“Isso foi totalmente por acaso, não planejamos fazer este experimento ou gravar estes sinais”, disse ele à BBC.
Então será que vamos ver uma retrospectiva de momentos com entes queridos e outras memórias felizes? Zemmar afirma que é impossível dizer.
“Se eu fosse passar para o reino filosófico, especularia que, se o cérebro fizesse uma retrospectiva, provavelmente gostaria de lembrá-lo de coisas boas, em vez de coisas ruins”, avalia.
“Mas o que é memorável seria diferente para cada pessoa.”
Zemmar, agora neurocirurgião da Universidade de Louisville, nos EUA, disse que nos 30 segundos antes do coração do paciente parar de fornecer sangue ao cérebro, suas ondas cerebrais seguiram os mesmos padrões de quando realizamos tarefas de alta demanda cognitiva, como quando nos concentramos, sonhamos ou evocamos memórias.
E continuou 30 segundos depois que o coração do paciente parou de bater — momento em que um paciente é normalmente declarado morto.
“Esta poderia ser uma última lembrança de memórias que tivemos na vida, e elas são reprisadas em nosso cérebro nos últimos segundos antes de morrermos.”
O estudo também levanta questões sobre quando exatamente a vida termina — quando o coração para de bater ou o cérebro para de funcionar.
Zemmar e sua equipe advertiram que conclusões amplas não podem ser tiradas de um estudo com apenas uma pessoa. O fato de o paciente ser epiléptico, com o cérebro com hemorragia e inchado, complica ainda mais as coisas.
“Nunca me senti à vontade para relatar um único caso”, diz Zemmar.
E durante anos após o registro inicial em 2016, ele procurou casos semelhantes para ajudar a fortalecer a análise, mas não teve sucesso.
Mas um estudo de 2013 — realizado em ratos saudáveis —pode oferecer uma pista.
Nesta análise, pesquisadores americanos registraram altos níveis de ondas cerebrais na hora da morte até 30 segundos depois que o coração dos ratos para de bater — assim como aconteceu com o paciente epiléptico de Zemmar.
As semelhanças entre os estudos são “surpreendentes”, segundo o especialista.
Eles agora esperam que a publicação deste único caso humano possa abrir as portas para outros estudos sobre os momentos finais da vida.
“Acho que há algo místico e espiritual em toda essa experiência de quase morte”, diz Zemmar.
“E descobertas como esta — são um momento pelo qual os cientistas vivem.”