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Boas relações em tratamento amenizam transtorno alimentar

Pesquisa realizada por equipe da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP aponta que vínculo entre pacientes com transtornos alimentares (TAs) e profissionais da saúde aumenta a adesão ao tratamento. Por outro lado, a rotatividade de funcionários dos hospitais dificulta a criação de laços entre as duas partes. No estudo desenvolvido pela psicóloga Tatiane Mitleton Borges Ramos, foram analisadas 15 pacientes, todas do sexo feminino e em tratamento no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP.

Durante a pesquisa, as pacientes relataram que empatia, interesse e diálogo são requisitos primordiais para os profissionais que lidam com casos de TAs. “Elas afirmaram que alguns profissionais, apesar de possuírem competência técnica, não apresentaram boa postura de cuidado”, afirma a pesquisadora.

O primeiro contato do paciente com seu tratamento é “permeado por sentimentos como medo, desorientação, vergonha e tristeza. Por isso, é necessário que o profissional da saúde que recebe essas pessoas mostre-se afetuoso e compreensivo”, ressalta a psicóloga. Pesquisas voltadas para esse público são importantes, segundo Tatiane, uma vez que os TAs atingem cerca de 100 mil brasileiros.

Os resultados do trabalho de Tatiane foram apresentados em sua tese de doutorado Acolhimento e vínculo na assistência de pessoas com diagnóstico de transtornos alimentares, defendida em dezembro de 2013, na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, com orientação do professor Luiz Jorge Pedrão.

Humanização do sistema de saúde
Um dos relatos destacados pela pesquisadora — “Como eu vou conseguir me permitir ser tratada por essa pessoa? Ela faz de conta que não me conhece na rua” — mostra a importância que esses pacientes dão à relação com o profissional. No estudo, a psicóloga detectou que 77,2% das participantes consideram o atendimento que recebem satisfatório, porém, por meio de relatos, evidencia que a maioria dos profissionais não está preparada, porque não possuem visão geral sobre o estado de saúde das pacientes. “Prestar atendimento às pessoas com TAs é, em sua maioria, lidar com pacientes frágeis e delicados, permeados por medo e insegurança”, conta a psicóloga.

Durante as entrevistas, as pacientes também ressaltaram a indicação excessiva de remédios como mais um fator que abala a confiança delas com a equipe hospitalar. “Para elas, os profissionais devem atuar como ‘apoio’ nos momentos de dificuldade e tensão. Para isso, é necessário o estabelecimento de um vínculo profissional-paciente que esteja além da indicação de medicamentos”, diz a pesquisadora. Tatiane defende a humanização do sistema como uma das possíveis soluções para os problemas descritos na pesquisa. E, para ela, humanização do sistema de saúde envolve menor rotatividade de profissionais, assistência com foco na integralidade do paciente e posturas profissionais mais empáticas, amistosas e abertas ao diálogo. Essas são “ações necessárias para tratamentos tão complexos quanto esses.”

A psicóloga encontrou, durante o estudo, pacientes que resistiam ao tratamento. “Eu não tenho nada disso, quero ir embora!”, afirmou uma delas. Com base em comportamentos como esse, a pesquisadora aponta que profissionais que conseguem atrelar posturas firmes, compreensivas e afetuosas são os mais aptos para lidar com casos de TAs. “Alguns usuários, inclusive, defenderam posturas mais firmes e até mesmo coercitivas, para que a saúde do paciente seja restabelecida”, salienta a psicóloga. Além disso, em alguns casos foi relatado haver ruído e obstáculos na transmissão de informações entre os profissionais. “Devido à rotatividade, alguns profissionais que estão cuidando do caso possuíam pouca intercomunicação”, explica a pesquisadora.

“Um dos principais desafios enfrentados pela equipe de saúde é conseguir se relacionar com o paciente de maneira empática e respeitosa, vencendo as resistências, sendo criativo e adaptável aos recursos do sistema de saúde”, diz Tatiane. “Para os pacientes, vejo que o maior desafio é vencer o medo de se vincular aos profissionais, além de aceitarem que estão realmente doentes e que precisam de ajuda”, conclui. A pesquisa, realizada entre setembro de 2010 e agosto de 2013, mostra que aspectos do serviço analisado como a técnica, postura, afetividade, relação terapêutica e continuidade precisam ser melhorados para uma maior qualidade no tratamento de TAs.

Foto: Pedro Bolle / USP Imagens

Mais informações: email mitleton@yahoo.com.br, com Tatiane Mitleton Borges Ramos

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