Capacitação ajuda professores a identificar alunos com distúrbios de comportamento

O programa é voltado para professores da rede pública e visa a prepará-los para reconhecer estudantes que estejam passando por problemas como depressão, ansiedade e déficit de atenção

Professores são os profissionais mais adequados para identificar transtornos em estudantes pois estão em contato diário com as crianças – Foto: wonderworks via flickr

Ansiedade, depressão e déficit de atenção são distúrbios cada vez mais frequentes em crianças e adolescentes que estudam nas escolas de grandes centro urbanos. Saber identificar estes e outros transtornos mentais durante a infância diminui o sofrimento do aluno e o risco dele desenvolver problemas mais graves na adolescência e fase adulta. Pesquisa feita no Instituto de Psiquiatria (IPq) da USP propõe a utilização de recursos da telemedicina para capacitar professores do ensino fundamental a lidarem com os alunos que apresentam distúrbios psiquiátricos e orientar a família quanto ao encaminhamento, quando for necessário.

O trabalho foi publicado na revista European Child & Adolescent Psychiatry e foi um dos finalistas do Prêmio Saúde 2015, da revista Saúde (Editora Abril), obtendo o 3º lugar na categoria Saúde Mental e Emocional. O prêmio é concedido a pessoas e instituições que tenham iniciativas que contribuam para a melhoria da saúde e da qualidade de vida dos brasileiros.

Celina Andrade Pereira, psicóloga e autora da pesquisa – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

No Brasil, conforme a pesquisa, há uma estimativa de sete milhões de crianças com distúrbios psiquiátricos, sendo que os serviços de saúde especializados possuem a capacidade de atendimento de apenas 14% delas. Aplicado à professores de nove escolas públicas do interior de São Paulo, o programa do IPq utilizou conteúdos voltados para ambientes virtuais de aprendizagem (AVA): hotsites, vídeos, fóruns de discussão e web conferências.

Os temas foram trabalhados por psicólogos e psiquiatras e trataram dos principais sinais e riscos de distúrbios como o déficit de atenção, hiperatividade, transtorno de conduta, problemas de relacionamentos sociais, depressão e ansiedade. Também foram abordadas questões relacionadas à resistência quanto à aceitação dos distúrbios devido aos estigmas e preconceitos e, por fim, os procedimentos que os professores devem ter em sala de aula para diminuir eventuais sofrimentos dos estudantes acometidos pelo problema. Como material de apoio, foi montado um guia escrito em linguagem acessível e ilustrado com imagens lúdicas, contendo todos os conceitos teóricos transmitidos em vídeo.

A psicóloga e autora da pesquisa, Celina Andrade Pereira, considera “os professores são os profissionais mais adequados para identificar transtornos mentais em estudantes porque são eles que estão em contato diário com as crianças. Se estiverem bem preparados, poderão contribuir para diminuir sofrimento e evitar prejuízos futuros como o mau desempenho escolar, a evasão, o engajamento em atividades ilegais e uso de substâncias psicoativas”.

Guia de apoio do programa de capacitação de professores. Linguagem simplificada e ilustrações lúdicas. Foto: Reprodução Marcos Santos/USP Imagens

Questionada quanto à sobrecarga dos profissionais em ter mais responsabilidade além das já estabelecidas pela grade escolar, Celina explica que as pessoas que participaram da pesquisa aceitaram bem o treinamento e consideraram positiva a aquisição de novos conhecimentos para instrumentalizá-las. Obtido este retorno, Celina espera que seu trabalho possa nortear políticas publicas de saúde mental, recomendando, inclusive, que o programa seja inserido no currículo escolar.

Embora a intervenção tenha demonstrada eficácia quanto ao treinamento de professores, o ensaio feito nas escolas não conseguiu apurar dados sobre a quantidade de crianças que apresentaram problemas e os encaminhamentos dados a elas, tema que poderá ser objeto de investigação no doutorado da psicóloga.

A pesquisa Capacitação em saúde mental para professores do Ensino Fundamental e seu impacto no ambiente escolar fez parte da dissertação de mestrado de Celina Andrade Pereira, defendida em 2013, sob a orientação do professor Guilherme Vanoni Polanczyk, do Departamento de Psiquiatria, da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).

Mais informações: email ce.pereira@usp.br, com Celina Pereira