Uma nova metodologia de terapia fotodinâmica, combinando LED azul e curcumina — pigmentação derivada da planta cúrcuma —, constitui uma nova forma de desinfecção bucal, principalmente na área odontológica. O objetivo dessa técnica é prolongar o efeito de desinfecção durante cirurgias bocais invasivas e não-invasivas, evitando que as bactérias alojadas na boca de um paciente se espalhem por todo o ambiente cirúrgico e, inclusive, pela corrente sanguínea do próprio paciente. Esse método está refletido no trabalho intitulado Effects of Photodynamic Therapy with blue Light and Curcumin as Mouth Rinse for Oral Disinfection: A Randomized Controlled Trial, assinado por pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP e dentistas, propondo o uso da Curcumina, associada ao LED azul — aplicado por uma “caneta”.
O estudante de doutorado do IFSC e odontologista, Vitor Hugo Panhóca, que participou dessa pesquisa, explica que a boca possui diversos microorganismos que vivem nela, sem causar danos. “Mas podem ocorrer complicações na saúde da pessoa, quando o número de micróbios aumenta muito e entra em contato com sua corrente sanguínea. Nossa intenção não é zerar a quantidade de microorganismos existentes na boca, mas sim equilibrar o nível de bactérias, para que o próprio organismo humano possa dar uma resposta e resolver o problema”. Para Diego Portes Vieira Leite, outro odontologista envolvido na pesquisa, essas bactérias podem alojar-se no coração, causando problemas cardíacos devido à má desinfecção bucal.
Atualmente, para realizar qualquer intervenção odontológica, um profissional aplica água e spray de ar, criando uma espécie de aerossol. Além de contaminar o próprio ambiente cirúrgico, esse método pode infectar outros pacientes e também os próprios especialistas que realizam os tratamentos. Já o novo método, que é aplicado antes de se iniciar qualquer intervenção bocal, mantém a boca desinfetada durante todo o procedimento cirúrgico.
Curcumina e LED azul
A Curcumina é uma pigmentação fotossensibilizadora, ou seja, ela é absorvida pelo LED azul, provocando a terapia fotodinâmica antimicrobiana. “O LED azul estimula a Curcumina a produzir um oxigênio tóxico que mata a célula e a própria bactéria”, explica Diego Portes.
Fernanda Rossi Paolillo, que realizou o processamento de microbiologia e de dados, e elaborou o artigo desse trabalho, diz que a Curcumina é a melhor opção para esse método, porque raramente causa alergia, sendo igualmente um tempero bastante conhecido na gastronomia indiana. “Mas é preciso utilizar baixas doses e concentrações desses elementos para que não causem toxidade, manchas ou outros problemas aos pacientes”, diz ela. Já o LED azul, ao contrário das outras colorações, é produzido com maior facilidade e possui alta potência: “O LED azul tem um comprimento de onda menor e maior frequência de vibração eletromagnética, permitindo, por isso, que transmita energia para qualquer tecido celular”, completa Vitor Panhóca.
A “caneta” utilizada pelos pesquisadores possui dois tipos de ponteiras — cilíndrica e esferoidal —, que adéquam à intensidade do LED. Assim, o profissional pode aplicar a luz em um determinado ponto ou em toda a região bocal do paciente. Ambas as ponteiras já foram patenteadas.
Após os resultados positivos obtidos com esse novo método, Vitor Panhóca diz que está elaborando um novo trabalho, cujo objetivo é tornar mais eficaz o processo de clareamento dental. Já Diego Portes pretende iniciar seu projeto de mestrado na Unicastelo, em São José dos Campos (São Paulo), envolvendo um bisturi ultrassônico. “A ferramenta já foi desenvolvida, mas agora vou adequá-la à área odontológica, para realizar cortes em tecido mole”, conclui ele.