Publicado em setembro 14, 2021 por flaviaferreira
O Brasil registrou nesta terça-feira (14/9) 731 mortes por covid-19 nas últimas 24h, chegando a um total de 587.797 óbitos, de acordo com o boletim do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
Já a média móvel de casos registrados da doença (média diária levando em conta as variações dos últimos sete dias) segue em queda e é a menor desde 21 de maio do ano passado, com 15.179 casos. Nas últimas 24h, foram contabilizados 12.406 novos casos de covid-19. O total de casos no país chegou oficialmente a 21.019.830.
Por sua vez, a média móvel de óbitos teve uma leve alta nos últimos dias, embora esteja no patamar registrado em novembro do ano passado: são 518 mortes diárias segundo essa medição.
De acordo com o painel da Universidade Johns Hopkins, os Estados Unidos lideram em número de casos no mundo, com mais de 41 milhões infecções registradas. Lá, a redução no ritmo de vacinação, a partir de abril, somada à resistência de parte da população à vacina e ao avanço da variante Delta, criou focos de transmissão do coronavírus em partes do país.
Estados Unidos, Índia e Brasil têm números muito superiores ao restante do mundo. Em relação às mortes, o Brasil permanece na segunda posição, atrás apenas dos Estados Unidos, que acumulam 661 mil óbitos. O Brasil encontra-se num estágio bem singular desde que a pandemia começou. Por um lado, a vacinação avança e a média móvel em sete dias de novos diagnósticos e mortes vem caindo. Por outro, a transmissão comunitária do vírus segue alta em várias regiões, enquanto as variantes de preocupação, especialmente a Delta, que é muito mais transmissível do que a versão original do coronavírus, circulam livremente entre nós. Mas o que todas essas observações podem significar para o futuro da pandemia no Brasil? Após um primeiro semestre com um ritmo muito aquém de nossas capacidades, a campanha brasileira de vacinação contra a covid-19 finalmente deslanchou em julho — e agosto foi um mês com intenso avanço nessa seara, o que tem se mantido, de modo geral, em setembro. De acordo com o painel do Ministério da Saúde, mais de 138 milhões de brasileiros receberam a primeira dose. E 74,2 milhões de pessoas tomaram a segunda dose (ou a vacina da Janssen, que exige apenas uma aplicação). E essa aceleração também pode ser vista no número de doses aplicadas a cada 24 horas: em junho e julho, a maioria dos dias úteis superou a meta de 1 milhão de imunizantes injetados nos braços dos brasileiros. A campanha agora avança entre a população mais jovens e adolescentes. A partir daí, será essencial garantir a segunda dose a todo mundo que recebeu a primeira. Outro desafio que aparece no horizonte é como incluir crianças na campanha e também a necessidade de reforços, especialmente para aqueles que tomaram a vacina no início do ano, como os idosos e os profissionais de saúde. Embora as notícias tragam esperança, elas vêm acompanhadas de outros fatos que ainda são motivos de grande preocupação. Um deles vem do Boletim InfoGripe, publicado em 26 de agosto por especialistas da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), apontando que a queda em casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG, bastante associada ao vírus da covid-19) se interrompeu e que há sinais de a doença voltar a crescer em diversos Estados. Por conta disso, o pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe, pediu no boletim “cautela em relação a medidas de flexibilização das recomendações de distanciamento para a redução da transmissão da covid-19 enquanto a tendência de queda não tiver sido mantida por tempo suficiente para que o número de novos casos atinja valores significativamente baixos”. Além disso, a circulação viral continua num nível considerado alto ou epidêmico em todas as capitais do país, situação que manterá “o número de hospitalizações e óbitos em patamares altos caso não haja nova mobilização por parte de autoridades e população”. Há ainda uma inquietude crescente com os idosos: outro estudo da Fiocruz observou um aumento no número de internações por SRAG em indivíduos com mais de 80 anos no Estado do Rio de Janeiro. Essa elevação, porém, ainda não se traduziu em mais mortes nessa faixa etária. Entre as possíveis explicações para o fenômeno, destacam-se o aumento do descuido com as medidas preventivas (como o uso de máscaras e o distanciamento físico) e uma eventual diminuição da eficácia das vacinas com o passar do