Nos dias 24 e 25/10, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS), o Programa Institucional de Apoio a Pesquisas e Políticas Públicas sobre Álcool, Crack e outras Drogas (PACD) da Fiocruz promoverá o Seminário Internacional Álcool, Saúde e Sociedade. O encontro abordará os aspectos epidemiológicos, históricos e culturais do consumo de álcool, assim como as políticas públicas no Brasil e na América Latina.
Realizado no auditório da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), o evento também tem como propósito discutir questões relacionadas às estratégias de marketing utilizadas pela indústria do álcool e a regulação do consumo, traçando um paralelo com a experiência de regulação do tabaco. Dentre os principais palestrantes estrangeiros, está o professor da Escola de Medicina da Universidade de Connecticut, Thomas Babor e a assessora sênior para álcool da Opas/OMS Maristela Monteiro. O encontro contará ainda com especialistas nacionais, com trabalhos ou estudos relacionados ao álcool e a outras drogas.
Leia MaisDiabetes: Fiocruz produz cristais de insulina e já pode produzir o medicamento
O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos) concluiu, recentemente, a produção dos primeiros cristais de Insulina Humana Recombinantedesenvolvidos pela equipe do laboratório de Bioprodutos, vinculada à Divisão de Biotecnologia, chefiada por Bárbara Ferreira. Com isso, a unidade adquire capacidade de reproduzir todas as etapas do processo de produção deste importante medicamento para pacientes diabéticos. A fabricação do hormônio por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é fruto de uma parceria para absorção da tecnologia entre o Instituto e a empresa Indar, da Ucrânia.
Desde 2006, Farmanguinhos vem negociando com a empresa do Leste Europeu. Em 2013, foi formalizada a Parceria para Desenvolvimento de Produto (PDP) entre as duas instituições. Segundo Bárbara Ferreira, o objetivo é internalizar a tecnologia de produção deste medicamento, a fim de garantir o abastecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), bem como gerar economia e autonomia ao país.
Leia MaisPrevenção do suicídio: saúde mental é tema negligenciado pela mídia
Ainda tabu na sociedade brasileira, o suicídio é um tema que costuma ser evitado pelos meios de comunicação, apesar de ser bem divulgado em casos de falecimentos de figuras públicas ou quando atrelado a mortes inusitadas ou trágicas. Mas, para além do tabu em si, qual seria o real motivo para a imprensa evitar falar sobre o tema e quais seriam as consequências do tipo de veiculação feita, muitas vezes associada ao sensacionalismo?
“A ideia de que a imprensa pode influenciar o suicídio não é recente. O romance Os sofrimentos do jovem Werther, publicado pelo escritor alemão Goethe em 1774, foi apontado como fonte de inspiração para mais de uma centena de suicídios cometidos por jovens na época”, explica a jornalista Juana Portugal, que defendeu especialização sobre o tema no curso de Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz). “A partir de então, iniciou-se o debate sobre o assunto e o tratamento do suicídio pela mídia foi visto como algo ‘contagioso’, que poderia ter na veiculação dessas notícias o principal fator desencadeador de uma espécie de ‘epidemia’ ”.
Leia MaisEncontro discute institucionalização de acervos privados
Um arquivo pessoal é realmente capaz de expressar a trajetória de uma pessoa? E, em uma coleção, como distinguir as obras que representam o interesse genuíno do proprietário das que simplesmente foram acumuladas ao longo dos anos? Os debates ocorridos no terceiro e último dia (16/9) do encontro Da minha casa para todos: a institucionalização de acervos bibliográficos privados responderam algumas dessas questões. Promovido pelo Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), o evento reuniu em Petrópolis especialistas renomados de diversas instituições brasileiras e do exterior, que discutiram como captar, selecionar, tratar e disponibilizar acervos bibliográficos de pessoas que tiveram destaque em suas áreas de atuação. A ideia é que, com a democratização do acervo, se possa contribuir com a memória coletiva, o patrimônio cultural, a pesquisa científica e a produção de novos conhecimentos.
A seleção de documentos foi abordada pela arquivista do Arquivo de História da Ciência do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), Maria Celina Soares de Mello e Silva, que ressaltou a necessidade de avaliação de quais documentos devem ser incorporados aos arquivos pessoais. Para tanto, ela explicou como funciona a Política de Aquisição do Mast, que há 30 anos busca disponibilizar os arquivos pessoais de cientistas até então inacessíveis.
