Toca música, faz foto e vídeo, tem agenda e jogos, troca mensagens curtas ou e-mails, tem GPS e serve até mesmo como telefone. É cada vez maior o número de funções no celular, que rapidamente se tornou o principal equipamento eletrônico para milhões de pessoas. A mais nova utilidade é uma mão na roda para cientistas.
Um grupo da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, está desenvolvendo um dispositivo para transformar o celular em um microscópio. Com o CellScope, a câmera do telefone recebe um dispositivo extra e tem sua capacidade ampliada o suficiente para registrar imagens coloridas de parasitas ou até mesmo de bactérias com marcadores fluorescentes.
O protótipo, descrito em artigo publicado nesta quarta-feira (22/7) na revista PLoS ONE, representa um importante avanço no sentido de levar a microscopia clínica para fora dos laboratórios e até os trabalhos de campo. Um importante uso está no diagnóstico de doença no próprio local em que ocorre.
As mesmas regiões do mundo que têm carência de instalações na área de saúde são, paradoxalmente, bem servidas por redes de telefonia móvel. Podemos tirar vantagem dessa infraestrutura de modo a oferecer a áreas remotas equipamentos laboratoriais de baixo custo e fáceis de usar, disse Dan Fletcher, professor de bioengenharia da universidade e chefe da equipe de desenvolvimento do produto.
O CellScope é composto por lentes compactas e é preso no celular. Usa luz branca simples, como a do sol ou de uma lâmpada, para iluminar as amostras. A partir de amostras de sangue, os pesquisadores conseguiram capturar imagens do Plasmodium falciparum, parasita que causa malária em humanos.
Também funciona como um microscópio fluorescente, em um modo no qual um marcador emite uma onda de luz específica de modo a identificar o objeto, como uma bactéria, por exemplo. O artigo descreve imagens fluorescentes feitas do Mycobacterium tuberculosis, causados da tuberculose.
Microscopia fluorescente exige mais equipamentos do que um microscópio de luz comum, como filtros ou iluminação especial, o que faz com que seja mais cara. Em nosso artigo, mostramos que um sistema fluorescente completo pode ser construído em um celular por meio do uso de sua câmera e de componentes relativamente baratos, disse Fletcher.
Por meio do uso de filtros para bloquear a luz de fundo e de um LED que custa poucos dólares, os pesquisadores conseguiram uma onda de 460 nanômetros necessária para excitar o marcador verde fluorescente no sangue com tuberculose.
Com um celular comum, equipado com uma câmera de 3.2 megapixels, foi possível obter uma resolução espacial de 1.2 micrômetros para se ter uma idéia de tamanho, uma hemácia humana tem cerca de 7 micrômetros de diâmetro.
Os autores apontam que as imagens podem ser analisadas no local em que foram feitas ou enviadas pelo próprio celular para centros clínicos para diagnóstico. O sistema pode ser usado para fornecer alertas em estágios iniciais de epidemias, ao diminuir o tempo necessário para os exames e diagnósticos, disse David Breslauer, outro autor do estudo.
O grupo pretende avançar no desenvolvimento do CellScope de modo a construir modelos mais robustos que possam ser usados em diversos cenários de pesquisas em campo. Ainda não há expectativa de quando o produto poderá ser comercializado.
O artigo pode ser lido em: http://dx.plos.org/10.1371/journal.pone.0006320