O Comité Diretor Conjunto da Aliança Dengue se reuniu, na última semana na Fiocruz, para trocar experiências e alinhar pontos importantes para avançar no objetivo de ter um novo tratamento acessível a partir de medicamentos já aprovados – e suas combinações – para a dengue em cinco anos. No encontro, que ocorreu entre os dias 8 e 10 de novembro, foi possível progredir no debate sobre a nomeação de um candidato medicamentoso para os ensaios clínicos e o tratamento, a estratégia de diagnóstico e biomarcadores, e o desenho do ensaio clínico que deve ser iniciado em 2024 no Brasil.
A Aliança Dengue é uma parceria global liderada por instituições de países endêmicos da doença; a Fiocruz integra o grupo, que também tem a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) como participante pelo Brasil, em uma soma de esforços para o controle da dengue. No encontro realizado na Fiocruz, participaram representantes da Malásia, do Brasil, da Índia, da Suíça e da Tailândia.
A aliança trabalha em projetos conjuntos para avançar nas investigações pré-clínicas de possíveis tratamentos, testar a eficácia de candidatos ao tratamento e implementar testes clínicos dos mais promissores. Os parceiros compartilham conhecimento, tecnologias e capacidades em um grupo de trabalho pré-clínico, que analisa a nomeação do candidato medicamentoso, um clínico, que define como será o ensaio clínico, e translacional, para comunicação eficaz e planejamento científico.
Na última quarta-feira (8/11), o comitê diretor visitou o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz), o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), e foi recebido no Castelo Mourisco pelo presidente da Fiocruz, Mario Moreira, que ressaltou que o enfrentamento da dengue é tido como prioridade na Fiocruz. Ele lembra que o Ministério da Saúde criou o Programa para populações e doenças negligenciadas, como a dengue, que envolve diferentes agências e a sociedade civil para organizar o combate a essas doenças. “A Fiocruz tem um papel central na estratégia de enfrentamento porque temos laboratórios de referência, um grande programa de pós-graduação voltado para esse tipo de doença e estamos profundamente envolvidos na produção de diagnóstico, testes sorológicos e moleculares e vacinas”.
Avanços promissores
Nos dias de reunião, o grupo foi recebido na Residência Oficial pelo vice-presidente de Produção e Inovação (VPPIS/Fiocruz), Marco Krieger. Para ele, as reuniões da aliança são fundamentais para atualizar e padronizar o andamento dos projetos. “É importante que façamos a coordenação dos grupos para que os trabalhos sejam complementares, que agreguem valor uns aos outros”, disse. Ele ainda destacou como positivos os resultados apresentados pelo grupo de trabalho pré-clínico na identificação de um candidato medicamento, assim como a avaliação das ferramentas de diagnóstico. “Já temos um conjunto de dados que permite avaliar que estamos num caminho muito bom. É um projeto ambicioso, que prevê que em cinco anos a gente consiga chegar em um tratamento para uma doença que enfrentamos no país nos últimos cinquenta anos”.
Esta foi a décima reunião do grupo e a segunda presencial – a primeira foi em fevereiro deste ano na Índia. Para o diretor para América Latina da iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi na sigla em inglês), Sergio Sosa-Estani, as reuniões são importantes para fortalecer a aliança e a cooperação sul-sul no enfrentamento da dengue. Ele explica que foram discutidos aspectos de incorporação de novas linhas de biomarcadores da resposta da melhoria clínica dos pacientes, de diagnóstico e os próximos passos para o ensaio clínico, que terá o Brasil como primeiro país da América Latina. “”Houve um trabalho técnico-científico que nos permite estar próximo da definição do candidato a ser avaliado na fase clínica; avançamos também em relação ao desenho do estudo clínico, como vamos medir a eficácia do tratamento que vamos avaliar com as estratégias que estamos considerando para a busca de novas formas terapêuticas para o tratamento da dengue”, explicou Sosa-Estani.
Ele ressalta que o tratamento da dengue se somaria a outras estratégias já implementadas, como o controle de vetores realizado pelo projeto Wolbachia e as vacinas recentemente implementadas. “Um tratamento medicamentoso seria uma forma bem completa de dispor de ferramentas para o controle da doença”, concluiu.
Ao longo da reunião, a Fiocruz apresentou suas ações de controle da doença no país, como as ferramentas de diagnóstico e o projeto Wolbachia. Além disso, presidiu painéis, assim como uma discussão sobre as lacunas de acesso no Brasil.
Aliança Dengue
Lançada em 2022, a Aliança Dengue tem como parceiros a DNDi, a Faculdade de Medicina Hospital Siriraj da Universidade Mahidol, na Tailândia; o Ministério da Saúde da Malásia; a Fiocruz e a UFMG, no Brasil; e o Instituto Translacional de Ciência e Tecnologia em Saúde (THSTI) da Índia. A Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi, na sigla em inglês) coordena a Aliança.