Leia MaisSaúde do trabalhador: é preciso resistir à crise e defender os interesses dos profissionais
Três ícones da saúde do trabalhador no país integraram a mesa que debateu o tema durante a semana de comemorações dos 62 anos da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca: Anamaria Tambellini, Paulo Roberto Gutierrez e Luiz Carlos Fadel. Os convidados da mesa-redonda 1ª Conferência de Saúde do Trabalhador: 30 anos depois fizeram um grande apanhado histórico do que viveram naquela época, quais eram seus sentimentos em relação à política do país e relataram, ainda, o quanto lutaram para conquistar o que o país tem, atualmente, em termos de lei, organização, vigilância e equipamentos no campo da saúde do trabalhador. Na ocasião, o diretor da ENSP, Hermano Castro, fez uma homenagem à Anamaria Tambellini por toda sua história de luta e atuação no campo.
“A realização da 1º Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador foi uma grande vitória. Evoluímos, mas é preciso estar atento, pois estamos vivendo uma profunda crise econômica; o mundo inteiro está em estado de agressividade brutal, e o capitalismo segue manipulando mudanças nas regras e direitos conquistados pelos trabalhadores. Nem nos meus pensamentos mais caóticos, imaginei que passaríamos por situações iguais às já vividas no século XIX e anunciadas recentemente pelo novo presidente do país. Isso irá configurar uma situação de perda em todos os sentidos para a classe trabalhadora”, advertiu Ana, uma das organizadoras da 1º CNST.
Leia MaisAbrasco destaca suicídio como questão de saúde pública
O sol ainda não estava tão quente às 07h30 da manhã da quinta-feira dia 15 de setembro, na zona rural de Urupá – município distante 40 km de Porto Velho, capital de Rondônia, quando um mecânico de 24 anos tentou tirar a própria vida ingerindo doses de agrotóxico. Familiares de imediato tomaram o recipiente do mecânico e o conduziram até o pronto socorro da cidade onde o mesmo foi internado.
16 dias antes da tentativa do jovem mecânico rondoniense, às onze da manhã do dia 29 de agosto, um motoboy de 41 anos telefonou para uma amiga na manhã daquela segunda-feira, queria dizer adeus. Na chamada de poucos minutos, informou que cometeria suicídio dali a algumas horas e que ela ficaria sabendo mais tarde, pela televisão. Ligou então para sua mãe, de 94 anos, avisando que não levaria o filho, de 4 anos, à escola. Com o menino nos braços, o motoboy pegou um ônibus próximo de sua casa, na Vila Galvão, em Guarulhos, e seguiu até o Fórum Trabalhista Ruy Barbosa, na Zona Oeste de São Paulo. Era por volta das 10h50 quando encostou no balcão de um dos cartórios do fórum, pediu um pedaço de papel e uma caneta. Pelas imagens do circuito interno do fórum, é possível concluir que ele subiu até o 17º andar, atravessou uma faixa de isolamento, sentou-se no parapeito e, com o filho no colo, pulou.
Leia MaisBrasil tem menos mortes por poluição do ar que outros emergentes, mas ‘tendência é de piora
Um estudo divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) nesta terça-feira revela que 92% da população mundial vive em áreas que excedem os níveis de poluição recomendados. Os países pobres e em desenvolvimento são os que mais sofrem com o problema.
Dentre os emergentes do grupo Brics, o Brasil tem o desempenho menos negativo, com 14 mortes por ano ligadas à poluição do ar para cada 100 mil habitantes. China, Rússia, Índia e África do Sul têm respectivamente 70, 61, 68 e 39 mortes para cada 100 mil habitantes.
Leia MaisÉ possível ser ‘gordo’ e ao mesmo tempo estar em boa forma?
Mais de a metade da população brasileira (52,5%) está acima do peso. Deste percentual, 17,9% são obesos – segundo uma pesquisa divulgada no ano passado pelo Ministério da Saúde.Mas será que essas dezenas de milhões de brasileiros estão correndo riscos de saúde? Um dos indicadores mais comuns utilizados por especialistas para avaliar se uma pessoa tem ou não um peso saudável é o Índice de Massa Corporal (IMC).O IMC se baseia no seguinte cálculo: o peso da pessoa é dividido pelo quadrado de sua altura.De acordo com os especialistas, indivíduos com IMC entre 18,5 e 24,9 têm peso normal. Uma pessoa está acima do peso quando seu IMC atinge 25,0. E indivíduos com IMC a partir de 30,0 são classificados como obesos.
