Em artigo publicado na revista Plos One, pesquisadores do INCT-Redoxoma demonstraram que a peroxidase Ohr e seu regulador negativo OhrR são a principal via utilizada pela bactéria Chromobacterium violaceum para detectar e degradar hidroperóxidos orgânicos. O trabalho, realizado pelo pesquisador José Freire da Silva Neto sob supervisão do professor Luis Netto, do Instituto de Biociências (IB) da USP, pode ter implicações importantes para o desenvolvimento de novos antibióticos.
“A degradação de hidroperóxidos orgânicos, oxidantes gerados nas células hospedeiras, é crucial para a sobrevivência das bactérias. Portanto, a compreensão do mecanismo de defesa antioxidante das bactérias é fundamental”, afirmou Luis Netto.
A Ohr é uma enzima antioxidante produzida por bactérias. A produção dessa enzima é regulada pela proteína OhrR, que atua como fator de transcrição. Quando a bactéria está em condição basal, a proteína OhrR fica ligada ao gene responsável pela produção da enzima Ohr, impedindo que o DNA seja transcrito em RNA e, portanto, que a enzima seja produzida.
Estresse oxidativo
Os pesquisadores mostraram que, em condição de estresse oxidativo, ao entrar em contato com o hidroperóxido orgânico, a OhrR se oxida e se desliga do DNA, permitindo a produção da enzima antioxidante, que vai degradar o hidroperóxido. Em seguida, a proteína OhrR volta a se ligar ao DNA pela ação de outra enzima, a tiorredoxina, funcionando, assim, como um sensor redox.
Segundo Luis Netto, a partir destes resultados podem ser criadas estratégias para se driblar o mecanismo de defesa das bactérias. “Como não existem homólogos da Ohr e da OhrR em mamíferos ou plantas, se conseguirmos desenhar uma molécula que atue sobre essas proteínas, ela teoricamente teria ação específica sobre a bactéria, sem efeito colateral para o hospedeiro”, afirmou.
Além da Chromobacterium violaceum, bactéria oportunista que ataca principalmente o fígado e a pele de pessoas com o sistema imunológico debilitado, outras bactérias, como Streptococcus e Pseudomonas, que causam problemas respiratórios, infecções cutâneas e sepse em humanos, e fitopatógenos, como Xylella fastidiosa, utilizam este mecanismo de defesa.
O artigo Analysis of the Organic Hydroperoxide Response of Chromobacterium violaceum Reveals That OhrR Is a Cys-Based Redox Sensor Regulated by Thioredoxin, de José F. da Silva Neto, Caroline C. Negretto e Luis E. S. Netto, pode ser lido na Plos One, em
http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0047090. Sediado no Instituto de Química (IQ) da USP, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Processos Redox em Biomedicina (Redoxoma) consiste em uma rede envolvendo aproximadamente 200 pesquisadores organizados em 25 grupos de pesquisa brasileiros. Este grupo de pesquisadores é financiado pelo Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia, coordenado pelo Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico (CNPq).