A Rede de Pesquisa é organizada pela Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco) e financiada pelo Ministério da Saúde por meio do Departamento de Atenção Básica. Tem como apoiadores a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (Sbmfc) e Associação Brasileira de Enfermagem (Aben).
A Rede possui um comitê com 28 membros de 20 instituições, e a ENSP, em função das pesquisas desenvolvidas em atenção primária, faz parte dele. De acordo com Ligia Giovanella, o papel do comitê consiste em organizar as atividades da Rede para articular as instituições e promover a interconectividade entre os participantes, preparar fóruns de discussão e definir as orientações gerais da Rede e portal. Em sua página eletrônica, além de disponibilizar os resultados de pesquisa em APS, são difundidas metodologias e instrumentos de pesquisa, cadastro dos pesquisadores e a divulgação de eventos e editais relacionados ao tema.
"A ideia é valorizar a pesquisa em APS e torná-la mais visível, de forma a colocá-la na agenda de prioridades de pesquisa em saúde no país. Nossa expectativa, para além da difusão de resultados e metodologias, é que a Rede facilite a cooperação entre pesquisadores em APS contribuindo para o aprimoramento das pesquisas realizadas e propiciar interlocução entre pesquisadores e gestores, de modo que os resultados das pesquisas possam orientar a implementação de políticas e ações para a melhoria da qualidade da atenção e equidade em saúde."
Desafios da APS
Para Ligia Giovanella, representante da ENSP no comitê da Rede, uma grande preocupação é a interlocução entre pesquisadores e gestores para traduzir resultados de pesquisas em subsídios para a tomada de decisões, trabalhando na formulação e implementação de políticas em APS. "Entendo que parte dos problemas e desafios da atenção primária no país é inseparável dos caminhos e descaminhos trilhados pelo SUS, como o desfinanciamento crônico, as relações predatórias público-privadas, a mercantilização da atenção especializada, a baixa adesão da classe média, entre outros problemas." Além desses aspectos, conforme relatou a pesquisadora, existe ainda disputa sobre o próprio modelo de atenção primária, com conflitos entre os diferentes modelos assistenciais e a definição de quais serviços devem exercer o papel de primeiro contato e procura regular. "Também há grandes desafios para o trabalho em equipe, a integração da rede, a própria valorização profissional – com formação adequada – e as dificuldades na gestão do trabalho."
Para enfrentá-los, Ligia sugere melhorar o conhecimento e o desenvolvimento de pesquisas sobre o tema, sendo necessário ampliar os incentivos para a pesquisa em APS apesar do aumento no número de artigos e publicações nos últimos anos. "Ainda representamos uma parte pequena em relação ao financiamento de pesquisas em saúde no país. Para reverter o quadro, além de financiamento, são necessárias abordagens metodológicas múltiplas, diversidade de técnicas e categorias de análise, além da qualificação dos processos de divulgação dos resultados de pesquisa em APS, de forma que possam intervir na implementação", afirmou Ligia, que ainda ressaltou a importância da avaliação da qualidade na atenção primária com a intenção de verificar sua efetividade.
A Rede de Pesquisa em Atenção Primária brasileira tem despertado também o interesse de investigadores de outros países. No início de março, a pesquisadora participou de uma reunião no Ministério da Saúde de El Salvador sobre o programa global de pesquisa Revitalizando Salud para todos: Aprendiendo de experiências de atención primaria integral em salud, com grupos de pesquisa de El Salvador, Nicarágua, Argentina, Colômbia e Uruguai. "Esta foi uma atividade de um projeto global que envolve grupos de pesquisa de quatro regiões: América Latina, Ásia, África e Austrália/ Nova Zelândia, que pretende estudar e difundir experiências de atenção primária integral desenvolvidas segundo os princípios de Alma Ata. Os pesquisadores participantes na reunião interessaram-se em participar e pretendem se cadastrar na nossa Rede, o que pode trazer novas perspectivas para a discussão dos temas de interesse", destacou.
Para participar da Rede de Pesquisa em APS basta acessar o site www.rededepesquisaaps.org.br/. Mensalmente, a Rede organiza fóruns de debate em temas específicos. O próximo fórum de debates promovido pela Rede trará o tema Financiamento da APS.