Avaliação física simples diagnostica caquexia

A caquexia é uma síndrome associada a algumas doenças que causa perda de peso e força muscular, principalmente em idosos com câncer – chega a acometer 85% desses pacientes. Para reverter essa situação, um pesquisador da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP usou um teste simples para avaliar a atividade física espontâneas desses doentes, por meio do estudo de parâmetros como o tempo sentado/deitado, o tempo em pé, o tempo caminhando e o número de passos dados e ver a sua associação com a caquexia.

Apesar de ser uma consequência de doenças graves e com grande impacto na saúde das pessoas, ainda é pouco abordada, sendo que a literatura médica descreve taxa de diagnóstico de apenas 2,4% dos casos. A explicação, aponta o médico geriatra e especialista em cuidados paliativos, André Filipe Junqueira dos Santos, autor do estudo, está na dificuldade de interpretação pelos médicos (da perda da massa e força muscular) e da demanda de exames sofisticados e caros para o diagnóstico.

O pesquisador, em seu trabalho de doutorado, usou um aparelho de fácil manejo e muito utilizado em pesquisas médicas, o qual usa o mesmo princípio dos smartphones para detectar posição e localização. Através deste dispositivo, avaliou-se o impacto da caquexia na atividade física espontânea de idosos com câncer. Segundo o pesquisador “existe uma correlação positiva entre a baixa atividade física espontânea com baixa massa e força muscular”. Desta maneira, é possível em futuros estudos, padronizar este tipo de equipamento para avaliar de maneira menos invasivas e mais ampla a funcionalidade de pessoas acometidas por esta condição médica e de forma precoce.

A importância do diagnóstico precoce dessa síndrome, explica o médico, “permite que algumas estratégias para atenuar seu impacto sejam tomadas, como uso de medicações e fisioterapia”. A perda da massa muscular e, consequentemente, da força muscular, predispõe esses idosos a um declínio “quantitativo e qualitativo na sua funcionalidade, sendo por si só um fator de piora da qualidade de vida e aumento da mortalidade”.

Diagnóstico precoce
Como ainda não existe nenhum tratamento que permita recuperar a massa muscular desses doentes, já que sem a interrupção da doença que causa a caquexia a perda da massa muscular é continua e irreversível, o diagnóstico precoce é fundamental para melhorar a vida desses doentes enquanto convivem com a doença. Assim, o pesquisador visualiza um método simples para ajudar a comunidade médica no aumento da taxa de identificação da doença e consequente tomada de atitudes. Basta, segundo ele, verificar essa relação entre as atividades físicas espontâneas, como o simples ato de caminhar – um elemento do dia a dia das pessoas, com a perda de massa e força muscular.

A caquexia está relacionada a um aumento do consumo de energia do organismo devido a substâncias inflamatórias produzidas pelo tumor (no caso do câncer); provoca perda de peso, perda de massa muscular e está correlacionada a uma má resposta ao tratamento oncológico e ao aumento da mortalidade.

Os achados do médico André Filipe são muito importantes para a saúde dos idosos e não só a dos brasileiros. Pela sua tese de doutorado Correlação da atividade física espontânea com a composição corporal, a capacidade funcional e a qualidade muscular em idosos com caquexia associada ao câncer, defendida ano passado sob orientação do professor Eduardo Ferriolli no Departamento de Clínica Médica da FMRP, André ganhou uma bolsa para participar do décimo quarto Congresso Mundial da Associação Europeia de Cuidados Paliativos. O evento ocorreu de 8 a 10 de maio último em Copenhague, Dinamarca.

Resultado do projeto desenvolvido pelo geriatra foi a criação, em março de 2013, do Ambulatório de Oncogeriatria do Hospital das Clínicas da FMRP (HCFMRP). André conta que este é um serviço pioneiro no interior do estado de São Paulo e que, até o momento, já atendeu mais de 200 pacientes com idade acima de 65 anos. Este serviço, segundo o médico, tem como objetivo principal a assistência aos pacientes idosos com diagnóstico de câncer, mas também “permite a capacitação de novos médicos geriatras e oncologistas, na criação de um ambiente acadêmico para discussão de casos clínicos, no desenvolvimento de uma visão diferenciada junto aos médicos participantes e na criação de novas pesquisas clínicas na área”.