Em 2020, as operações de pesquisa não puderam ocorrer no continente gelado em função das restrições provocadas pela pandemia de Covid-19. Ao mesmo tempo, a atual crise sanitária demonstrou a importância do conhecimento em saúde, da vigilancia, e de integrar a saúde humana, ambiental e animal, para dar respostas aos desafios do presente e do futuro. Por isso, este ano, as equipes se preparam para novas missões de pesquisa e já debatem formas de dar respostas ainda mais robustas ao Sistema Único de Saúde (SUS) e à sociedade. As próximas missões do projeto Fiocruz na Antártica (FioAntar) estão planejadas de outubro de 2021 a março de 2022 e seguirão rígidos protocolos sanitários impostos pela pandemia para garantir a segurança não apenas dos envolvidos, mas também do próprio ambiente antártico. As explorações poderão ser acompanhadas pelo site do projeto.
Parte do preparo para as missões consistiu na organização de um seminário interno (18/6) em que cada um dos nove laboratórios que compõem o FioAntar teve a oportunidade de apresentar o andamento das suas pesquisas, assim como de discutir sugestões metodológicas e procurar sinergias com os outros laboratórios e integrantes da iniciativa. As trocas renderam frutíferas discussões: houve compartilhamento de resultados, formação de grupos de trabalho e de estudo, e alinhamento de metodologias e fluxos. Com todas estas energias convergindo, surgiram propostas para aprimorar as entregas que o FioAntar pretende oferecer ao SUS e à sociedade brasileira.
O alto potencial de entrega de resultados desse projeto está associado ao modelo em que foi concebido e que tem sido considerado um grande diferencial na condução da pesquisa: o Fioantar reúne pesquisadores de nove laboratórios da instituição, especializados em bioinformática, genómica, vírus, bactérias, fungos, líquens, micobactérias e helmintos. Trata-se de um projeto multidisciplinar que permite à Fiocruz responder a perguntas científicas sob a perspectiva de diversos campos de pesquisa e de forma integrada.
O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde, Marco Krieger, que esteve no encontro, ressaltou a importância e o caráter único de Fioantar dentro do Programa Antártico Brasileiro. “Temos uma posição bastante importante e um papel diferenciado, inclusive com uma visão de emergência sanitária um pouco anterior a uma das maiores emergências sanitárias que a humanidade já viveu. Vai ser relevante continuar levando a bandeira da Fiocruz, pois, além do laboratório, nossa responsabilidade aumenta com essa importante ação de biovigilância”, disse o vice-presidente. O vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas, Rodrigo Correa, também esteve presente no seminário e destacou a importancia da prospecção da biodiverdade antártica.
Os desafios do FioAntar são diversos e vão desde o aprimoramento do processo de georreferenciamento das amostras até a capacitação e o envolvimento de toda a equipe e dos laboratórios na análise metagenômica. Ao longo da discussão, a maioria dos desafios encontrou propostas e linhas de ação direcionadas a melhorar a qualidade da entrega do projeto. Uma destas propostas é a concentração das informações levantadas pelos diversos subprojetos em uma metodologia de avaliação dos riscos dos microrganismos identificados para a saúde humana, ambiental e animal. “Essas metodologias que estruturam os dados obtidos em campo com dados de bibliografia, podem nos permitir resultados potentes com capacidade de influenciar a comunidade científica internacional e a sociedade”, disse Martha Lima Brandão, pesquisadora do Laboratório de Paleoparasitologia.
Segundo Martha, o encontro concluiu com a sensação coletiva de “saber aonde estamos chegando e aonde podemos chegar”. De igual forma, o seminário reforçou o legado que este projeto significa para a sociedade. Pesquisadora do Laboratório de Paleoparasitologia, Márcia Chame reforçou: “FioAntar tem o papel de ser um legado para a humanidade. É a cara da Fiocruz por ser ciência de longo prazo. E é estratégico para a soberania nacional. Ou você quer algo mais estratégico do que a biodiversidade?”.
Essas serão as primeiras missões ao continente em que os pesquisadores poderão contar com o suporte do Fiolab para agilizar as análises do material coletado em campo, um laboratório de biossegurança equipado e mantido pela Fiocruz e inaugurado junto com a nova Estação Antártica Comandante Ferraz em janeiro de 2020. O Fiolab, resultado do acordo de cooperação firmado com a Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Secirm/Marinha do Brasil), é um laboratório de biossegurança preparado para responder às necessidades de vigilância epidemiológica e sanitária do país, e dar suporte às pesquisas, de forma segura, em saúde e ambiente na Antártica.