A relação entre os padrões de sono, sonolência e desempenho nos estudos foi tema de pesquisa desenvolvida na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. De acordo com o estudo, a dupla jornada profissional e acadêmica interfere negativamente no tempo que estudantes universitários dedicam às aulas. Além disso, as mulheres apresentaram maiores níveis de sonolência no período da manhã do que os homens.
A tese de doutorado O trabalho de jovens universitários e repercussões no sono e na sonolência: trabalhar e estudar afeta diferentemente homens e mulheres?, da bióloga Roberta Nagai Manelli mostra que os universitários que trabalham durante o dia e estudam à noite apresentam redução no tempo de sono durante os dias úteis da semana e têm rebote de sono aos finais de semana.
Segundo a pesquisadora, 82 alunos entre 21 e 26 anos do período noturno da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP participaram do estudo. Durante 7 dias consecutivos, os alunos utilizaram um equipamento chamado actímetro, que é um acumulador de dados capaz de detectar os momentos de repouso (sono) e vigília ao longo das 24 horas do dia.
Durante os dias de trabalho, os estudantes têm um dia longo, pois acordam muito cedo por causa do trabalho e dormem muito tarde devido à vida acadêmica. Com essa dupla jornada, eles apresentam expressiva redução no tempo de sono, o que pode influenciar negativamente o desempenho acadêmico, no trabalho e no tempo livre que dispõe durante a semana. Os universitários que têm jornadas de trabalho mais longas foram aqueles que mais faltaram às aulas, comprometendo o desempenho acadêmico, explica Roberta.
Foi observado que os estudantes que trabalham dormem, em média, de 5 a 6 horas por noite. Segundo a pesquisadora, não é possível dizer se é uma média baixa, pois isso depende de cada um. Há pessoas conhecidas como grandes dormidores, que precisam dormir mais de 8 ou 9 horas por noite e existem também os pequenos dormidores, que precisam dormir bem menos do que 8 horas, diz.
Entre os problemas que a redução de sono normalmente causa estão o alto nível de sonolência diurna e o aumento no tempo de reação, que pode estar relacionado a acidentes de trabalho, por exemplo. A longo prazo, os problemas causados pela sonolência podem ficar mais graves e desenvolver um distúrbio de sono e episódios de micro-sonos involuntários durante o dia, em que a pessoa dorme sem perceber enquanto está realizando alguma atividade.
Padrões de sono
Algumas diferenças foram verificadas nos padrões de sono da faixa etária estudada. A principal diferença está em relação à duração de sono e sonolência entre homens e mulheres. Como já havia sido observado na literatura, a duração do sono das mulheres foi maior que a dos homens. Tanto nos dias de trabalho quanto nos finais de semana essa diferença foi em torno de 1 hora. Alem disso, as mulheres apresentaram maior eficiência de sono. No entanto, ainda assim, as mulheres apresentaram maiores níveis de sonolência quando comparadas aos homens e maiores tempos de reação, explica Roberta.
Nos finais de semana foi observado o chamado rebote de sono, no qual a duração de sono foi mais de 1,5 horas (h) maior se comparada aos dias de trabalho. Segundo a pesquisadora, os resultados da pesquisa mostraram que menores níveis de sonolência e tempos de reação mais rápidos foram observados nos finais de semana. Possivelmente, o aumento do alerta no domingo pode ser um reflexo de 2 noites de sono em que os jovens puderam dormir o quanto desejavam. Por outro lado, não é possível afirmar que houve uma completa recuperação no fim de semana, pois neste estudo não foram incluídas questões sobre necessidade de sono ou de recuperação nos finais de semana.
Segundo a bióloga, há várias hipóteses para explicar essas diferenças observadas entre os sexos. Entre as hipóteses existentes podemos citar a maior necessidade de sono das mulheres, as diferenças biológicas e diferentes formas de lidar com o estresse causado pela dupla jornada trabalhar e estudar. Mas ainda são necessários outros estudos para melhor esclarecer as diferenças entre os sexos relativas ao sono, completa.
Defendida em dezembro de 2009, a pesquisa foi orientada pela professora da Frida Marina Fischer, da FSP, e contou com o auxílio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Mais informações: email rnagai@usp.br; com a pesquisadora Roberta Nagai Manelli