Jogo criado por pesquisadores da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto ensina crianças a manejarem a doença para terem mais qualidade de vida
Nos últimos tempos, os jogos em saúde têm sido muito utilizados pela ciência como forma de educar e mudar comportamentos de pacientes que têm diversas doenças. Segundo especialistas, esses jogos ajudam o paciente a mudar a forma como encaram a sua doença e o seu tratamento.
Para alcançar esses resultados, a Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP está desenvolvendo um jogo para crianças com diabetes mellitus tipo 1. O game, intitulado “Os Heróis do Diabetes”, tem o intuito de ensinar crianças, principalmente com idade entre 7 a 12 anos, a manejar melhor a sua doença e a aprender a se cuidar perante suas limitações e necessidades, gerenciando melhor a sua doença, o que contribui para melhorar a qualidade de vida.
A autora do projeto, Valéria de Cássia Sparapani, enfermeira pediátrica e educadora em diabetes, conta que, com a criação do videogame, as discussões e estratégias para o desenvolvimento de jogos em saúde podem ganhar novos ares, uma vez que a busca é sempre por jogos que alcancem seus objetivos e promovam bons resultados, que sejam educativos e divertidos e que tragam benefícios para as pessoas. Nesse aspecto, Valéria afirma que seu estudo é importante para a ciência, porque contribui para o avanço dessas discussões, além de contribuir para inserir a Enfermagem neste campo de estudo, profissão que pode, e muito, contribuir para o desenvolvimento desta tecnologia”.
Preferências
Para desenvolver um jogo educativo e, ao mesmo tempo, divertido, atendendo às necessidades dos pacientes, diz Valéria, nada mais importante do que ouvir os futuros usuários do videogame. E foi feito exatamente isso.
Para traçar o perfil dos acometidos pela doença, a enfermeira desenvolveu grupos focais e entrevistou crianças entre 7 e 12 anos de idade, com diabetes mellitus tipo 1 que se encontravam em tratamento no Ambulatório de endocrinologia e diabetes infantil do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP. Com essas técnicas, Valéria identificou necessidades de aprendizagem quanto ao cuidado e manejo da doença: alguns aspectos que interferem negativamente no manejo e no cuidado da doença. “A falta de conhecimento sobre o diabetes, não saber corretamente como controlar e superar as emoções, além da ausência de habilidades necessárias para realizar as tarefas do autocuidado, são alguns deles”.
Segundo Valéria, foi constatado, também, que as crianças têm algumas preferências quanto ao videogame. Elas esperam um jogo que as ensinem sobre a sua doença e as dificuldades, mas de uma forma leve e divertida. Escolher a aparência do personagem, viajar para lugares diferentes dos habituais e superar obstáculos, foram outras exigências dos futuros jogadores.
O jogo
Os Heróis do Diabetes conta a história de uma criança com diabetes, que vivencia as diversas fases da doença, desde a sua descoberta. O personagem principal, que será a própria criança que joga, vai passar por cada fase, superando obstáculos relacionados às tarefas de autocuidado e ao conhecimento sobre a doença. Um dos objetivos, é fazer com que o jogador esqueça do presente e entre na história do jogo, como se ela estivesse acontecendo na vida real. Então, ao mesmo tempo em que a criança joga, ela vai vivenciar situações que já passou e que ainda vai passar, que vão ajudá-la no futuro. O videogame ainda instiga e reflexão acerca do comportamento dos jogadores, fazendo com que a criança aprenda a lidar melhor com as demandas do diabetes.
O jogo é composto por seis fases, resultado da estrutura conceitual desenvolvida por Valéria, no seu doutorado. Estas fases mostram a criança descobrindo e conhecendo a doença, superando emoções do dia a dia, aprendendo novas habilidades e finalmente ajudando outros amiguinhos que também têm diabetes, se tornando, então, um super-herói.
A primeira etapa desta estrutura conceitual deu origem ao jogo “O poder do conhecimento”, que está previsto para ficar totalmente pronto até junho de 2017. Inicialmente, ele será testado com as crianças do HCFMRP antes de ser disponibilizado gratuitamente no portal da EERP. A pesquisa que deu origem ao jogo teve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A criação do game “Os Heróis do Diabetes”, faz parte da tese Um jogo feito pra mim: estrutura conceitual para o desenvolvimento de videogames para crianças com Diabetes melittus tipo 1, orientada pela professora Lucila Castanheira Nascimento e defendida no final de 2015.
Stella Arengheri, de Ribeirão Preto
Mais informações: e-mail valsparapani@hotmail.com