Embora seja raro – com cerca de 2% do conjunto de casos – o câncer de cérebro vem aumentando em várias partes do mundo. No Brasil, as mortes por tipo de câncer já estiveram em oitavo lugar entre as neoplasias, representando 4%, em 2006. Uma pesquisa que aborda os fatores que podem contribuir para esse aumento será apresentada no Congresso da Sociedade Internacional de Epidemiologia Ambiental, que será realizado em Dublin, na Irlanda. O estudo faz parte da tese de doutorado da pesquisadora da ENSP Gina Torres Rego Monteiro.
De acordo com a pesquisadora, a etiologia dos casos de câncer no cérebro é complexa e ainda pouco conhecida. Há uma linha de pesquisa sobre fatores potencialmente associados ao desenvolvimento dessa neoplasia, tais como alimentação, uso de determinados medicamentos e exposição a substâncias químicas. Enfim, ainda não se sabe ao certo o que provoca o crescimento da doença e do número de mortes. "Quando falamos em mortalidade, o câncer no cérebro já se encontra entre as dez primeiras causas de óbito por neoplasias, embora seja muito raro, com cerca de 4% de casos. Os números estão crescendo e não há nenhuma etiologia comprovada", revelou.
Em sua tese de doutorado, a pesquisadora desenvolveu um estudo de caso-controle, no qual entrevistou 238 pessoas com a doença e um outro grupo hospitalizado por outros motivos, para verificar se o conjunto de fatores apontados pela literatura tinha uma maior incidência no grupo de casos. "A maior associação detectada pelo estudo foi a exposição a solventes, mas essa era uma informação auto referida e com número de casos pequeno. Outra associação observada foi a história pregressa de trauma na cabeça. Nós perguntamos se o fato de ter tido um traumatismo craniano, que seria uma causa física, estaria relacionado ao desenvolvimento de um tumor a longo prazo. A literatura sobre essa associação é controversa, mas alguns estudos a detectaram", observou.
Segundo Gina, do ponto de vista histopatológico, há dois grandes grupos de câncer no cérebro. Um deles é o das meninges, que são tumores na membrana que envolve o cérebro, e o outro e o dos gliomas, que acontecem nos tecidos de sustentação do cérebro. "Os traumas estão mais associados à camada mais externa ao cérebro, ou seja, às meninges. Todo câncer tem a ver com reprodução de células. Dessa forma, quando há um trauma, o corpo tem que repor aquelas células mortas e é possível que alguma delas se torne cancerígena. Encontramos outros trabalhos que associam esses fatores".
Alunos também apresentarão trabalhos no congresso
Serão apresentados no congresso dois trabalhos, desenvolvidos a partir do estudo principal, que foram objeto de dissertação de mestrado. Um aborda a dieta na adolescência e outro a história ocupacional, analisando os diferentes grupos ocupacionais. Além desses, Gina irá apresentar um estudo sobre a prevalência de diabetes nos policiais militares de Teresina, no Piauí. O tema do congresso este ano será ‘Alimentação, Ambiente e Saúde no Mundo’, e ele ocorre de 25 a 29 de agosto. De acordo com Gina, ele aborda fundamentalmente questões de epidemiologia e meio ambiente, e a participação de alunos em eventos desse porte é muito importante.