Para avaliar o papel da inflamação crônica de baixo grau no agravamento da Covid-19 em pessoas com diabetes, pesquisadores da Fiocruz Bahia analisaram dados clínicos e amostras de sangue de pacientes com e sem diabetes internados com o Sars-CoV-2. Embora se saiba que a diabetes é um fator de risco para Covid-19, ainda se desconhece os mecanismos envolvidos na evolução da doença em indivíduos com esta comorbidade.
Liderados pela pesquisadora da Fiocruz Bahia, Natália Tavares, os cientistas avaliaram os mediadores inflamatórios e células mononucleares para análise da expressão gênica. Os resultados da pesquisa foram publicados na Diabetes, uma das revistas científicas mais importantes do mundo sobre o tema. Os achados mostram que a diabetes induz um perfil pró-inflamatório nas células circulantes do sistema imunológico com aumento da expressão dos genes ACE2 e ALOX5, tornando-as mais propensas à invasão do novo coronavírus.
Os pesquisadores também observaram o aumento do leucotrieno B4 (LTB4) nas células sanguíneas desses pacientes, um mediador lipídico associado a alterações como inflamação e comprometimento da cicatrização na diabetes, indicando que o LTB4 pode ser um mediador que aumenta o risco de Covid-19 grave em indivíduos com a comorbidade e um dos causadores da resposta inflamatória sistêmica mais pronunciada. Estes pacientes requerem cuidados intensivos com mais frequência devido à lesão pulmonar.
No estudo, as taxas de mortalidade foram semelhantes entre pacientes com Covid-19 com ou sem diabetes, mas a gravidade da doença foi maior nos indivíduos com a diabetes, bem como a redução da saturação de oxigênio e o aumento significativo da duração da Covid-19. O aumento das expressões dos genes ACE2 e ALOX5 e do nível sérico de IL-6, este último observado apenas em indivíduos com diabetes que requerem assistência de terapia intensiva, sugerem que os níveis sistêmicos de LTB4 e IL-6, além da expressão sanguínea de ACE2 / ALOX5, podem ser marcadores precoces de Covid-19 grave em indivíduos com esta comorbidade.
Os resultados da pesquisa confirmam que a sinalização LTB4 exerce um papel importante na resposta inflamatória observada na Covid-19 em pacientes com diabetes e reforça a possibilidade de sua inibição na prática clínica. Os cientistas ressaltam que, levando em conta que cerca de 463 milhões no mundo vivem com a diabetes e a Covid-19 é altamente transmissível, é urgente a necessidade de identificação de mecanismos que previnam a infecção nesse grupo de pessoas.