos, foram realizadas reuniões técnicas entre os grupos de pesquisa e autoridades das secretarias de Saúde e de Agricultura no Estado do Rio Grande do Sul. “O objetivo foi definir as equipes e os recursos institucionais, envolvendo instituições e setores vinculados às respectivas secretarias, para o desenvolvimento de um projeto interinstitucional liderado pela Opas, Fiocruz e os responsáveis do Estado do Rio Grande do Sul”, descreveu. O projeto de pesquisa, que está em andamento, foi concebido no conceito operacional de One Health (Uma Saúde), que será modelo para outras iniciativas em nível nacional e regional, assim como para a abordagem de outras patologias. O projeto está no escopo do convênio entre a Fiocruz e o Estado do Rio Grande do Sul.