Crianças brasileiras comem mais fruta no lanche, mas açúcar ainda está em excesso

Frutas participam de 98,8% das composições dos lanches realizados entre as refeições, porém o consumo de açúcares está muito perto do nível aceito pela Organização Mundial da Saúde (OMS)

O lanche da tarde mostrou-se mais calórico e com consumo mais frequente de alimentos variados com baixo valor nutricional e com alto teor de açúcares de adição – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Embora as frutas participem de 98,8% das composições dos lanches intermediários (realizados entre as principais refeições) de crianças em idade pré-escolar, o consumo de açúcares de adição, presentes em alimentos como balas, sorvetes, biscoitos e chocolates, está muito próximo do nível máximo aceito pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A conclusão faz parte de uma pesquisa que descreve os hábitos alimentares em relação ao consumo de lanches realizada em conjunto por professores e pós-graduandos do Departamento de Pediatria da Escola Paulista de Medicina (EPM), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, do Centro de Dificuldades Alimentares do Instituto Pensi (Hospital Infantil Sabará) e do curso de Nutrição da Universidade São Judas Tadeu, com o apoio da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

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Foram analisadas as respostas dos pais ou responsáveis de 1.391 crianças, com idade entre 4 e 6 anos, de todas as regiões do Brasil. No projeto, identificou-se que o lanche intermediário foi consumido por 98,20% das crianças brasileiras, sendo compostos, em média, de três grupos de alimentos: frutas, biscoitos e iogurtes. O lanche da tarde, no geral, foi mais frequente (96,69%) do que o lanche da manhã (71,17%).

Além disso, foi constatado também que o valor calórico desses lanches, considerando nível socioeconômico e gênero, estava de acordo com o preconizado (entre 180 e 270 kcal), variando de 190 a 250 kcal. Entretanto, o lanche da manhã da Região Centro-Oeste e o lanche da tarde da Região Sudeste se mostraram abaixo da recomendação, com 146 kcal e 168 kcal, respectivamente.

“O lanche da tarde mostrou-se mais calórico e com consumo mais frequente de alimentos variados com baixo valor nutricional e com alto teor de açúcares de adição, como balas, sorvetes e chocolates”, revela o pediatra e nutrólogo Mauro Fisberg, que é professor associado do Setor de Medicina do Adolescente da EPM e um dos coordenadores do estudo. O consumo de açúcar de adição, somadas as quantidades de açúcares do lanche da manhã e da tarde, no geral, aproximou-se do limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a dieta de uma criança de 4 a 6 anos: 22,5 gramas por dia.

Açúcares de adição

Na Região Centro-Oeste, por exemplo, os lanches atingiram sozinhos esse limite, apresentando um consumo de 29,6 gramas/dia (131,5% do limite). Somente o lanche da tarde (21,4 g) contribui com quase a totalidade da recomendação para o dia. Tal contribuição é explicada pela composição do lanche da tarde dessa região, formado pelos alimentos consumidos com maior frequência pelas crianças: biscoito doce com recheio, banana e suco de frutas industrializado.

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Já a ingestão de frutas em geral esteve presente em 98,8% das composições de lanches estudadas, que pode ser entendida como uma tendência de melhoria da educação nutricional no Brasil. O leite e bebidas à base de leite estiveram presentes em quase 10% das composições de lanches e o suco compôs 8,3% dos lanches intermediários estudados. O refrigerante apresentou frequência de ingestão próximo a 5% no lanche da tarde das crianças. “A composição dos lanches intermediários é de suma importância, uma vez que são oportunidades para o preenchimento das necessidades nutricionais das crianças dessa faixa etária, que precisam de aporte nutricional adequado por estarem em período de crescimento e desenvolvimento”, explica o professor.

Segundo o Manual de Orientação do Departamento de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), durante a idade pré-escolar, é recomendado que sejam realizadas as refeições principais (café da manhã, almoço e jantar), com três lanches intermediários entre elas: lanches da manhã, tarde e noite, em horários regulares e com intervalos entre duas e três horas, suficientes para que a criança sinta fome na próxima refeição.

De acordo com as recomendações dietéticas do Manual do Lanche Saudável da SBP, o lanche intermediário para ser considerado saudável deve ser composto de uma fruta, um tipo de carboidrato e um alimento fonte de proteína, quase sempre láctea. No caso das bebidas, que seja água ou sucos não adoçados. “Na elaboração dos lanches, a presença de alimentos in natura é muito importante, além de produtos que sejam práticos para a realização dessa refeição”, ressalta Fisberg.

Da Assessoria de Imprensa da Unifesp