Erradicação da malária é tema de Escola São Paulo de Ciência Avançada

O Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) seleciona, até 31 de maio, alunos de graduação, pós-graduação e pós-doutorado brasileiros e estrangeiros para a Escola São Paulo de Ciência Avançada para a Erradicação da Malária, que será realizada em São Paulo (SP) de 22 de setembro a 2 de outubro.

O evento é organizado no âmbito da Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA), modalidade de apoio da FAPESP.

Para Marcelo Urbano Ferreira, chefe do Departamento de Parasitologia do ICB e coordenador do evento, trata-se de uma oportunidade reaberta para o Brasil, que praticamente erradicou a malária entre os anos 1950 e 1960, mas tornou a ter sua população vitimada pela doença nas décadas seguintes.

“Ao final da década de 1960, a malária havia desaparecido de praticamente todo o território nacional. Menos de 10% da população brasileira vivia em áreas com incidência da doença. Dificuldades surgidas não só no Brasil, mas em vários outros países, fizeram com que a malária voltasse a ser um grande problema. Nos anos 2000, o interesse global pela sua erradicação foi renovado e o Brasil já avançou muito no controle das infecções desde então, mas são necessárias novas estratégias para que essa conquista não se perca”, disse à Agência FAPESP.

De acordo com Urbano Ferreira, o principal objetivo das pesquisas na área é combater a chamada malária residual, que continua a ser transmitida a despeito das medidas de controle conhecidas, como o uso de mosqueteiros impregnados com inseticida, aplicação de inseticidas de ação residual, que ficam retidos nas paredes das casas, e diagnóstico e tratamento precoces dos casos, que não só evitam complicações clínicas como reduzem as transmissões.

“As medidas que conhecemos e aplicamos conseguem sucesso até determinado ponto. Eliminar os últimos focos de infecção e combater a malária residual exige novas medidas, e é aí que entra a ciência”, afirmou.

As novas estratégias estudadas buscam, entre outras medidas, eliminar os vetores que não entram na casa e para os quais o mosqueteiro não é eficaz, diagnosticar os casos em que o número de parasitas no sangue é baixo e as técnicas diagnósticas atuais não funcionam e desenvolver drogas mais fáceis de serem administradas, em dose única em vez de múltiplas doses, seguras a ponto de serem aplicadas em larga escala sem riscos de complicações.

No ICB-USP, alguns estudos epidemiológicos buscam caracterizar a malária residual principalmente em áreas rurais da Amazônia.

“Concluímos recentemente um desses estudos, realizado num assentamento agrícola no sul do Amazonas, tratando do papel das infecções assintomáticas, em que o parasita da malária está presente mas o indivíduo se sente bem e por isso não busca diagnóstico. Isso pode manter a malária residual fora das políticas de controle”, explicou Urbano Ferreira.

Essas e outras experiências do ICB e de instituições brasileiras e estrangeiras convidadas serão compartilhadas na Escola São Paulo de Ciência Avançada para a Erradicação da Malária.

A programação conta com mesas-redondas, oficinas, palestras, visitas a laboratórios e atividades práticas relacionadas à biologia e à epidemiologia da malária, novas ferramentas para a erradicação da doença, conhecimentos sobre os vetores e transmissão dinâmica, história do controle das infecções, técnicas de vigilância, comunicação e advocacia e impacto de fatores sociais, políticos e ambientais, entre outros temas.

As inscrições são gratuitas e podem ser feitas on-line. São disponibilizadas 100 vagas, sendo metade para brasileiros. O resultado da seleção será divulgado até o dia 30 de junho e os participantes selecionados terão hospedagem e transporte custeados pelo evento.

A programação foi registrada como uma disciplina do Programa de Pós-Graduação em Biologia da Relação Patógeno-Hospedeiro do ICB e os alunos matriculados que se inscreverem no evento receberão quatro créditos.

A Escola São Paulo de Ciência Avançada para a Erradicação da Malária será realizada na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, localizada na Avenida Dr. Arnaldo, 715, na capital paulista.

Além da FAPESP, apoia o evento a Fundação Bill e Melinda Gates, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Organização Panamericana de Saúde (Opas).

Mais informações e inscrições em http://scienceoferadication.org/courses/science-of-eradication-malaria-brazil/overview/.