A solenidade da quinta edição do Prêmio Destaque ENSP será realizada na quinta-feira (16/9) como parte das comemorações dos 56 anos da Escola. Quatro categorias serão premiadas: Assistência, Ensino, Gestão e Desenvolvimento Institucional e Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico. O Prêmio foi criado em 2006 e tem o objetivo de reconhecer os projetos e equipes que contribuem significativamente para o bom desempenho da Escola. Na ocasião, a Direção da Escola prestará uma homenagem ao pesquisador Carlos Tobar, um dos fundadores do Centro de Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP), que morreu no dia 30 de agosto. A cerimônia está marcada para as 9 horas no auditório térreo da ENSP e será aberta ao público.
Prêmio Destaque ENSP 2010
Assumindo que a vocação da ENSP é múltipla na contribuição para um sistema de saúde mais eficiente para a população brasileira, a ideia do prêmio é, a cada ano, reconhecer profissionais ou grupos que fazem diferença nas quatro áreas focalizadas. Mais do que o reconhecimento ao mérito ou à produtividade dos profissionais da ENSP, o prêmio pretende valorizar a capacidade de inovação e agregação de valor ao que a Escola faz.
Conheça os vencedores:
Categoria Ensino
Curso de especialização em Saúde Pública
O curso mais tradicional da ENSP foi criado em 1926 e faz parte da grade curricular da Escola desde 1954. Tem por objetivo introduzir o aluno no campo da saúde coletiva e gerar competências gerais e específicas para a sua atuação como sanitarista. Busca ainda apresentar e refletir sobre conceitos estruturantes correspondentes às subáreas constitutivas da saúde pública. O curso capacita o aluno para a identificação de problemas prioritários na área da saúde, buscando soluções criativas.
Registros históricos relatam que, nos anos 20, o curso era denominado de Higiene e Saúde Pública, ligado ao Instituto Oswaldo Cruz (IOC). Ao longo das décadas, foi ganhando vários formatos até o surgimento da Escola Nacional de Saúde Pública, em 1954. O curso de especialização em Saúde Pública cumpre um papel muito importante ao longo da história. Um deles é responder questões relacionadas à formação em saúde pública. Historicamente, existiam graduações no campo da saúde que incorporavam o compromisso com a saúde pública de forma fragilizada. Com isso, o mercado contava com profissionais com pouca experiência no conhecimento e na prática em saúde pública. O curso de especialização passa a dar uma formação inicial em saúde publica para esses profissionais. Ao longo dos anos, surgiu a ideia de que não havia mercado para o profissional especializado em saúde pública.
Em 1998, o curso mais antigo da ENSP deu início à reformulação do seu modelo de oferta. Desde então, a procura tem crescido a cada ano. Em 2008, a especialização bate seu recorde de inscrições, atingindo a marca de 588 candidatos inscritos. Além disso, as diferentes áreas de formação que buscam a saúde pública e a grande quantidade de recém-formados que procuram o curso são também destaques desta especialização. Durante mais de doze anos de transformações, o curso vem se aprimorando e se adaptando às novas necessidades da vida moderna, com significativas mudanças na ementa e na grade de horários.
Atualmente, o curso é coordenado pelos pesquisadores Marina Ferreira Noronha, José Inácio Jardim Motta e Pablo Dias Fortes.
Categoria Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico
Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas
O I Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas fez uma radiografia detalhada e abrangente sobre as condições de vida e de consumo dos índios brasileiros. De acordo com o estudo – coordenado pelos pesquisadores Carlos Coimbra, Ricardo Ventura e Andrey Cardoso, da ENSP/Fiocruz, e Bernardo Horta, da Universidade Federal de Pelotas -, a hipertensão arterial já se coloca como uma questão de saúde importante para as mulheres indígenas, atingindo mais de 15% delas, assim como a obesidade, que atinge mais de 50%.
As crianças, por sua vez, apresentam desnutrição, diarreia, anemia e carteira de vacinação desatualizada. "Com esse inquérito, foi possível produzir um importante conjunto de dados sobre o perfil dos povos indígenas no Brasil, com aplicação direta no delineamento de políticas públicas em saúde", comentou Coimbra.
O inquérito nacional é uma realização da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), com apoio do Ministério do Desenvolvimento Social de Combate à Fome. Foi financiado pelo Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird) e executado por meio de uma parceria entre a Abrasco e o Instituto de Estudos Ibero-Americanos, da Universidade de Gotenburgo, na Suécia. O inquérito teve a participação de pesquisadores de dezenas de instituições brasileiras. Na ENSP, a equipe também contou com a participação de alunos dos programas de pós-graduação da Escola e egressos.