tempo, embora tudo indica que elas continuam a ter a capacidade de proteger contra os óbitos. Mas todas essas especulações ainda precisam ser confirmadas pela ciência, e já se aplica uma terceira dose de reforço em parte da população em algumas cidades do país. O terceiro ponto que chama a atenção é a presença das variantes mais agressivas, especialmente a Delta, detectada originalmente na Índia, que possui uma taxa de transmissibilidade bem superior às demais versões do coronavírus. Representantes de vários Estados e municípios já admitem que ela circula livremente em seus territórios e parece estar em franco crescimento, deixando outras linhagens, como a Gama (a antiga P.1), para trás. Se a Delta repetir por aqui o estrago que ela provocou em outros lugares, podemos esperar, infelizmente, um novo aumento no número de casos e mortes caso não sejam colocadas em prática algumas medidas básicas de contenção. Foi isso que ocorreu em países que já tinham planos bem encaminhados de reabertura, como Reino Unido, Estados Unidos e Israel, e em outros que eram exemplos de sucesso na condução da pandemia até agora e viram a situação piorar nas últimas semanas, caso de Vietnã e Indonésia. Por fim, não dá pra ignorar o fato de as estatísticas, ainda que estejam em queda, permanecerem muito altas: falamos de médias de mais de 15 mil novos casos diagnosticados e 400 mortes todos os dias. Diante de um cenário recheado de incertezas sobre o futuro, os especialistas parecem não ter dúvidas sobre quais medidas seriam necessárias neste momento da pandemia no Brasil — algumas delas, inclusive, sequer foram implementadas ao longo dos últimos meses. O momento pode representar, então, uma oportunidade de reduzir pra valer os números de casos e mortes e ver a situação melhorar de verdade. Porém, se nada for feito e os indícios das últimas semanas forem interpretados com extremo otimismo, o panorama brasileiro acaba se transformando numa ameaça, em que os poucos avanços serão logo superados por novos recordes e uma terceira onda que se arrastará pelo segundo semestre de 2021. Para começo de conversa, o país deveria ter um melhor controle de suas fronteiras, com testagem de passageiros e funcionários em aeroportos, portos e rodovias. Isso dificultaria, inclusive, a entrada de novas variantes de preocupação em nosso território. O segundo passo seria lançar mão de um amplo programa de testagem, rastreamento de contatos e isolamento dos casos positivos. Políticas desse tipo explicam parte do sucesso que é observado em países como Austrália e Nova Zelândia. Afinal, ao detectar precocemente um paciente infectado e colocá-lo em quarentena, é possível quebrar as cadeias de transmissão do coronavírus na comunidade. Ainda na seara das análises laboratoriais, o país também requer uma vigilância genômica mais ampla, capaz de fazer sequenciamento genético das amostras de pacientes infectados para saber quais são as variantes mais prevalentes em cada local. Também precisávamos criar campanhas de comunicação para incentivar o uso de máscaras (especialmente modelos mais confiáveis, como a PFF2) e desencorajar as aglomerações. Por fim, é vital manter, ou eventualmente até acelerar, o ritmo da campanha de imunização. Quanto mais brasileiros estiverem protegidos, melhor para todo mundo: a experiência de outros países aponta que as internações e as mortes por covid-19 caem de forma significativa quando uma porcentagem considerável da população recebeu as duas doses. Esse conjunto de estratégias aponta para uma saída segura e efetiva da pandemia — e tem o potencial de evitar que os 20 milhões de casos sejam ultrapassados por novas marcas tristes e negativas num futuro próximo. O primeiro registro do coronavírus no Brasil foi em 26 de fevereiro do ano passado. Um empresário de 61 anos de São Paulo (SP) foi infectado após retornar de uma viagem, entre 9 e 21 de fevereiro, à região italiana da Lombardia. O novo coronavírus, que teve seus primeiros casos confirmados vindos da China no final de 2019, é tratado como pandemia pela OMS desde 11 de março. Estudos apontam que a grande maioria dos casos do novo coronavírus apresenta sintomas leves e pode ser tratado nos postos de saúde ou em casa. No entanto, novas variantes têm se mostrado mais contagiosas e, na percepção de médicos, têm afetado com mais gravidade também a população mais jovem, em vez de apenas idosos e pessoas com comorbidades.O copo meio cheio
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