A edição 78 da revista “Estudos Avançados traz como destaques textos que tratam de dois temas interligados e sintonizados com as demandas atuais da sociedade brasileira: a saúde pública e a melhoria dos padrões nutricionais. Segundo Alfredo Bosi, editor da publicação, “o número procura cumprir um dos objetivos centrais do IEA: conjugar pesquisa acadêmica e interesse pelo aperfeiçoamento de nossas políticas públicas”.
O lançamento da edição acontece no dia 13 de setembro, às 17 horas, na Sala de Eventos do IEA, num encontro sobre Saúde Pública e Nutrição. Os expositores serão José Filippi Jr., secretário municipal da Saúde de São Paulo, e dois autores de artigos no número: Carlos Augusto Monteiro, professor da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, e Ana Lydia Sawaya, coordenadora do Grupo de Pesquisa Nutrição e Pobreza do IEA.
SUS
Em “A Saúde Pública no Brasil”, artigo que abre a edição, o médico Gilson Carvalho aborda os objetivos, princípios e funções do Sistema Único de Saúde (SUS), instituído pela Constituição Federal de 1988. A partir disso, faz uma retrospectiva da política federal para o SUS nos últimos dez anos. De acordo o autor, “havia uma esperança explícita de que com o novo governo comandado por Lula a legislação fosse cumprida. O que não ocorreu nestes dez anos: oito de Lula e dois de Dilma”.
Carvalho afirma que o SUS avançou pouco nos últimos dez anos porque o governo investiu pouco na universalização da cobertura; insistiu na fragmentação do Sistema, criando programas de saúde paralelos; aumentou o espaço da iniciativa privada; e continuou a justificar os problemas da área com base na contraposição entre financiamento e eficiência.
Uma visão um pouco mais otimista do SUS é oferecida pelo odontologista Eugênio Vilaça Mendes na entrevista “25 Anos do Sistema Único de Saúde: Resultados e Desafios”. De acordo com ele, que é conselheiro da Organização Pan-Americana da Saúde, “a instituição da cidadania sanitária pelo SUS incorporou, imediatamente, mais de cinquenta milhões de brasileiros como portadores de direitos à saúde e fez desaparecer, definitivamente, a figura odiosa do indigente sanitário”.
Embora realce pontos positivos do SUS, Mendes ressalta que há muitos problemas a serem solucionados, alguns deles mencionados por Carvalho, como a segmentação do Sistema, o subfinanciamento e a ausência de universalização da saúde no país. Diante disso, aponta como caminho o fortalecimento da Estratégia de Saúde da Família (ESF) com base nas diretrizes da Atenção Primária à Saúde (APS).
NUTRIÇÃO
Doenças associadas à condição nutricional do paciente, ligadas à carência ou ao excesso de comida, estão fortemente vinculadas à saúde pública. No artigo “Abra a Felicidade: Implicações para o Vício Alimentar”, Ana Lydia Sawaya e Andrea Filgueiras argumentam que as técnicas de produção e venda utilizadas pela indústria alimentícia induzem distúrbios alimentares relacionados à obesidade e a males crônicos, como o diabetes.
As autoras afirmam que bebidas e alimentos industrializados — sobretudo os ricos em sal, açúcar e gordura — ativam neurotransmissores que controlam o estado de prazer e criam reflexos condicionados ligados à dependência. Para elas, isso demonstra a necessidade de que seja aprimorada a legislação que regulamenta a fabricação desses produtos.
Outra faceta das relações entre saúde e nutrição, ligada não ao excesso, mas à carência de alimentos, é tratada no texto “Perfil Socioeconômico, Nutricional e de Ingestão Alimentar de Beneficiários do Programa Bolsa Família”, assinado por Sawaya, Marcela Jardim Cabral, Karlla Almeida Vieira e Telma Maria Florêncio. O artigo relata os resultados do estudo que avaliou o estado nutricional, o consumo e a segurança alimentar de beneficiários do Programa Bolsa Família (PBF) residentes em favelas de Maceió, Alagoas.
Segundo as pesquisadoras, os alimentos adquiridos com recursos do PBF nem sempre apresentam a qualidade nutricional adequada para garantir a saúde dos favorecidos. Exemplo disso são os elevados índices de desnutrição em crianças e adolescentes e a presença de insegurança alimentar moderada ou grave em 67% das famílias pesquisadas. O estudo também constatou uma ingestão inadequada de micronutrientes encontrados em frutas, verduras, legumes e laticínios.
Esse quadro inclui um dado aparentemente paradoxal: a incidência de obesidade entre mulheres pobres acima de 40 anos. De acordo com as autoras, isso pode estar associado ao consumo de alimentos baratos e palatáveis, de alto índice glicêmico e densidade calórica, como biscoito, farinha e macarrão. Para elas, esse panorama revela a urgência de “ações integradas entre o PBF e setores responsáveis por políticas públicas na área de educação e saúde a fim de garantir estratégias de educação alimentar para promover a melhoria nas condições nutricionais e prevenir doenças crônicas não-transmissíveis”.
OUTROS TEMAS
Além dos nove textos sobre saúde pública e nutrição, o número 78 da “Estudos Avançados” traz mais sete artigos, divididos entre as seções “Meio Ambiente” e “Crítica e Filosofia”, um deles assinado por Bosi.
A edição conta, ainda, com cinco resenhas, dois depoimentos sobre “Energia Nuclear” e uma entrevista sobre “Política Energética” com Ildo Sauer, diretor do Instituto de Energia e Ambiente (IEE, antigo Instituto de Eletrotécnica e Energia) da USP, na qual o pesquisador traça um panorama da questão energética no Brasil, apontando pontos positivos e negativos, e defende a adoção de fontes alternativas e renováveis de energia, como a eólica e a hidrelétrica, em substituição à energia nuclear.