Leia MaisGoverno alerta viajantes para eliminação de criadouros Aedes aegypti
As medidas de combate ao Aedes aegypti devem ser reforçadas nas férias e festas de fim de ano, período marcado por chuvas em muitos estados do país e com maior circulação de pessoas. Para reforçar a importância de eliminar os focos do mosquito, o Ministério da Saúde recomenda aos viajantes que, antes de saírem de suas casas, façam uma vistoria para eliminar os recipientes que possam acumular água parada e servir como criadouro do mosquito.
“Se hoje não temos uma vacina para o zika, chikungunya ou dengue, ou alguma tecnologia inovadora pronta para ser utilizada imediatamente, a ação mais efetiva é eliminar os focos do mosquito Aedes aegypti. Por isso, é importante fazer um grande apelo à sociedade: antes de sair de férias, descarte corretamente latas, garrafas, embalagens de presentes, todo e qualquer recipiente que possa acumular água parada. Casa vazia não pode servir de criadouro do mosquito. Dessa maneira, com a ajuda de governos federal, municipal e toda a população, vamos fazer uma grande mobilização nacional para combater o mosquito”, reforçou o secretário de Vigilância em Saúde, Antônio Nardi.
Leia MaisCrise e ideologia levam famílias de classe média de volta à escola pública
Quando sua filha tinha quatro anos, a funcionária pública carioca Julia Sant’Anna tomou uma decisão que alguns integrantes de sua família e círculo de amigos viram com estranhamento: tirou a menina de uma escolinha particular para colocá-la em uma pública.
A decisão foi motivada por uma combinação de fatores. Por trabalhar na área de gestão escolar, Julia sabia que, apesar do sistema de ensino público brasileiro ainda ter inúmeros problemas, algumas escolas estão há algum tempo avançando na questão da qualidade – e que, perto da sua casa, em um bairro de classe média do Rio de Janeiro, havia vagas sobrando em uma instituição municipal com notas altas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb, criado em 2007 para medir a qualidade do ensino da rede pública).
Além disso, Julia queria que a filha fosse educada em um ambiente mais inclusivo e de mais diversidade. “Queria que ela desenvolvesse um senso de justiça, igualdade e cidadania”, diz.
Dois anos mais tarde, a carioca diz estar tão satisfeita com a decisão que também pretende matricular seu filho mais novo, hoje em uma creche privada, em uma escola pública.
“Até por trabalhar nessa área, há algum tempo eu já havia entendido que não é porque uma escola é pública que ela é ruim – e não é porque é privada que é boa”, diz Julia.
E esse não parece ser um caso isolado. Seja em função da crise econômica ou por, digamos, questões ideológicas ligadas a convicções pessoais – como essa busca por um ambiente educacional mais inclusivo e diverso –, está cada vez mais comum encontrar famílias de classe média que colocam os filhos em escolas públicas.
Segundo a Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro, de 2010 a 2015 a participação de estudantes provenientes de escolas privadas na rede pública do Rio subiu de 5,15% para 11,12%.
E só em 2015 o número de matrículas desses egressos da rede particular – em geral crianças de classe média – teria crescido 11,6%.
Em São Paulo, nos últimos cinco anos o número de alunos que passam da rede particular para a pública aumentou cerca de 30%, segundo a Secretaria de Educação, com o total de matrículas de crianças provenientes de escolas privadas saltando de 151,2 mil, em 2011, para 195,7 mil em 2015 (até agosto).
Estatísticas
Mas isso quer dizer que existe um fenômeno massivo de migração da rede privada para a pública? Não necessariamente.
Na realidade, como ressaltou recentemente um estudo de pesquisadores da UFRJ, dados do Censo Escolar do Inep (órgão de pesquisas ligado ao Ministério da Educação – MEC) sugerem que, ao menos até 2014, ocorreu o contrário. Ou seja, o número de matrículas na rede privada aumentou mais que o da rede pública no Brasil e em Estados como Rio e São Paulo.
“De fato não temos o controle sobre quantos alunos fizeram o caminho contrário, indo da escola pública para a privada”, admite Andrea Grecco, responsável pelo Departamento de Matrículas da Secretaria de Educação de São Paulo.