Categoria Assistência
Sistema de Vigilância Epidemiológica da Tuberculose Multirresistente (Sistema TBMR)
O Sistema de Vigilância Epidemiológica da Tuberculose Multirresistente (TBMR) foi desenvolvido pelo Centro de Referência Prof. Hélio Fraga/ENSP em parceria com o Projeto MSH (Management Sciences for Health) e apoio da USAID (United States Agency for International Development). Permite a notificação e acompanhamento de todos os casos de TBMR, o gerenciamento do envio e estoque dos medicamentos, e a pesquisa e emissão de relatórios epidemiológicos e operacionais. Atualmente, o sistema está sofrendo uma extensão para ampliar o universo de pacientes notificados, incluindo todos os casos de resistência e retratamento no Brasil.
Com a integração do Centro de Referência Professor Hélio Fraga à estrutura da ENSP/Fiocruz, o Sistema de Vigilância Epidemiológica da Tuberculose Multirresistente (Sistema TBMR) migrou para a área de tecnologia da informação da Escola, ganhando mais velocidade no acesso e na inclusão de dados. O objetivo do sistema é estabelecer condutas e definir fluxos para notificação, análise de informação, diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos casos diagnosticados, além de medidas preventivas e o controle dos contatos.
A correta assistência e o acompanhamento dos pacientes de tuberculose são os maiores desafios por se tratarem muitas vezes de quadros graves, de alta letalidade e com histórico de dificuldades de aderência a tratamentos anteriores. Sem uma proposta abrangente de assistência, o tratamento desses pacientes teria uma evolução lenta, levando à transmissão do bacilo resistente, com o possível adoecimento de familiares e outros membros da comunidade e, na maioria dos casos, ao óbito.
Categoria Gestão e Desenvolvimento Institucional
Programa de apoio à pesquisa, desenvolvimento e inovação em saúde pública (Inova ENSP)
O Inova-ENSP é um programa de apoio à pesquisa, desenvolvimento e inovação em saúde pública, que tem o objetivo de incentivar a implantação de uma estratégia institucional voltada para o fortalecimento da dimensão da pesquisa na ENSP, contribuindo, dessa forma, para o reposicionamento da Escola como protagonista no que diz respeito a questões da esfera do Estado e de políticas públicas.
Segundo a vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da ENSP, Margareth Portela, responsável pelo Projeto Inova-ENSP, "o programa de pesquisa representa um esforço institucional de agregação de iniciativas e de expertise para produção de conhecimento relevante". Essa ação, de acordo com ela, vai priorizar áreas temáticas que reforcem a identidade da ENSP na dimensão da pesquisa, como também dará prioridade aos projetos que estejam associados à pós-graduação da Escola por meio da participação de alunos de mestrado e doutorado.
Em paralelo, o atual programa de pesquisa da ENSP constitui-se em um estímulo a melhorias no desempenho dos grupos de pesquisa, visando à transformação desses em células institucionais que reúnam ensino, produção de conhecimento e cooperação. Em março de 2010, dos 36 projetos apresentados, foram selecionados 15 projetos inovadores em saúde pública, após avaliação de um comitê científico composto de 16 bolsistas de produtividade CNPq e ratificados por um comitê assessor formado por quatro pesquisadores, todos externos à Escola.
Confira, abaixo, a listagem completa dos 15 projetos selecionados.
Temáticos:
Desenvolvimento econômico, saúde e ambiente
Sandra de Souza Hacon – Mudanças ambientais globais e efeitos nos ecossistemas e na saúde da região do arco do desmatamento – uma análise integrada para a bacia do Rio Madeira
Desigualdades sociais e saúde
Paulo Cesar Basta – Desigualdades sociais e tuberculose: distribuição espacial, fatores de risco e farmacogenética na perspectiva da etnicidade
Formulação, implementação e avaliação de políticas
Maria do Carmo Leal – Inquérito epidemiológico sobre as consequências da cesariana desnecessária no Brasil
Organização de sistemas e serviços de saúde
Monica Andrade – Fortalecimento do sistema de saúde para o controle da tuberculose em população indígena
Tendências e cenários de saúde no Brasil
Maria Cecília de Souza Minayo – É possível prevenir a antecipação do fim? Suicídio de idosos no Brasil e possibilidades de atuação do setor saúde
Universais:
Ana Maria Cheble Bahia Braga – Estudo propositivo para implantação de ações de vigilância em fábricas de cimento no Brasil
Carlos E. A. Coimbra Jr. – Mudanças sócio-ambientais, saúde e nutrição entre o povo indígena Xavante do Brasil central
Francisco José Roma Paumgartten – Avaliação dos riscos à saúde da exposição a agentes químicos: desregulação endócrina, carcinogênese e modulação do metabolismo de zenobióticos
Inês Echenique Mattos – Condições de saúde de idosos institucionalizados: uma proposta de avaliação de necessidades e utilização da classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde para planejamento de ações de prevenção e reabilitação
Jeni Vaitsman – Análise de políticas públicas e de saúde no Brasil
Marilene de Castilho Sá – Avaliação de experiências inovadoras no âmbito da organização e gestão da atenção em hospitais do SUS
Marina Ferreira de Noronha – Avanços para a conta-satélite de saúde: características econômicas da produção de serviço de saúde privados e do consumo de serviços de saúde pelas famílias
Monica Siqueira Malta – O impacto do acesso gratuito à terapia antirretroviral no Brasil: análise de sobrevida
Rosalina Jorge Koifman – Qualidade de vida subsequente ao tratamento do câncer de colo uterino
Sergio Koifman – Epidemiologia genômica do câncer de mama
Prêmio Destaque foi lançado em 2006
Em 2006, na primeira edição do Prêmio Destaque ENSP, os vencedores de cada categoria foram: Ensino – Paulo Chagastelles Sabroza (Densp); Pesquisa – Luiz Antônio Camacho (Demqs); Gestão – Carlos Coimbra Júnior (Cadernos de Saúde Pública); e Assistência – Celina Santos Boga Marques Porto (CSEGSF).
