Todo mês de fevereiro, o Ministério da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) lançam campanha de conscientização contra o câncer, aproveitando o Dia Mundial do Câncer (4 de fevereiro). Durante todo o mês, a mobilização tem o objetivo de aumentar a consciência e educação sobre a doença, além de diminuir o estigma em torno da doença e esclarecer alguns mitos e verdades sobre o câncer.
A campanha deste ano irá difundir conhecimento sobre o câncer e informações contra as falsas ideias em relação à doença. Ela gira em torno de quatro temas principais, que são: ‘Temos que falar sobre o Câncer’; ‘Câncer pode ser diagnosticado com antecedência’; ‘Câncer, é possível prevenir’; e ‘Câncer, todos têm direito ao tratamento’. O Blog da Saúde conversou com o Diretor-Geral do INCA, Luiz Antônio Santini, que nos explicou a importância da informação no combate à doença:
Qual o papel da informação e das campanhas de esclarecimento como essas para a saúde na área do câncer?
O INCA e o Ministério da Saúde encaram a informação como crucial para conter as doenças, especialmente doenças que podem ser prevenidas e possíveis de serem evitadas pelo paciente. E esse é o caso do câncer. A comunicação para o caso do câncer não é um elemento adicional, ela é um componente estratégico. É tão importante quanto qualquer outra medida de controle da doença.
O primeiro tema da campanha é o de que precisamos falar sobre o câncer. Ainda existe um tabu para falar no assunto?
As pessoas têm medo de falar sobre o câncer, muitos nem falam a palavra câncer. Falam que estão com aquela doença ou com uma doença. E o que observamos nas unidades de tratamento do câncer é que as pessoas perdem até a oportunidade de se tratar porque elas têm medo de descobrir que têm câncer. Por isso a gente faz questão de que se fale sobre o câncer, para que a pessoa saiba que é uma doença múltipla, existem muitas formas de canceres. E alguns tipos oferecem amplas possibilidades exitosas de cura e a prevenção pode evitar seu aparecimento.
Portanto, essa expectativa de mais de 500 mil novos casos de câncer pode ser reduzida se conseguirmos fazer com que as pessoas parem de fumar, diminuam a quantidade de álcool, aumentem sua atividade física e modifiquem seus hábitos alimentares. Só isso pode ter grande influência no câncer de pulmão, no câncer do colo retal, vários tipos. Outra coisa é a vacina contra a hepatite B que protege contra o câncer de fígado. Varias possibilidades existem para as pessoas evitarem a aparição do câncer, se tiverem conhecimento.
Outro tema é que o câncer pode ser diagnosticado com antecedência. Por que é preciso reforçar isso?
O câncer de colo do útero é um câncer que leva muitos anos para se instalar, desde a infecção pelo vírus do HPV até a instalação do câncer. Então se fizer os exames preventivos conforme o Ministério da Saúde e INCA recomendam, a pessoa vai ter a oportunidade de tratar antes que o câncer apareça. A mesma coisa é o câncer de mama. A mamografia na faixa indicada, a partir dos 50, poderá detectar um câncer precocemente e a pessoa será curada.
Outro tema da campanha é o da prevenção. As pessoas ainda acreditam que o câncer não pode ser evitado?
As pessoas muitas vezes não vinculam suas atitudes, modos de vida, seus hábitos, com o aparecimento do câncer. Na verdade 40% dos casos de câncer podem ser prevenidos. Por exemplo, a questão do tabagismo. O câncer de pulmão e outros tipos, como bexiga, estômago, esôfago, da boca, da cavidade oral, todos esses tipos estão relacionados ao cigarro. O abandono do cigarro ou o não fumar é um fator fundamental para prevenir vários tipos de câncer.
E quanto ao tema do tratamento. Porque ainda é importante lembrar que as pessoas têm direito ao tratamento?
É importante porque as pessoas têm dificuldade de entender o problema. Acham que porque estão com câncer não há mais nada para fazer, que acabou. E isso não é verdade. O SUS oferece os tratamentos mais modernos e sofisticados do mundo para câncer. O Brasil tem mais de 280 centros de tratamento de câncer espalhados por todo o país. Todos eles capacitados com protocolos de tratamento aprovados no mundo inteiro. Atualizados do ponto de vista tecnológico. E ainda muitas pessoas deixam de ter acesso porque acham que não tem mais o que fazer.
Outro aspecto fundamental é a questão da qualidade de vida. Mesmo que pessoa não tenha mais expectativa para um tratamento curativo, é um direito humano de ter uma boa qualidade de vida. Toda pessoa tem direito a um cuidado independente do estágio da doença. Mais que um direito à saúde é um direito humano.