“Mas a questão é que, se houve uma maior migração de alunos de escolas privadas para as públicas, ao menos até 2014, o fluxo no sentido inverso foi ainda maior. Além disso, também é preciso entender como as tendências demográficas afetam a distribuição dos alunos. Uma das hipóteses é que a taxa de natalidade tenha caído mais rapidamente entre famílias mais pobres.”
Explicações possíveis
Uma das explicações possíveis para a história de Júlia e outros brasileiros de classe média que teriam optado por trocar a escola particular pela pública seria uma lenta e gradual mudança nas percepções sobre o ensino público, que há algumas décadas vinham se deteriorando.
“De fato muitos aspectos do dia a dia da escola pública me surpreenderam positivamente”, diz Julia. “Em algumas, há um grande engajamento da comunidade na tomada de decisões e solução de problemas. Ajudamos a definir como será a festa de fim de ano, por exemplo, e se houver algum desentendimento pedagógico interno você logo fica sabendo, ao contrário do que ocorreria em uma escola privada.”
Ela admite que, para matricular os filhos em uma escola pública, os pais de crianças provenientes de escola particular precisam flexibilizar algumas exigências. “Há pouco espaço para frescuras e alguns tipos de demanda. Vai ser difícil se você quiser que seu filho só tome suco de polpa de fruta ou orgânico, por exemplo.”
Mas, para ela, as vantagens vão muito além do alívio que é não ter de pagar mensalidade no fim do mês.
“Minha filha passou a conviver com uma diversidade maior de pessoas, tem colegas de todos os espectros sociais. Também nos livramos de alguns ‘tem que’ das escolas de classe média: ‘tem que’ ter a coleção de figurinha do personagem tal, ou ‘tem que’ fazer aniversário em salão de festa caro”, diz.
Para Carrasqueira, a possível mudança de percepções sobre o ensino público também é algo que ainda precisa ser investigado.
“Mas de fato algumas pessoas podem estar se dando conta de que, se seus filhos não estão em uma escola particular excelente, talvez possa fazer sentido buscar uma escola pública bem avaliada – ainda mais agora, quando muitos têm a renda familiar atingida pela crise”, diz ela. O secretario de Educação do Rio, Antônio José Vieira Neto, atribui essa possível redução da “resistência” da classe média à escola pública em parte a uma melhora da qualidade do ensino na rede. “Há uma revolução na escola pública”, defende, embora também haja quem refute que tenha ocorrido qualquer “salto de qualidade”.
Escolas referência
A maioria das famílias de classe média busca, como era de se esperar, escolas de referência ou que tenham altas notas nos sistemas de avaliação da rede pública.
Em algumas, como na escola municipal em que está a filha de Julia, sobram vagas. Em outras, a disputa é acirradíssima.
No último processo de seleção do Colégio de Aplicação da UFRJ, por exemplo, cerca de 3 mil candidatos disputaram menos de 90 vagas. Houve sorteio para decidir quem ficaria com as vagas em um auditório repleto de pais, que choravam emocionados se o nome do filho fosse anunciado.
Para 2016, o Colégio Estadual Chico Anysio, uma escola de referência carioca, recebeu 1.582 inscrições para suas 96 vagas, sendo 911 de alunos oriundos da rede particular.
Na comparação com o ano passado, a porcentagem de inscritos vindos de escolas privadas saltou de 23% para 58%.
Durante duas semanas, a BBC Brasil entrevistou alguns integrantes de famílias de classe média que colocaram os filhos em escolas públicas recentemente.
E um dado interessante é que boa parte dos entrevistados também disseram que ter morado no exterior – em países onde a classe média frequenta escolas públicas – teria lhes ajudado a “abrir a cabeça” para essa possibilidade.
A professora universitária Renata Wassermann é um exemplo. “Como morei na Europa, sempre achei estranho essa história de que muita gente no Brasil nem cogita escola pública, mesmo se a escola tem uma boa avaliação”, diz ela.
Há dois anos, Renata tirou seu casal de filhos, de 9 e 11 anos, de uma escola particular em São Paulo para colocá-los na Escola Municipal Desembargador Amorim Lima, no Butantã, porque “achou a filosofia da escola incrível”.
“Ela cobre o currículo nacional a partir de roteiros temáticos que perpassam todas as matérias. Cada criança escolhe a ordem dos temas que vai tratar e não há provas tradicionais. O professor corrige as fichas que são produzidas pelos alunos no fim de cada ‘roteiro'”, conta.