Em 2007, os vencedores de cada categoria foram: Gestão – Pedro Barbosa; Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico – Maria Eliana Labra; Ensino- Adolfo Horácio Chorny; e Assistência – Janete Lima Reis.
Em 2008, foram quatro as equipes premiadas: Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (Projeto Elsa) – categoria Pesquisa; Curso de Especialização em Saúde da Família nos Moldes da Residência – categoria Ensino; Coordenação de Comunicação Institucional – categoria Gestão e Desenvolvimento Institucional; e Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria – categoria Assistência.
Em 2009, os vencedores foram: categoria Assistência – Serviço de Audiologia do Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP); categoria Ensino – Educação a Distância; categoria Gestão e Desenvolvimento Institucional – Serviço de Gestão de Compras e Contratos, da Vice-Direção de Desenvolvimento Institucional e Gestão; categoria Pesquisa – Plano de Monitoramento Epidemiológico do Processo de Implantação do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).
Quem foi Carlos Tobar
O cientista social Carlos Rodolfo Tobar Sanchez faleceu no dia 30 de agosto na Argentina, aos 75 anos. Um dos fundadores do Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP/Fiocruz) no fim da década de 80 e da Fundação de Ensino, Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da ENSP (Fensptec) no final dos anos 90 – atual Fiotec -, Tobar se destacava em tudo o que fazia.
Nascido na Argentina e formado em Sociologia pela Universidade Nacional de Buenos Aires, ficou conhecido por sua atuação nas áreas de saúde ambiental e de gestão. Com visão ampla e interdisciplinar das questões humanas, era defensor das causas sociais. Sua permanente luta pela saúde pública e pela igualdade social sempre foi baseada em preceitos éticos e morais.
Em 1961, obteve bolsa integral das Nações Unidas para se incorporar à primeira turma de mestrandos em Sociologia da Flacso, em Santiago do Chile, quando foi aluno de Peter Heintz, Enzo Faletto e Fernando Henrique Cardoso. Retornou à Argentina em 1964 como pesquisador do Centro de Estudos Urbanos e Regionais (Ceur), que primeiro funcionou na cidade de Rosário e, mais tarde, foi incorporado ao Instituto Torcuato Di Tella, em Buenos Aires.
Em 1972, passou a professor com dedicação exclusiva na Universidade Nacional do Comahue, onde criou a faculdade de Ciências Sociais, da qual foi decano. Na ditadura militar, foi suspenso desses cargos, retomando a eles com a volta da democracia, em 1983. A partir de então, começou a desenvolver projetos de pesquisa em saúde coletiva, os quais o levaram à Fiocruz para cursar a Especialização em Planejamento em Saúde.
Estabeleceu-se no Brasil e foi incorporado à Fiocruz em 1995, primeiro, na Diretoria de Planejamento, na gestão do então presidente Sergio Arouca, e, em seguida, como pesquisador do Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP), onde foi coordenador. Colaborou de forma ativa com a Direção da ENSP, participando de conselhos e comissões, como o Conselho Deliberativo, a Câmara Técnica de Gestão, Infraestrutura e Preservação e a Comissão de Recursos Humanos.
Ainda na ENSP, Carlos Tobar foi chefe de gabinete na gestão de Adauto José de Araújo, de 1994 a 1997. Aposentou-se em 2005, aos 70 anos, como pesquisador do Departamento de Endemias Samuel Pessoa. Na Fiocruz, o sociólogo foi também diretor-administrativo da Fioctec.
Ao se aposentar, retornou à Argentina buscando recuperar a proximidade com seus quatro filhos e netos. Tobar faleceu vítima de doença pulmonar obstrutiva crônica severa (Epoc) após longo período de convalescência.