Déficit cognitivo é sequela prevalente em prematuro

Propor discussão teórica sobre fatores determinantes do desenvolvimento cognitivo na idade escolar de prematuros de muito baixo peso ao nascer, utilizando o modelo hierarquizado de análise, é um dos principais objetivos do estudo ‘Desenvolvimento cognitivo de prematuro à idade escolar: proposta de modelo hierarquizado para investigação dos fatores de risco’, desenvolvido por pesquisadoras da ENSP, do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) e da Maternidade Leila Diniz. O estudo aponta que o déficit cognitivo é a sequela do neurodesenvolvimento mais prevalente na população de prematuros de muito baixo peso. O artigo foi publicado no volume 27, número 6, da revista Cadernos de Saúde Pública da ENSP.
 
De acordo com o estudo, crianças nascidas prematuramente estão em maior risco para alterações em seu desenvolvimento e o déficit cognitivo persiste como a sequela mais prevalente em prematuros de muito baixo peso ao nascer. "No desenvolvimento cognitivo infantil, fatores socioeconômicos e biológicos têm sido investigados e os mesmos se articulam complexamente. Foi possível identificar que a criança inserida num contexto de baixo nível socioeconômico – nível distal – traz repercussões sobre processos que estão em outros níveis teóricos de explicação: intermediários, tais como a dificuldade de acesso à assistência médica de qualidade, e proximais como a precariedade de estímulo do meio ambiente, os quais determinam desenvolvimento cognitivo deficiente", apontaram as pesquisadoras no artigo.
 
As pesquisadoras Márcia Lázaro de Carvalho, do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde da ENSP, Maura Calixto Cecherelli de Rodrigues, da Maternidade Leila Diniz – Hospital Lourenço Jorge, e Rosane Reis de Mello e Kátia Silveira da Silva, do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) explicam no artigo que alguns estudos apresentam modelos teórico-conceituais que incorporam um conjunto de variáveis, cuja significância é avaliada através de modelagem estatística. A escolha dessas variáveis para a composição de modelos teóricos pode sofrer influência das características da população a ser avaliada. Segundo elas, a variável prematuridade, por exemplo, é frequentemente incorporada a estes modelos devido à sua associação com alteração do desenvolvimento cognitivo.
 
Prematuros de muito baixo peso ao nascer correm mais risco de incidência de déficits cognitivos
 
O estudo mostra que a população de prematuros é heterogênea, apresentando aqueles de muito baixo peso ao nascer – peso inferior a 1.500g – maiores riscos para incidência de déficits cognitivos. "Torna-se importante, portanto, se destacarem fatores específicos para predição da ocorrência deste evento e compreensão do papel de fatores mediadores e de confusão, quando se deseja avaliar uma exposição principal nesta população", explicaram, no artigo. Segundo o texto, estudar os fatores associados ao desenvolvimento cognitivo aquém do desejado em população de escolares nascidos com muito baixo peso ao nascer permite priorizar adequadamente a vigilância, assim como sinalizar a necessidade de intervenção precoce em grupos específicos, minimizar sequelas, melhorar seu desenvolvimento e desempenho escolares, e aumentar suas chances de inclusão escolar e social.
 
De acordo com as pesquisadoras, o estudo pretende elucidar fatores associados ao desfecho em uma relação de predição e causalidade, em uma população singular e heterogênea entre si (os prematuros de muito baixo peso ao nascer na faixa etária escolar entre 6 e 8 anos), particularmente propensa a déficits cognitivos. O estudo expôs que a entrada da criança na escola a partir da alfabetização requer habilidades cognitivas para atender às demandas acadêmicas, as quais vão se tornando mais complexas. Por fim, o artigo ressalta que o modelo apresentado no estudo não tem a intenção de ser o ideal ou de abarcar toda a complexidade que os constructos impõem. Segundo ele, a proposta é testá-lo em coortes de prematuros nascidos com peso inferior a 1.500g, oriundos de unidades hospitalares terciárias e acompanhados até a idade escolar.
 
"Espera-se que a aplicação deste modelo hierarquizado possa auxiliar na compreensão dos fatores de influência e mecanismos causais que culminam no desenvolvimento cognitivo destas crianças nesta faixa etária e que contribua na aplicação de medidas de intervenção que promovam o melhor desenvolvimento cognitivo das crianças nascidas prematuras", afirma o artigo.

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