Também pesou na decisão de Renata o fato de ela ter se mudado com a família para uma casa perto da Amorim Lima e não estar muito satisfeita com a escola particular em que os filhos estavam.
Ela conta que, no início, seus filhos acharam a escola “meio bagunçada”. “Mas logo eles se adaptaram”, diz.
Crise
É claro que há muitos pais de classe média colocando os filhos em instituições públicas basicamente porque, por um motivo ou outro, precisam se livrar da mensalidade escolar.
Segundo Grecco, da Secretaria de Educação de São Paulo, por exemplo, em 2015 teriam aumentado muito as transferências de alunos da rede privada no meio do ano, provavelmente em função da crise econômica.
“Algumas famílias estão ficando sem condições de pagar a mensalidade”, avalia.
Para Mozart Ramos, diretor de articulação e inovação do Instituto Ayrton Senna (instituição que ajudou a desenvolver o modelo educacional do Colégio Chico Anysio), isso já era esperado.
“Hoje há escolas públicas excelentes, mas o desafio é expandir essa qualidade para a rede, ou seja, fazer as ilhas virarem arquipélagos”, diz.
“Por isso, não há como negar que, na média, a percepção geral ainda é de que a escola particular oferece melhor currículo, o que cria um movimento pendular nas matrículas: quando a população tem ganhos econômicos tende a levar os filhos para instituições privadas. Com a crise e o aumento do desemprego, o movimento é o contrário.”
A designer gráfica Suye Okubo está entre os que matricularam os filhos na rede pública por questões econômicas. Suye tinha um filho em escola particular, mas quando a filha nasceu, em meio a um processo de divórcio, não tinha condições de pagar uma segunda mensalidade. Foi quando ela ouviu de uma amiga a recomendação de uma creche pública nas proximidades da escola do filho e foi conferir.
“Hoje tenho uma filha em creche pública e um filho em escola particular, mas como as contas da família estão apertadas, penso em mudá-lo para a rede pública pelo menos por um ano para quitar dívidas e ter um alívio financeiro”, diz.
Para Suye, os dois sistemas de ensino têm suas vantagens e desvantagens. No geral, porém, ela considera a instituição em que está o filho, particular, melhor que a da filha, pública.
“A creche em que minha filha está tem várias qualidades. As professoras são dedicadas e carinhosas com as crianças e há mais diversidade entre os alunos – na sala de meu filho, na escola particular, não há um único negro, por exemplo”, diz.
“Mas também há problemas, embora nada grave, felizmente. Só para mencionar alguns exemplos: a burocracia é maior para tudo, você precisa apresentar atestado de que vai ter de trabalhar para levar a criança na escola em janeiro ou marcar hora para falar com funcionários. A alimentação também deixa a desejar – o cardápio inclui itens não saudáveis como salsicha e margarina.”
Impacto
Existe um debate sobre como um eventual retorno da classe média poderia impactar o sistema público.
Para alguns críticos, o risco é que esse movimento amplie a competição por recursos limitados, reduzindo a chance dos mais pobres conseguirem vagas em creches (que são limitadas) e nas escolas de melhor qualidade.
Para Maria do Pilar Lacerda, ex-secretária de educação básica do MEC, porém, o efeito seria um aumento da pressão por melhorias rápidas no sistema.
“No Brasil temos muitas crianças pobres cujos pais não estudaram. E em muitos casos, esses pais não têm repertório para participar dos debates sobre as mudanças nas escolas, nem sabem como pressionar por melhorias. A volta da classe média à escola pública tenderia a ajudar nesse ponto, o que pode ser um efeito inusitado da crise econômica”, defende a ex-secretária.
Ramos, do Instituto Ayrton Senna, e Vieira, secretário de Educação do Rio, concordam. “Os pais de classe média têm uma tendência maior de participação na escola. Eles já estavam acostumados a cobrar e acabam cobrando mais da diretoria e autoridades responsáveis – o que é ótimo para a escola”, diz Vieira.
Lacerda admite, porém, que seria interessante criar regras de acesso para impedir que algumas poucas escolas-modelo ou de boa qualidade sejam loteadas por integrantes da classe média, enquanto a qualidade de outras escolas fique estagnada.
“O interessante é ter uma mistura de todas as classes sociais. Toda a sociedade ganha com as crianças sendo educadas em um ambiente de maior diversidade”, opina.